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18/03/2001 - 12h00

Preso morre em disputa por liderança em presídio paulista

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ROGÉRIO PAGNAN
da Folha Ribeirão

A disputa pela liderança da Penitenciária de Araraquara entre facções criminosas -PCC (Primeiro Comando da Capital) e CDL (Comissão Democrática de Liberdade)- terminou com a morte do detento José Ferreira dos Santos, 29, ligado ao CDL.

A morte ocorreu no final da tarde de anteontem no pavilhão B, considerado o principal foco da rebelião do último dia 4, quando parte do prédio foi destruído, e um funcionário foi feito refém.

De acordo com agentes penitenciários que trabalham com os presos, Santos é apontado como o autor da morte de três membros do PCC em outras unidades do Estado e sua morte seria uma vingança da facção.

O detento Márcio Adriano da Silva, 28, acusado pela morte de Santos, foi isolado dos outros detentos. Não foi informada qual é a pena que ele cumpre no local.

De acordo com a polícia, Silva estava de posse das chaves das celas e tinha livre acesso dentro do pavilhão, inclusive à cela onde estava a vítima. As chaves estavam em poder do detento desde a última rebelião.

Agentes penitenciários afirmaram que algumas chaves desaparecidas durante a tumulto continuam em poder dos detentos, o que estaria causando insegurança aos presos e à unidade.

O homicídio registrado anteontem foi o segundo da unidade sob a administração de Jorge Bento de Camargo. A morte ocorreu no sexto tumulto ocorrido no local desde que o diretor assumiu a prisão. O presidente do sindicato dos agentes penitenciários, João Batista Pancioni, afirmou que a postura da secretaria de querer "misturar" as facções é uma medida equivocada e outras mortes poderão ocorrer.

De acordo com a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, Santos foi transferido da Penitenciária do Estado após a megarrebelião. Santos, ainda segundo a secretaria, foi um dos principais responsáveis pela destruição da unidade e esse teria sido o motivo de sua transferência.

Agentes penitenciários, no entanto, afirmaram que ele teria vindo de uma penitenciária de Presidente Venceslau, onde teria praticado um dos homicídios contra membros da facção rival.

A secretaria informou, também, que desconhece a existência de chaves em poder dos detentos, e que o preso teve acesso à outra cela devido a problemas ocorridos nas grades após a rebelião do dia 4. O diretor da penitenciária foi procurado ontem para comentar o assunto, mas ele afirmou -por intermédio de sua secretária- que não daria explicações sobre o caso.

"Gestão Camargo" tem 2ª morte e 6º tumulto

A Penitenciária de Araraquara registrou anteontem sua segunda morte do ano e seu sexto tumulto desde que o diretor Jorge Bento de Camargo assumiu a unidade, no lugar de Leandro Pereira, há menos de dois meses.

Pereira foi afastado por ter libertado irregularmente cinco presos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), no dia 28 de janeiro. Durante a ação de resgate, nove pessoas foram feitas reféns, sendo sete da família do ex-diretor. Camargo, que assumiu o cargo em Araraquara no dia 29, estava afastado da direção da Penitenciária de Ribeirão Preto, onde ficou como diretor-geral até o final de setembro.

Agentes penitenciários de Araraquara e Ribeirão afirmaram que Camargo foi afastado do cargo porque se recusou a receber presos vindo de outras localidades do Estado e membros do PCC.

O diretor afirmou, no mês passado, que seu afastamento da direção de Ribeirão ocorreu por problemas particulares. "Eu pedi umas férias e depois um dias de licença para resolver alguns problemas", afirmou à época.

A Secretaria de Estado da Administração Penitenciária informou que o afastamento de Camargo ocorreu sem motivo específico e faz parte de procedimentos normais da secretaria.

Além dos homicídios, a Penitenciária de Araraquara registrou outros quatro tumultos -entre eles duas rebeliões e uma fuga.

Camargo foi apontado por agentes penitenciários e policiais militares de ter feito acordo com os líderes do PCC durante as revistas na unidade após a megarrebelião de fevereiro.

Em decorrência desse acordo, funcionários da penitenciária se recusaram a retornar ao trabalho e 22 pediram licença. Um deles chegou a abandonar o trabalho após a negativa da direção.

A Folha tenta há duas semanas ouvir o diretor, mas funcionários afirmaram que ora ele está em reunião, ora conversando com presos e não poderia atender à reportagem. Camargo não retornou as ligações do jornal e não atendeu a reportagem pessoalmente, mesmo a Folha tendo sida autorizada pela Secretaria de Estado da Administração Penitenciária a entrar na unidade.
 

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