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17/02/2001 - 04h02

Programa antifome deixa estragar comida em Manaus

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KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em Manaus

Cerca de 1,5 tonelada de multimistura destinada ao PCCN (Programa de Combate às Carências Nutricionais) da Secretaria da Saúde de Manaus se estragou por falta de distribuição.

A multimistura é um composto alimentar, rico em nutrientes como ferro e cálcio, capaz de diminuir o índice de mortalidade infantil em consequência da carências nutricionais. O produto é feito pela Pastoral da Criança da Arquidiocese de Manaus.

Desde abril de 1999, a secretaria fornecia o alimento para 79 mil inscritos no programa (crianças, gestantes, idosos e pacientes em tratamento de tuberculose, hanseníase, câncer e Aids).

O produto estragado seria distribuído pelo programa a mulheres grávidas e idosos -um total de 2.600 pessoas. O composto era suficiente para um mês.

O alimento estragado estava no armazém da paróquia do Cristo Redentor, no bairro Alvorada 3, na zona centro-oeste. Segundo Marcina Chagas Alves, coordenadora da fabricação do composto, a mulitimistura foi produzida em agosto do ano passado e tinha três meses de prazo de validade.

"Avisamos muitas vezes, mas eles (coordenadores do PCCN) não vieram buscar a multimistura. O prazo de validade venceu em novembro", afirmou Marcina.

A coordenadora disse que o alimento estragado fazia parte da última remessa a ser entregue para o PCCN, resultado de uma parceria entre a Pastoral da Criança e a Prefeitura de Manaus.

De acordo com ela, a instituição era responsável pela compra dos ingredientes (farelo de trigo, gergelim, fubá e folhas secas de mandioca) e pela fabricação.

A distribuição da multimistura nas Unidades Básicas de Saúde e nas Casas de Saúde do Programa Médico da Família ficaria a cargo da Secretaria Municipal da Saúde.

"Como o composto é rico em nutrientes, fungos aparecem logo. Nosso trabalho foi jogado fora, e muitos, que necessitam da multimistura, perderam (o alimento)", afirmou Marcina.

Vigilância
No dia 31 de janeiro, conforme documento da Covisa (Coordenadoria de Vigilância Sanitária), o órgão retirou a multimistura do armazém da paróquia. Segundo o auto de apreensão, "o alimento estava impróprio para consumo humano pela validade vencida".

Ismar Lima dos Santos, gerente do programa, disse que a multimistura estragou por "falhas". "Existia uma morosidade da pastoral no repasse do produto para nós. Tivemos problemas também de transporte. Ambas as partes, portanto, falharam."

Santos afirmou que, antes do fim da validade, propôs ao organismo da igreja que ela distribuísse o complemento alimentar. "Mas ela não se interessou", disse.

A coordenadora regional da Pastoral da Criança da Arquidiocese de Manaus, Nádia Vettori, negou que houvesse ocorrido a oferta. "Essa proposta nós não recebemos. A multimistura foi fabricada para o programa. Era responsabilidade dele distribuir."

Das 44.288 crianças de 6 meses a 5 anos participantes do PCCN, 63% foram recuperadas da desnutrição com a multimistura, segundo relatório anual elaborado em outubro de 2000.

O programa recebeu repasse de R$ 795,4 mil do Ministério da Saúde. A desnutrição é responsável por 1,7% da mortalidade infantil no Brasil.
 

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