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09/02/2001 - 04h02

Incor vai produzir material radioativo

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KÁTIA STRINGUETO, da Folha de S.Paulo

Um convênio que será assinado na próxima segunda-feira em São Paulo vai dar um novo impulso à medicina nuclear no país. O acordo reunirá o Incor (Instituto do Coração), o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e viabilizará a produção de material radioativo no hospital.

É a primeira vez que esse material será produzido fora do gerenciamento da CNEN. De acordo com a legislação brasileira, ela tem o monopólio da produção. O Ipen é um dos únicos centros autorizados para esse serviço.

Para seguir a lei e, ao mesmo tempo, impulsionar o crescimento da medicina nuclear no país (a capacidade de produção do Ipen é limitada), a idéia foi unir esforços.

"O Incor compra a máquina para produzir material radioativo e os técnicos do Ipen a operam, conforme a lei obriga. Ficamos com 10% da produção e o Ipen comercializa o restante", explica José Cláudio Meneghetti, diretor do serviço de radioisótopos do Instituto do Coração.

O acordo tem influência direta na saúde da população. A partir dele, o Incor terá a autorização para comprar o cíclotron, um acelerador de partículas que fabrica material radioativo -o de maior interesse é o flúor 18.

É por causa desse flúor que outro investimento se tornará possível: a aquisição de uma tomografia por emissão de pósitrons, ou simplesmente PET (sigla em inglês). Esse equipamento se alimenta de flúor para produzir imagens de alta precisão no diagnóstico de problemas oncológicos, cardiológicos e neurológicos.

Em casos de câncer, o exame pode dispensar a necessidade de biópsia. "Pela imagem de alta precisão pode-se ver se a massa tumoral é maligna (reflete muita luz) ou benigna (pouca luz). Se for benigna, não há necessidade de punção ou de retirar material para análise", diz Meneghetti.

No ramo da cardiologia, o PET permite saber se vale a pena revascularizar o músculo cardíaco ou não. Na neurologia, o uso do exame será útil para identificar focos de epilepsia quando o paciente não está em crise. Poderá ainda diferenciar o diagnóstico de demência, apontando se a causa do problema é o Mal de Alzheimer, por exemplo.

Tudo isso se deve à combinação do flúor 18 com a glicose. Ele dá a imagem e ela serve como guia no corpo, concentrando-se em áreas de maior atividade metabólica. "No caso do coração, se houver glicose é porque o músculo ainda tem vida e é possível recuperá-lo", explica Meneghetti.

Pela experiência de dois anos que já tem com um PET menos sensível, a equipe de medicina nuclear do Incor constatou que, quando esse recurso é utilizado, um terço das condutas médicas que seriam tomadas tendo por base a tomografia, a ressonância magnética e a ultra-sonografia mudam. É um instrumento a mais para o médico acertar na conduta.

Isso reflete em economia. Mas, principalmente, é um sofrimento a menos para o paciente. A operadora de telemarketing Renata Cristina Conceição Dias, 25, confirma. Fez PET três vezes por conta de um linfoma de Hodkin (tipo de câncer).

"Eu já tinha feito uma biópsia de medula que doeu muito. O médico
enfiava as agulhas na minha coluna para uma raspagem do osso e a anestesia não pegava ali. Fiz quimioterapia, melhorei, mas, depois de um tempo, os sintomas voltaram. Os médicos decidiram então fazer o PET para investigar o que estava acontecendo. Felizmente não era nada e não tive de fazer nova biópsia. O exame demorou duas horas, mas não foi desconfortável e eu até dormi".

Por tudo isso, a expectativa com o acordo de segunda-feira é das melhores. "Com o que recebemos hoje do Ipen só dá para usar o PET uma vez por semana, em cinco a sete pacientes", diz Meneghetti. "Compraremos o cíclotron para ter flúor duas vezes por dia, de segunda a sexta."
 

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