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24/02/2001
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04h49
ROGÉRIO PAGNAN, da Folha Ribeirão
O secretário de Estado da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, afirmou ontem, em entrevista à Folha, que a morte de 19 detentos na megarrebelião do último domingo foi "insignificante" se comparada à ação da Polícia Militar que deixou 111 presos mortos no Carandiru, em 1992.
Furukawa disse, ainda, que sabia da existência do PCC antes de assumir a
secretaria, em novembro de 99.
Leia, abaixo, trechos da entrevista concedida, ontem, antes de o secretário se reunir com representantes do sindicato dos agentes penitenciários, que ameaçavam entrar em greve.
Folha - Quando o senhor assumiu a secretaria, imaginava encontrar tantos problemas?
Nagashi Furukawa - Falei no meu discurso de posse: "Assumo com plena consciência do desafio dramático que teremos pela frente". Então, eu tinha plena consciência de que eu não vim aqui para um passeio.
Folha - Depois de tantos problemas, da megarrebelião, já pensou alguma vez em deixar o cargo?
Furukawa - Não... Não...
Folha - Nem a pedido da família?
Furukawa - Não. Eles não me pediram isso.
Folha - Entre (Mário) Covas e (Geraldo) Alckmin existe diferença? Porque parece que Alckmin está interferindo mais na secretaria.
Furukawa - Não... Não... Não... Os dois sempre tiveram a maior preocupação. É claro que o contato do Alckmin, agora, está sendo mais constante do que antes porque ocorreram maiores problemas e é algo natural.
Folha - Os agentes penitenciários afirmam que, quando entram em uma unidade, eles são revistados. Os advogados não são, e suspeita-se que eles possam estar levando coisas para dentro das unidades, já que nem todas possuem detector de metais. Alguma medida está sendo tomada?
Furukawa - A revista dos advogados a lei não permite.
Folha - Mas o senhor acredita que isso possa estar ocorrendo?
Furukawa - Não vou dizer isso. Não sei. Agora, detector de metal vai ter em todas as penitenciárias.
Folha - Hoje há condições de a secretaria assumir as cadeias públicas, ou esse plano foi suspensa após a megarrebelião ?
Furukawa - Não, está acontecendo. Tanto que ontem o governador (interino) Geraldo Alckmin assinou um decreto transferindo a cadeia de Sorocaba para a nossa secretaria.
Folha - Em Ribeirão Preto, o projeto de transformar a cadeia de Vila Branca, já administrada pela secretaria, em presídio feminino em janeiro ainda não saiu do papel.
Furukawa - Não aconteceu porque ainda não conseguimos fazer a reforma devido às dificuldades no processo de licitação, mas vai acontecer.
Folha - Em Ribeirão Preto, Araraquara e Hortolândia, foram identificados cerca de 20 líderes do PCC; o Gulu, que ameaça uma rebelião três vezes pior que a de domingo passado, está em Ribeirão Preto. Há condições para a transferência desse pessoal?
Furukawa - Eu não sei a situação individual de cada preso. Isso o diretor vai examinar. Se houver necessidade de transferência, vai transferir. Se não houver, não vai transferir. O diretor é quem vai analisar a situação.
Folha - O ex-diretor de Araraquara Leandro Pereira, vítima do resgate em janeiro, quando libertou cinco detentos, pode ser demitido? A determinação da secretaria é não libertar ninguém, morra quem morrer?
Furukawa - Isso (a determinação é essa). Foi aberta uma sindicância. O caso está sendo apurado. Provavelmente isso vai se transformar em um processo administrativo com direito de defesa. Ao final do processo, a comissão processante vai sugerir alguma medida, e eu vou analisar.
Folha - Quem define se ele vai ou não ser demitido?
Furukawa - A comissão processante propõe uma medida. Absolvição ou penalidade -advertência, suspensão ou a demissão. Se for proposta a demissão, a competência não será minha, será do governador do Estado. Se for proposto outro tipo de medida, aí a decisão será minha.
Folha - Depois das 19 mortes, que é um número muito alto...
Furukawa - Sim, é alto, mas comparado com outros episódios, é insignificante até. Porque, em 1992, uma rebelião só no pavilhão 9, só aqui (mostrando a foto do complexo afixada sob o vidro de sua mesa) morreram 111. E com uma nota ainda: dos 111, não me consta que alguém, algum preso tenha matado. Foi uma atuação policial inadequada. Agora, uma rebelião nesse local inteiro (mostrando a foto novamente) e em mais 24... 28 unidades no Estado morreram 19 pessoas. Mas dessas 19, seguramente 13 foram mortas por presos.
Folha - O senhor é a favor da pena de morte?
Furukawa - Não sou.
Folha - Falando em morte, o senhor não tem medo de morrer?
Furukawa - (Muda o tom, imposta a voz) A morte é a certeza inexorável da vida. Um dia vai chegar. Espero que chegue mais tarde (ri).
Folha - É verdade que são cerca de sete seguranças com o senhor e mais cinco em sua casa, onde haveria até guarita?
Furukawa - Não tem guarita nenhuma lá (ri). O que foi falado, ontem, é que talvez seja bom colocar uma segurança na minha casa em Bragança (Paulista), daqui para frente. Mas sou secretário há um ano e meio e nunca teve nenhum segurança na porta da minha casa.
Folha - Aqui em São Paulo está tendo?
Furukawa - Aqui existe uma assistência militar. Não fui eu quem pediu. Já existia na secretaria, que tem essa incumbência de me transportar, de se preocupar com minha segurança.
Folha - O senhor disse (durante a coletiva) que o que mais o magoou foi a reportagem dizendo que o senhor fez um acordo com o PCC, de mencionarem uma carta com cinco páginas...(interrompe)
Furukawa - A carta veio. A carta está aí. Na carta, eles pedem algumas coisas do tipo dedetizar a Casa de Detenção, encaminhar mais rapidamente o material de limpeza. Isso tudo eu mandei para o órgão competente aqui da nossa secretaria para que verifique se falta material de limpeza. Se estiver faltando é para atender. Isso é normal. Em todas as penitenciárias eu falo com presos. Então, eu falo com criminosos. Porque se não fossem criminosos não estariam lá. Agora, não tem o menor sentido imaginar -que é um bruta de um pecado- o secretário da Administração Penitenciária não poder falar com preso. O que faz o secretário? O secretário administra uma situação de centenas, milhares de presos.
Folha - Essa acessibilidade, essa maneira mais liberal teria gerado a acusação?
Furukawa - Não é mais liberal, essa é uma postura necessária. O secretário tem que falar com preso. Agora ele vai chegar numa penitenciária, sentar num ar-condicionado da sala do diretor e dar por encerrada a visita? Não tem o menor sentido uma coisa dessas. Eu tenho que ouvir os presos, até para saber qual é o clima existente, se está tudo em ordem. Agora, se fazem reivindicações- "olha, está faltando material de limpeza"- e eu mando atender, quer dizer que eu fiz um acordo com o crime? O que que significa uma coisas dessas?
Folha - Quando o senhor ficou sabendo que existia o PCC?
Furukawa - Lá em 1982, havia uma organização que se chamava Serpentes Negras. E esse zunzunzum aí, de que existe: o PCC, seitas satânicas, CDL, não sei quem mais, antes de eu vir aqui para a secretaria eu já sabia. Obviamente eu não conhecia isso de perto, só via as notícias nos jornais. Mas nunca duvidei disso, não. Em todo lugar, a formação desse grupos é algo que acontece. É anormal se não acontecer. Até em seminários de padres deve ter liderança.
Folha - Quando o senhor ficou sabendo definitivamente da existência do PCC?
Furukawa - Eu sou juiz há vinte anos. Durante sete anos eu fui juiz da Vara da Infância e da Juventude. Por 13 anos fui juiz criminal e juiz de execução penal, embora eu não tivesse sido juiz onde tivesse penitenciária, eu fui juiz onde tinha cadeia pública. Mas o fato da existência desses grupos atuando nas cadeias e nas penitenciárias é algo que eu nunca ignorei.
Folha - E o PCC, foi depois de assumir?
Furukawa - Não, o PCC era muito comentado, muito antes de eu ser secretário. Tanto que o secretário que me antecedeu também removeu vários presos para o Estado do Paraná.
Folha - O que representa hoje o PCC para a secretaria?
Furukawa - O PCC é um grupo que nasceu aí por volta de 1993, que cresceu e que precisa ser desmontado.
Folha - Tem alguma tática sem ser as transferências?
Furukawa - Tem e eu não vou contar para você (ri).
"Nunca ignorei" o PCC, afirma Furukawa
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O secretário de Estado da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, afirmou ontem, em entrevista à Folha, que a morte de 19 detentos na megarrebelião do último domingo foi "insignificante" se comparada à ação da Polícia Militar que deixou 111 presos mortos no Carandiru, em 1992.
Furukawa disse, ainda, que sabia da existência do PCC antes de assumir a
secretaria, em novembro de 99.
Leia, abaixo, trechos da entrevista concedida, ontem, antes de o secretário se reunir com representantes do sindicato dos agentes penitenciários, que ameaçavam entrar em greve.
Folha - Quando o senhor assumiu a secretaria, imaginava encontrar tantos problemas?
Nagashi Furukawa - Falei no meu discurso de posse: "Assumo com plena consciência do desafio dramático que teremos pela frente". Então, eu tinha plena consciência de que eu não vim aqui para um passeio.
Folha - Depois de tantos problemas, da megarrebelião, já pensou alguma vez em deixar o cargo?
Furukawa - Não... Não...
Folha - Nem a pedido da família?
Furukawa - Não. Eles não me pediram isso.
Folha - Entre (Mário) Covas e (Geraldo) Alckmin existe diferença? Porque parece que Alckmin está interferindo mais na secretaria.
Furukawa - Não... Não... Não... Os dois sempre tiveram a maior preocupação. É claro que o contato do Alckmin, agora, está sendo mais constante do que antes porque ocorreram maiores problemas e é algo natural.
Folha - Os agentes penitenciários afirmam que, quando entram em uma unidade, eles são revistados. Os advogados não são, e suspeita-se que eles possam estar levando coisas para dentro das unidades, já que nem todas possuem detector de metais. Alguma medida está sendo tomada?
Furukawa - A revista dos advogados a lei não permite.
Folha - Mas o senhor acredita que isso possa estar ocorrendo?
Furukawa - Não vou dizer isso. Não sei. Agora, detector de metal vai ter em todas as penitenciárias.
Folha - Hoje há condições de a secretaria assumir as cadeias públicas, ou esse plano foi suspensa após a megarrebelião ?
Furukawa - Não, está acontecendo. Tanto que ontem o governador (interino) Geraldo Alckmin assinou um decreto transferindo a cadeia de Sorocaba para a nossa secretaria.
Folha - Em Ribeirão Preto, o projeto de transformar a cadeia de Vila Branca, já administrada pela secretaria, em presídio feminino em janeiro ainda não saiu do papel.
Furukawa - Não aconteceu porque ainda não conseguimos fazer a reforma devido às dificuldades no processo de licitação, mas vai acontecer.
Folha - Em Ribeirão Preto, Araraquara e Hortolândia, foram identificados cerca de 20 líderes do PCC; o Gulu, que ameaça uma rebelião três vezes pior que a de domingo passado, está em Ribeirão Preto. Há condições para a transferência desse pessoal?
Furukawa - Eu não sei a situação individual de cada preso. Isso o diretor vai examinar. Se houver necessidade de transferência, vai transferir. Se não houver, não vai transferir. O diretor é quem vai analisar a situação.
Folha - O ex-diretor de Araraquara Leandro Pereira, vítima do resgate em janeiro, quando libertou cinco detentos, pode ser demitido? A determinação da secretaria é não libertar ninguém, morra quem morrer?
Furukawa - Isso (a determinação é essa). Foi aberta uma sindicância. O caso está sendo apurado. Provavelmente isso vai se transformar em um processo administrativo com direito de defesa. Ao final do processo, a comissão processante vai sugerir alguma medida, e eu vou analisar.
Folha - Quem define se ele vai ou não ser demitido?
Furukawa - A comissão processante propõe uma medida. Absolvição ou penalidade -advertência, suspensão ou a demissão. Se for proposta a demissão, a competência não será minha, será do governador do Estado. Se for proposto outro tipo de medida, aí a decisão será minha.
Folha - Depois das 19 mortes, que é um número muito alto...
Furukawa - Sim, é alto, mas comparado com outros episódios, é insignificante até. Porque, em 1992, uma rebelião só no pavilhão 9, só aqui (mostrando a foto do complexo afixada sob o vidro de sua mesa) morreram 111. E com uma nota ainda: dos 111, não me consta que alguém, algum preso tenha matado. Foi uma atuação policial inadequada. Agora, uma rebelião nesse local inteiro (mostrando a foto novamente) e em mais 24... 28 unidades no Estado morreram 19 pessoas. Mas dessas 19, seguramente 13 foram mortas por presos.
Folha - O senhor é a favor da pena de morte?
Furukawa - Não sou.
Folha - Falando em morte, o senhor não tem medo de morrer?
Furukawa - (Muda o tom, imposta a voz) A morte é a certeza inexorável da vida. Um dia vai chegar. Espero que chegue mais tarde (ri).
Folha - É verdade que são cerca de sete seguranças com o senhor e mais cinco em sua casa, onde haveria até guarita?
Furukawa - Não tem guarita nenhuma lá (ri). O que foi falado, ontem, é que talvez seja bom colocar uma segurança na minha casa em Bragança (Paulista), daqui para frente. Mas sou secretário há um ano e meio e nunca teve nenhum segurança na porta da minha casa.
Folha - Aqui em São Paulo está tendo?
Furukawa - Aqui existe uma assistência militar. Não fui eu quem pediu. Já existia na secretaria, que tem essa incumbência de me transportar, de se preocupar com minha segurança.
Folha - O senhor disse (durante a coletiva) que o que mais o magoou foi a reportagem dizendo que o senhor fez um acordo com o PCC, de mencionarem uma carta com cinco páginas...(interrompe)
Furukawa - A carta veio. A carta está aí. Na carta, eles pedem algumas coisas do tipo dedetizar a Casa de Detenção, encaminhar mais rapidamente o material de limpeza. Isso tudo eu mandei para o órgão competente aqui da nossa secretaria para que verifique se falta material de limpeza. Se estiver faltando é para atender. Isso é normal. Em todas as penitenciárias eu falo com presos. Então, eu falo com criminosos. Porque se não fossem criminosos não estariam lá. Agora, não tem o menor sentido imaginar -que é um bruta de um pecado- o secretário da Administração Penitenciária não poder falar com preso. O que faz o secretário? O secretário administra uma situação de centenas, milhares de presos.
Folha - Essa acessibilidade, essa maneira mais liberal teria gerado a acusação?
Furukawa - Não é mais liberal, essa é uma postura necessária. O secretário tem que falar com preso. Agora ele vai chegar numa penitenciária, sentar num ar-condicionado da sala do diretor e dar por encerrada a visita? Não tem o menor sentido uma coisa dessas. Eu tenho que ouvir os presos, até para saber qual é o clima existente, se está tudo em ordem. Agora, se fazem reivindicações- "olha, está faltando material de limpeza"- e eu mando atender, quer dizer que eu fiz um acordo com o crime? O que que significa uma coisas dessas?
Folha - Quando o senhor ficou sabendo que existia o PCC?
Furukawa - Lá em 1982, havia uma organização que se chamava Serpentes Negras. E esse zunzunzum aí, de que existe: o PCC, seitas satânicas, CDL, não sei quem mais, antes de eu vir aqui para a secretaria eu já sabia. Obviamente eu não conhecia isso de perto, só via as notícias nos jornais. Mas nunca duvidei disso, não. Em todo lugar, a formação desse grupos é algo que acontece. É anormal se não acontecer. Até em seminários de padres deve ter liderança.
Folha - Quando o senhor ficou sabendo definitivamente da existência do PCC?
Furukawa - Eu sou juiz há vinte anos. Durante sete anos eu fui juiz da Vara da Infância e da Juventude. Por 13 anos fui juiz criminal e juiz de execução penal, embora eu não tivesse sido juiz onde tivesse penitenciária, eu fui juiz onde tinha cadeia pública. Mas o fato da existência desses grupos atuando nas cadeias e nas penitenciárias é algo que eu nunca ignorei.
Folha - E o PCC, foi depois de assumir?
Furukawa - Não, o PCC era muito comentado, muito antes de eu ser secretário. Tanto que o secretário que me antecedeu também removeu vários presos para o Estado do Paraná.
Folha - O que representa hoje o PCC para a secretaria?
Furukawa - O PCC é um grupo que nasceu aí por volta de 1993, que cresceu e que precisa ser desmontado.
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