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09/03/2001 - 18h47

Só campanha publicitária amplia doação de órgãos, diz médico inglês

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EDMILSON ZANETTI
Da Agência Folha, em São José do Rio Preto

O Brasil só vai aumentar o número de doadores de órgãos por meio de campanhas, especialmente as feitas pelas igrejas. A opinião é do cirurgião britânico Paul McMaster, 57, um dos maiores especialistas do mundo em doenças do fígado.

Ele chefia a Unidade de Fígado e Vias Biliares do Queen Elizabeth Hospital, uma das referências mundiais no assunto. Sua equipe já realizou mais de 2.000 transplantes em 20 anos.

O número é quase quatro vezes o que o Brasil realiza por ano. No Brasil, 3.400 pessoas engrossam a fila de espera para um transplante a cada ano, mas só 600 conseguem. Cerca de 30% morrem na fila.

McMaster anuncia que, em 20 anos, será possível transplantar órgãos de animais geneticamente mudados para seres vivos.

O cirurgião foi um dos convidados do 1º Simpósio Internacional sobre Doenças Hepáticas e Transplante de Fígado do Oeste Paulista, que reuniu de quarta-feira até ontem, em São José do Rio Preto.

Agência Folha - O que é possível fazer para aumentar o número de doadores de órgãos no Brasil, especificamente de fígado?
Paul McMaster - A taxa de doadores no Brasil é uma das menores do mundo. As pessoas não entendem que, se alguém morrer, é uma oportunidade única de ajudar alguém que está doente.
Agência Folha - O que é preciso para mudar essa mentalidade?
McMaster - Campanhas. O transplante só pode ser feito com apoio da comunidade. O que conta é a vontade de ajudar. As campanhas das igrejas no mundo inteiro fazem a diferença.
Agência Folha - Como poderiam ser essas campanhas?
McMaster - Na Inglaterra, os líderes das igrejas são encorajados a incentivar as pessoas a participarem.
Agência Folha - O que a medicina está preparando para diminuir a necessidade de transplante de fígado?
McMaster - Tentamos prevenir as pessoas para que não fiquem doentes. Uma das principais causas é o álcool.
Agência Folha - Que outros cuidados devem ser tomados?
McMaster - Controlar a hepatite B e a hepatite C. O governo tem um programa de vacinação para bebês, contra hepatite B, mas para hepatite C não tem vacina. Ela é epidêmica e está se espalhando pela América do Sul.
Agência Folha - Alguns médicos defendem que, mesmo que se captem todos os órgãos disponíveis, ainda assim o número será insuficiente para atender as necessidades de transplante. Qual a perspectiva da medicina de utilizar órgãos de animais em seres humanos?
McMaster - O ideal seria o transplante de órgãos de animais, mas é alto o risco de infecção. Mas isso será possível daqui a 20 anos. Na 1ª Guerra Mundial, 9 milhões de pessoas morreram. Em 1995, 13 milhões de pessoas morreram por causa de vírus, que podem ter vindo de animais.
Agência Folha - Seriam animais geneticamente modificados?
McMaster - Sim. Eles vão mudar geneticamente para evitar rejeição. É nisso que estamos trabalhando hoje.
Agência Folha - Poderia ser a solução definitiva para os transplantes?
McMaster - Talvez, mas as chances de sucesso hoje são relativamente pequenas.
Agência Folha - Existe idade limite para ser doador ou receptor de fígado?
McMaster - Não. Desde um bebê com 2 kg até uma pessoa de 75 anos.
Agência Folha - Quais os resultados dos transplantes de fígado?
McMaster - No meu país, 75% vivem bem pelo menos cinco anos. Alguns são mais saudáveis que os médicos.
Agência Folha - No caso de doador vivo, quais são os riscos para quem doa?
McMaster - Na Inglaterra não fazemos transplante entre vivos. Temos um programa ativo de transplante com cadáveres. Em muitos países essa técnica está sendo desenvolvida. Um risco são as infecções. O outro, muito pequeno, é o doador morrer.
Agência Folha - Se não existe consciência coletiva de doação no Brasil, o transplante inter vivos não seria uma saída para diminuir a fila de espera?
McMaster - Eu espero que aumente primeiro o transplante com mortos.
Agência Folha - O senhor vê falhas na estrutura de captação no Brasil?
McMaster - Poderia ser melhor. Por que o Brasil tem o melhor time de futebol? Porque são jogadores bons individualmente e se juntam em equipe. No Brasil existem excelentes unidades de transplantes, mas deveriam trabalhar como um time.
Agência Folha - Quanto anos pode viver uma pessoa que recebeu um fígado de outra?
McMaster - Começamos nosso programa em 1981. Três dos cinco transplantes que fizemos naquele ano estão bem até hoje. O problema são os três primeiros meses.
 

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