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07/03/2001 - 23h02

Mulher depois dos 45 anos: uma geração "boa de cama"

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da Folha de S.Paulo, em Campinas

Uma pesquisa realizada com 452 mulheres campineiras entre 45 anos e 60 anos revelou que 68% delas mantêm uma vida sexual ativa. Dessas, 86% obtêm prazer na relação. Mais: em 78% dos casos de abstinência, o motivo é o parceiro, seja por falta de um ou por doença dele.

A principal razão desse desempenho na cama _ apontada pelo ginecologista Valdir Tadini, autor da tese "Sexualidade no Climatério", defendida na Unicamp (Universidade Estadual Paulista)_está na adolescência dessas mulheres, que foi pontuada pela revolução sexual dos anos 60.

"Elas nasceram entre 1937 e 52 _no "baby boom" do pós-guerra_e, em sua maioria, eram adolescentes na década de 60."

Essas mulheres viveram sob o regime militar, de censura política e cultural, mas também de rebeldia juvenil, de festivais musicais de protesto, de "Novos Baianos" e idéias de "amor livre". A maioria das entrevistadas (55%) teve a primeira relação antes dos 19 anos.

"Elas viveram o 'sexo, drogas e rock and roll', foram as primeiras a usar minissaias e contar com a pílula", ressalta o pesquisador.

De acordo com essa análise, Tadini argumenta que o grande feito da pesquisa é provar que a manutenção da vida sexual da mulher durante a menopausa está mais relacionada a fatores psicossociais do que orgânicos.

"Não dá para extrapolar para todo o país, porque Campinas é uma cidade moderna", avisa.

Feminina
Tadini enfatiza que a "rebeldia" das jovens no Brasil, nos anos 60, não foi igual à de outros países.

"A revolução sexual no mundo foi masculinizada. No Brasil, foi feminina", afirma. "Nossos ícones tinham um caráter mais feminino. Não eram uma Betty Friedan (líder feminista), não queimavam sutiãs. Tínhamos Vanderléia e Leila Diniz chocando com seu biquíni."

No entanto a sexualidade das campineiras pode ser comparada à de países escandinavos e à da Austrália, que seriam "culturas extremamente liberais".

Se as mulheres hoje na menopausa conseguem elevada frequência e prazer na vida sexual, o mesmo pode não acontecer com suas filhas. "A geração seguinte já enfrenta a Aids", comenta.

Corpo
Segundo a pesquisa, fatores como dor na relação, tempo de menopausa, seja natural ou cirúrgica (quando o útero é retirado), secura vaginal e obesidade não têm influência quando o assunto é sexo.

Um parceiro fixo é apontado como determinante. "As mulheres com união estável apresentaram 30 vezes mais chances de manutenção da vida sexual", diz.

Além disso, pertencer a classes sociais mais elevadas tem peso três na pesquisa. Isso significa que as mulheres com maior poder aquisitivo têm três vezes mais chances de manter a vida sexual.

As que fazem uso de hormônios apresentam duas vezes mais chances de manter a atividade.

Mas trabalhar ou não fora de casa não faz diferença, segundo o pesquisador, na manutenção da vida sexual, assim como a religião abraçada ou a cor da pessoa.

Outro ponto abordado pela pesquisa é a frequência com que as mulheres vão para a cama. A conclusão do pesquisador é que o número de relações sexuais das mulheres na menopausa não é pequeno. A maioria das pesquisadas (56%) afirmou ter de uma a cinco relações por mês. "Mas um número significativo, 29%, disse ter de 5 a 10 relações por mês. É a média da população adulta jovem (de 20 anos a 40 anos), que tem oito relações por mês, segundo uma pesquisa de 1976", explica Tadini.

"Essa geração é poderosa. O poder de sedução é muito maior do que o de uma Tiazinha. Se uma mulher resolve dar em cima de um homem, ele está frito."

Prazer
O prazer no sexo não é privilégio de algumas mulheres: 86% obtêm. Dessas, 34% disseram ter prazer sempre e 52%, às vezes.

Tadini relaciona entre os fatores que influenciam no prazer na menopausa, o fato de a mulher não ter que se preocupar com uma gravidez indesejada. Segundo ele, ter um orgasmo também depende da autopercepção da mulher sobre o seu estado de saúde.

"A mulher que está se sentindo saudável tem dez vezes mais chances de obter prazer na relação. As que disseram achar que têm estado de saúde regular apresentaram cinco vezes mais chances", declara.
Ter maior escolaridade também _o que leva a maior conhecimento do corpo também faz diferença.

"A mulher pode estar falida de hormônios, mas se ela tem uma boa formação, está bem resolvida quanto ao seu papel e se acha uma pessoa saudável, vai dar show de bola", conclui.

Fumo
Sexo e cigarro, segundo a pesquisa, não combinam. As não-fumantes têm cinco vezes mais chances de manutenção da atividade e de ter prazer.

Abstinência
Em 78% dos casos, o motivo da abstinência sexual das mulheres é não ter um parceiro ou ele estar doente. "A mulher de 45 anos hoje é um avião. Os fatores hormonais ficam à parte. O homem é que não conseguiu acompanhar."

"A maioria em abstinência tem reclamação do parceiro. Seja pela falta de cuidado do homem, que não vai ao médico, está obeso, ou porque não consegue ter relação duas vezes por semana", conta Tadini.

O trabalho do ginecologista é o primeiro na América Latina, com base populacional, sobre sexualidade. O primeiro passo para o estudo foi a realização da pesquisa, um questionário de 250 perguntas aplicado a 452 mulheres de 82 setores censitários de Campinas, em 1997.

O questionário foi validado em cidades dos EUA, Sudeste Asiático e México.
Com a pesquisa, o médico conseguiu desenvolver um trabalho que contemplava uma necessidade da medicina, que é a discussão da sexualidade, e também, segundo Tadini, fez frente à concepção de que o climatério é um período da vida em que a mulher é assexuada. "Quebramos dois tabus de uma vez só", comemora.

 

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