23/06/2000 - 14h58

Febem de Campinas tem número de fugitivos maior que o de internos

LÍGIA MORELI, da Folha Campinas

A unidade da Febem de Campinas (antiga Unipai), inaugurada este ano, já conta com um número de fugitivos maior que o de internos atualmente. Em seis meses de funcionamento, 67 adolescentes fugiram e somente três voltaram para a unidade. Uma média de 11 fugas por mês. Hoje 40 internos estão presos.

A última fuga ocorreu nesta quinta-feira (22) por volta das 21h. Treze adolescentes armados com facas fugiram após renderem os coordenadores. A unidade, que já foi considerada modelo pelo governo do Estado, tem capacidade para 72 adolescentes e tem 42 funcionários trabalhando.

Desde a sua fundação, em 12 de janeiro deste ano, já foram registradas 14 fugas. Somente nos últimos dois meses, 30 adolescentes escaparam.

O secretário estadual da Assistência e Desenvolvimento Social, Edson Ortega, informou, por meio de assessoria de imprensa, que vai se reunir com a diretoria de segurança da Febem para discutir o problema da unidade.

De acordo com a assessoria, o secretário pretende analisar relatórios e ouvir os funcionários da unidade de Campinas para decidir que medidas podem ser tomadas para evitar novas fugas.

Três dos adolescentes que fugiram ontem estavam armados com facas e renderam os coordenadores Luís Henrique de Faria, Alessandro Garcia Leite e Márcio Aurélio Selymes.

Enquanto os internos armados mantinham os monitores como reféns, os outros retiraram uma das telas de proteção, escalaram e pularam o muro da unidade.

Segundo a Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, três adolescentes foram recapturados hoje em Valinhos. A secretaria informou não ter o número de recapturados da unidade. Esta não foi a primeira vez que adolescentes conseguiram render funcionários durante uma fuga utilizando armas.

No dia 23 de maio, dois adolescentes fugiram após atirarem contra os monitores. Ninguém ficou ferido. Na fuga de ontem, também não houve feridos.

Segundo a polícia, uma pessoa que estava do lado de fora da unidade jogou um pacote contendo um alicate e a arma que foram utilizados pelos adolescentes.

Em uma outra fuga registrada em maio, oito adolescentes conseguiram fugir agredindo os coordenadores com pedaços de madeira, pedras e estiletes.

No início o projeto, a Febem de Campinas seguiu o mesmo modelo de atendimento terceirizado que fracassou na unidade de São José do Rio Preto, que foi a primeira a adotar o novo modelo no Estado, sendo inaugurada em setembro do ano passado e fechada em outubro após fuga e princípio de rebelião.

Até março, a unidade de Campinas era administrada pela Abba (Associação Batista Beneficente Assistencial), mas a direção da Febem interveio alegando que a Abba não tinha prática para lidar com os adolescentes infratores.

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