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01/04/2001 - 09h30

Empresas do país gastam mais em segurança do que em filantropia

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CÉLIA CHAIM
da Folha de S.Paulo

Com uma kombi adaptada e oito professores de educação física da Universidade Federal do Ceará, o holandês Onno Raadsen, 34, está tirando 500 crianças carentes das ruas na periferia de Fortaleza.

A organização criada por ele com o nome de Fundação Tio Loiro atende crianças da mais pobre periferia da capital do Ceará -Pirambu, Planalto das Goiabeiras e Barra do Ceará-, numa média de 500 por semana. Com o Tio Loiro, as crianças jogam bola, fazem exercícios, praticam surfe, participando de um projeto que tem como objetivo ressocializá-las e fazer com que passem a frequentar a escola.

A má notícia que essas crianças estão para receber é que em abril Tio Loiro, sem dinheiro para manter o projeto (R$ 60 mil no primeiro ano, em razão da compra de materiais), volta para a Holanda em busca de parcerias que não encontrou no Brasil, e o projeto pode ser suspenso.

Foi um patrocinador holandês que permitiu a ele dar um novo alento às crianças da favela de Pirambu. No Brasil, o máximo que Raadsen conseguiu foi a festa de Natal do ano passado, cortesia do empresário Paulo Meireles, da Sertões Off Road.

Ele volta para seu país disposto a retornar ao Brasil em outubro, depois de convencer outras fundações da importância de ajudar crianças e adolescentes banidas da sociedade brasileira.

Raadsen tem argumentos poderosos: as crianças com as quais convive na periferia são em geral desnutridas, miúdas, personagens das estatísticas que estimam em 30 milhões o número de indigentes no país, pessoas que ganham menos de US$ 1 por dia.

As empresas brasileiras, segundo a Kanitz Associados, empresa de consultoria do professor Stephen Kanitz, gastam em média US$ 4 bilhões por ano em segurança patrimonial e pessoal de seus executivos, ou seja, US$ 333,3 milhões por mês, e apenas R$ 5 mil por mês em filantropia.

Os argumentos das organizações não-governamentais para atrair parceiros e/ou patrocinadores são quase sempre indiscutíveis, mas ainda não parecem convincentes o bastante para estimular a ajuda financeira. O Brasil não tem milionários como o norte-americano Ted Turner, fundador da Cable News Network (CNN), que doou US$ 1 bilhão, ao longo de dez anos, a programas da ONU de ajuda a crianças e refugiados.

Segundo a Receita Federal, a média de doações e contribuições é de R$ 23 por ano, para os 5 milhões de brasileiros que pagam Imposto de Renda. Há uma grande massa de doadores de alimentos, roupas usadas, brinquedos de segunda mão, brasileiros de classe média com boa vontade.

Ajuda, mas não basta, como mostra a experiência de Marilda Tereza dos Santos, que há 20 anos se dedica à organização Ação Social Largo 13, na zona sul de São Paulo, com a missão de dar assistência e prestar serviços sociais e educacionais à população formada em sua maioria por migrantes nordestinos.

A Largo 13 enfrentou o regime militar, que derrubou sua sala no Jardim Santo Antônio. Sobreviveu e, depois de oito anos de obras, com a renda de bingos e bazares e ajuda da instituição alemã Kinder Mission Weinqr, conseguiu inaugurar sua sede e levar adiante as atividades, que custam R$ 580 mil por ano, dos quais 40% são provenientes da prefeitura municipal (na gestão de Luiza Erundina, a prefeitura garantia 80%).

Ainda assim, por falta de dinheiro, não consegue tirar da gaveta o projeto "arte e educação", que tem um custo estimado de R$ 18 mil por ano. "Não conseguimos atingir empresas", diz Marilda.

Numa das mais povoadas regiões de São Paulo, a Largo 13 atende pessoas e famílias de baixa renda -com até meio salário mínimo de renda per capita- residentes na região sul e municípios vizinhos.

Entre os seus programas de assistência, estão o de educação infantil, atendendo a 230 crianças de 0 a 6 anos e 11 meses em período integral, com atividades de educação pré-escolar, esporte, lazer e cultura, educação para a saúde e fornecendo-lhes cinco refeições diárias. Noventa crianças com idades entre 7 e 14 anos integram o programa de educação infanto-juvenil, em período semi-integral.

Pessoas com mais de 50 anos participam de atividades ocupacionais terapêuticas, recebem orientação para prevenção de doenças e para melhoria de seus hábitos alimentares, além de programas de desenvolvimento cultural e atividades de lazer. "Não temos parceria com nenhuma empresa", lamenta Marilda.

Falta um fundo público de financiamento para as organizações não-governamentais, segundo Silvio Caccia Bava, fundador e pesquisador do Pólis, Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais, fundado como organização sem fins lucrativos em 1987, em São Paulo.

Um de seus principais projetos é o "alternativas contra a fome", de reeducação alimentar que, implantado nas creches municipais de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, trouxe resultados favoráveis em relação à redução da desnutrição, aumento de peso, maior concentração e, principalmente, uma drástica redução de medicamentos ministrados às crianças.



 

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