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04/06/2007 - 22h13

Homem fica 44 dias preso por crime cometido antes de seu nascimento em GO

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FELIPE BÄCHTOLD
da Agência Folha

Um pedreiro passou 44 dias preso em Goiânia por causa de um crime ocorrido quatro anos antes de ele nascer.

O detido, João Batista Rodrigues da Silva, é homônimo do verdadeiro acusado por um homicídio, o que provocou o engano de policiais militares e civis.

Silva ficou preso na Casa de Prisão Provisória de Goiânia, local que abriga 1.240 detidos que aguardam julgamento. O erro só foi percebido quando ele ia ser liberado por um outro motivo --a prescrição do crime.

No momento da liberação, agentes repararam que documentos do preso indicavam mês e ano de seu nascimento: novembro de 1985. O homicídio que era a ele atribuído ocorreu em maio de 1981, também em Goiânia.

O alvará que traria a liberdade, porém, acabou o prejudicando. Como o documento não se referia ao João Batista preso --e sim ao homônimo acusado do crime-- ele foi obrigado a ficar mais 21 dias na prisão.

A situação só foi resolvida no dia 25 de maio, quando um juiz expediu um alvará de soltura se referindo expressamente ao pedreiro, mencionando a idade e a filiação dele.

No alvará, o juiz responsável, Antônio Fernandes de Oliveira, ironizou a situação, que classificou como "kafkiana" --o adjetivo, relativo ao escritor Franz Kafka (1883-1924), evoca a obrigação de provar inocência sem a existência de nenhuma prova incriminatória.

O juiz disse que Silva foi submetido a essa situação por ser um "joão-ninguém". "É um joão-ninguém, como tantos que devem existir por aí nos presídios da vida. Quantos condenados não passam por isso também?", disse à Folha.

"Rotina"

O pedreiro foi preso em 11 de abril pela Polícia Militar em uma "abordagem de rotina", segundo expressão da PM, a moradores de um bairro da periferia de Goiânia.

Ao checar as informações de Silva com a central da corporação, policiais constataram que havia um mandado de prisão --em aberto desde 1995-- contra uma pessoa com o mesmo nome. Ele foi levado à Delegacia de Capturas da Polícia Civil e, mais tarde, transferido para a Casa de Prisão Provisória.

A direção da Casa de Prisão Provisória diz que a situação era "anômala", e que não poderia liberar o preso quando o equívoco foi percebido porque o primeiro alvará de soltura não se referia ao homem que estava preso.

A Polícia Civil afirma que Silva não fez nenhuma reclamação aos agentes durante as poucas horas em que ficou detido.

Ligações da cadeia

O assessor do juiz que concedeu o alvará de soltura, Tomaz Rangel, disse que Silva fez diversas ligações da cadeia para a Vara Criminal da cidade pedindo informações sobre os motivos de sua prisão. Nos telefonemas, ele se dizia inocente. Foi aconselhado a procurar um defensor público.

Segundo o Tribunal de Justiça de Goiás, o pedreiro vive em Goiânia e não chegou a constituir advogado. Ele não foi localizado pela Folha nesta segunda-feira.

O paradeiro do João Batista Rodrigues da Silva acusado de fato pelo homicídio, que se livrou do processo com a decisão da Justiça de considerar o crime prescrito, permanece desconhecido.

 

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