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19/03/2001 - 03h46

Engenheiro diz que projeto de plataforma pode ter erro

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DANIELA MENDES, da Folha de S.Paulo

Especialista em estruturas oceânicas, Segen Estefen, 50, é engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, sua cidade natal. Na Noruega, fez pós-doutorado nessa área. Na Inglaterra, estudou uma plataforma com estrutura semelhante à P-36, da Petrobras.

Sua defesa de doutorado foi sobre colunas de sustentação de plataformas -como aquela em que provavelmente ocorreram as explosões na P-36, na bacia de Campos. Diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Estefen diz que pode ter ocorrido um erro de projeto na P-36, que foi comprada pela Petrobras na Itália e reformada num estaleiro canadense.

"Um bom projeto deve prever que uma plataforma não vá afundar mesmo quando há uma avaria", diz Estefen.

Folha - A estrutura da P-36 é segura?
Segen Estefen -
A estrutura em si é segura e só se torna vulnerável depois que ela tem uma avaria. O ponto crítico dessas estruturas semi-submersíveis são as colunas porque são estruturas muito esbeltas. Como têm diâmetro muito grande e espessura relativamente pequena, estão sujeitas a um fenômeno da flambagem.

Folha - O que é flambagem?
Estefen -
É quando você comprime uma estrutura esbelta e ela pode, após esse nível de compressão, vir a falhar, vir a ter um colapso.

Folha - Pode ser o que aconteceu com a P-36?
Estefen -
É. As colunas, além de sustentarem os conveses, dão a flutuabilidade necessária para a embarcação. A explosão afetou a coluna, deve tê-la danificado muito, e com isso a plataforma perdeu a flutuabilidade naquela coluna.

Folha - O Sindicato dos Petroleiros acusa a Petrobras de não ter instalado determinados aparelhos de segurança. Isso é possível?
Estefen -
Hoje, nas áreas de automação e controle, a evolução tem sido muito rápida. Mas, considerada a hipótese de ter vazado gás, numa plataforma daquele tamanho não é possível ter sensores em todos os pontos.

Folha - O senhor acredita que o pessoal terceirizado da Petrobras tem tido treinamento suficiente para operar uma plataforma?
Estefen -
A Petrobras tem elevado muito a produção de petróleo, e nos preocupa que não tenha sido aumentado o contingente de trabalhadores, independentemente de serem terceirizados ou não. Tem alguma coisa errada em uma companhia que busca a auto-suficiência do país e não contrata engenheiro há dez anos.

Folha - O que poderia ter causado o acidente na P-36?
Estefen -
Há um ponto vulnerável que tem de ser checado. Por que nesse local que é tão vulnerável -se a explosão foi dentro da coluna é algo controverso; pode ter sido próximo- passava uma tubulação de gás?

Folha - Poderia ser um erro de projeto?
Estefen -
Poderia ser um erro do acoplamento do projeto estrutural ao projeto da planta e às instalações da plataforma, como alojamento. Outra coisa que tem de ser checada é a verificação da estabilidade em avaria. Um bom projeto de engenharia deve supor que essa plataforma não vá afundar, mesmo com uma avaria séria de uma das colunas. As outras três deveriam, pelo menos, garantir a flutuabilidade. Esse poderia ser um projeto fora dos padrões de qualidade disponíveis hoje.

Folha - Pode ter acontecido porque ela foi uma plataforma convertida?
Estefen -
Pode. Essa plataforma foi certificada pelo registro naval italiano. Na apuração disso, deve também ser investigado por que ela ganhou uma certificação se ela não atendia aos critérios de estabilidade em avaria.

Leia especial sobre as explosões na plataforma da Petrobras
 

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