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01/04/2001 - 09h52

Questões sobre o voluntariado 2

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da Folha de S.Paulo

O que o voluntariado pode fazer para superar limites sociais, como a desigualdade de renda?

Ruth Cardoso

Nunca os voluntários tiveram como objetivo resolver os problemas básicos do país. Nossa desigualdade é uma herança pesada que não será eliminada em curto prazo nem por qualquer tipo de ação isolada. Os voluntários somam-se a programas, governamentais ou não, que de modo coordenado procuram oferecer condições para uma melhor qualidade de vida. Muitos desses programas estão voltados para as populações de baixa renda e buscam qualificar os mais pobres para que possam aumentar sua renda e participar ativamente da sociedade. Mas cabe lembrar que o espaço do trabalho voluntário não é apenas o de promoção dos mais pobres, mas que está presente também na área da cultura, do conforto e apoio aos doentes, ou ainda na área de educação, onde tem importante papel na complementação do trabalho da escola

Cândido Grzybowski

Muita coisa. Voluntários podem participar de cursos e treinamentos, dar assistência técnica, desenvolver soluções de gestão econômica. Podem ser os professores em classes de alfabetização de adultos. Podem cooperar em trabalhos escolares. Podem assistir empreendimentos de economia informal e solidária para que se viabilizem ou se fortaleçam, tanto com técnicas de produção e processos de gestão, como em termos de cálculo de custos e preços de venda. Podem ajudar conselhos participativos na gestão de políticas públicas de crianças e adolescentes, trabalho e renda, crédito, saúde etc.

Luiz Carlos Merege

Eu acho que os profissionais que hoje fazem ações voluntárias, principalmente o pessoal capacitado, estão de certa forma melhorando as condições de trabalho das organizações. Como eles não têm renda, não recebem salário, e as organizações estão trabalhando para melhorar a geração de renda, isso permite que os recursos financeiros arrecadados possam ser canalizados para as pessoas que realmente necessitam.

Francisco B. Tancredi

Ao envolver um número crescente de pessoas, pode ajudar a construir novos paradigmas de participação cidadã, solidariedade e justiça social. Esses valores tanto contribuem numa ação voluntária direta (por exemplo, um empresário que participa de um programa de formação de valores com jovens) como em ações não diretamente relacionadas ao trabalho voluntário de cada um (o empresário passará a ter uma percepção diferente da sua responsabilidade social, da sua relação com os empregados e consumidores).

Luis Norberto Pascoal

O voluntário deve agir de forma pró-ativa, ou seja, buscar soluções estratégicas que ampliem a dimensão da sua ação. É muito importante salientar que, em qualquer processo que envolva o voluntariado, a educação deve ser trabalhada, passando valores éticos e cidadãos. Desigualdades de renda só serão superadas em longo prazo com cidadãos educados e capacidade crítica.

Oded Grajew

À medida que o voluntariado ajuda a conscientizar a sociedade da necessidade de promover mudanças sociais estruturais, a apoiar a organização das pessoas para que lutem para melhorar suas condições de vida, a promover ações que resultem em políticas públicas que priorizem a justiça social e o aprofundamento da democracia, essa forma de voluntariado acaba superando limites sociais e contribuindo para diminuir a desigualdade de renda.

Sérgio Haddad

Entendo que a ação voluntária e solidária sobre os impactos sociais de uma sociedade desigual e injusta é base para que as pessoas tomem consciência, a partir do seu trabalho, sobre os limites desse tipo de ação. Apesar de nobre e de aliviar as consciências, o trabalho assistencial minora os efeitos da desigualdade, mas não a supera. A tomada de consciência sobre os limites leva as pessoas a buscarem outro tipo de intervenção, mais coletiva, de impacto sobre os direitos dos cidadãos e sobre as estruturas injustas da nossa sociedade.

Stephen Kanitz

Em primeiro lugar, o voluntário deve atuar em entidades próximas à sua casa. A primeira responsabilidade do cidadão é reduzir as diferenças de renda no próprio bairro em que mora. É um contra-senso alguém morar no próprio bairro com enormes diferenças de renda. Resolvido isso, o próximo passo seria resolver os problemas mais amplos. Mas primeiro você precisa resolver os problemas de sua própria comunidade, até para ter credibilidade. Como é que você vai se candidatar a um cargo público se não conseguiu resolver os problemas de sua própria comunidade? É a questão do fortalecimento dos laços da comunidade. É inviável ser voluntário em Timor Leste ou no Amapá, porque são oito horas de viagem. O Estado é que tem que resolver esse tipo de problema.

Zilda Arns

Tem duas maneiras. Uma é fortalecer o tecido social, a qualidade humana das pessoas desde antes de nascer. Tem que começar pela criança, porque o potencial da criança se projeta a partir de ela ser concebida, amamentada, educada e depois ter acesso a escola, lazer, fraternidade, música, arte e tudo que ela precisa para desenvolver o seu potencial humano. É necessário envolver a mulher como principal agente de transformação. De outra parte, atrair políticas públicas para bolsões de miséria como prioridade absoluta. Levando cultura, saúde, educação para trabalho, haverá igualdade de oportunidade para minimizar a desigualdade de renda. O tecido social organizado tem mais força política, vai votar melhor e vai atrair mais políticas públicas.




 

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