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24/06/2007 - 09h01

Passageiros criam kits "relaxa e goza" para espera em aeroportos

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DANIEL BERGAMASCO
ITALO NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

"Relaxa e goza!!!", gritava a rodinha de decepcionados na sala de embarque do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), quando, às 2h30 da madrugada de sexta-feira, uma funcionária anunciou que o vôo para Recife só sairia às 11h40 da manhã.

"E isso porque o primeiro horário era 22h20", reclamava a fisioterapeuta Caroline Duarte, 26, que tentou manter o bom humor. "Obedeci a ministra", brinca, aos risos, em referência à já histórica frase de Marta Suplicy, titular da pasta do Turismo, sobre o caos aéreo ("Relaxa e goza, porque você esquece todos os transtornos depois").

O kit "relaxa e goza" de Gabriela era improvisado: algumas bananas para o lanche e um saco de lixo de 40 litros fazendo as vezes de lona. "Superdesconfortável, né?"

Já a professora Charmaine Queiroga, 34, se equipou melhor: "Estou com um iPod para mim, outro para o meu filho, videogame, Gameboy, uma cruzadinha, dois livros e várias revistas. Venho dos Estados Unidos e tenho de fazer conexão em São Paulo para o Recife. Sabia que estava atrasando e decidi me precaver", diz.

A frase de Marta tem feito escola. Em uma mesa da Pizza Hut do aeroporto, o casal Ana Maria e José Martins Guedes mais a amiga Teresa Scaraboto tomam um chopinho às 11h. "Vamos para Ilhéus e estou tão feliz que nada vai tirar meu bom humor", diz Ana Maria.

"Viemos no espírito da Marta. Um padre amigo nosso não pôde vir porque, se o vôo atrasasse, seria pecado", brinca José, ainda de bom humor.

E já que o atraso é inevitável... Rumo a Nova York, em lua-de-mel, João Moura Jr. e Bruna improvisaram uma cama no aeroporto: acomodaram-se entre os bancos e as malas. "É superdesconfortável, mas não tem outro jeito", diz ele, que ainda não sabia se o seu vôo iria atrasar.

Bíblia e Paulo Coelho

Junio Miguel, 16, que viaja a Londres para intercâmbio, levou uma Bíblia. "Pulei várias e várias partes e agora já estou no Apocalipse", diz ele.

O amigo Deivid Oliveira, 23, lia "O Alquimista", de Paulo Coelho. "Não é nada, assim, tãããão interessante, mas quebra o galho", comenta.

E o saldo do relaxa e goza na drogaria do aeroporto: "Viagra e preservativo não tiveram aumento de procura. A venda de remédio para dor de cabeça aumentou 30%", informa o farmacêutico Enivaldo Nogueira.

Enquanto alguns passageiros se descabelam discutindo com funcionários das empresas aéreas e da Infraero a cada capítulo do caos aéreo que abate aeroportos do país, no Rio de Janeiro, também há quem tente seguir parte do conselho da ministra e, assim, relaxar.

A fisioterapeuta Deise Duarte, 50, considera a sugestão da ministra "totalmente fora de propósito", mas usava técnicas para relaxar durante as 12 horas que ficaria no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão), no Rio.

"Acabo usando meus conhecimentos para passar o tempo. Faço exercícios, alongamentos para agüentar", disse ela, girando a cabeça como exemplo. Segundo ela, a espera prejudica articulações e a circulação de sangue. "É bom não ficar sentado o tempo todo", lembra.

Ela foi buscar a filha Rayana Duarte, 17, que havia chegado dos Estados Unidos e, juntas, seguiriam para Vitória (ES). Duas horas antes do horário inicialmente previsto para o embarque, a companhia já tinha avisado que haveria atraso de, ao menos, uma hora.

Preparadas, elas tiraram um laptop da mala de Rayana para ver as centenas de fotos tiradas durante os seis meses em que a estudante ficou nos Estados Unidos. "A gente toma um cafezinho, caminha, vê a vitrine de algumas lojas e espera o tempo passar", disse Deise.

Algumas lojas tiveram aumento nas vendas desde o início do caos aéreo nos aeroportos. Outras, nem tanto. A vendedora de um quiosque de perfumaria do Galeão, Denise Abranches, 40, afirma que as vendas não aumentaram, mas muitos "passam para dar uma olhadinha". "Acaba sendo uma oportunidade para mostrar os nossos produtos", diz.

Leitura é outro recurso utilizado pelos passageiros que optam por relaxar durante a espera com tempo indeterminado. Com vôo marcado para Curitiba (PR) às 18h e, duas horas antes, já com um atraso previsto de uma hora, a empresária Suzy Garofani, 50, muniu-se de revistas de jardinagem para matar o tempo. Três revistas.

"Isso mostra como não estou nada otimista em relação à saída do meu vôo", disse. "Estou com um livro na mala, mas revista é uma leitura mais leve, mais adequada para estes momentos de tensão", sugeriu.

Brincadeiras com os filhos

Para três vendedores de assinaturas de revistas, cujo quiosque fica em frente à entrada para a sala de embarque, os passageiros parecem não querer relaxar com a leitura.

"Tem muita gente que sai da fila de check-in e acaba discutindo com a gente, descontando. Acaba que não mudou nada na venda de assinaturas", comentou Fabiana Paz, 22.

Um dos maiores desafios é distrair as crianças. Acompanhada dos quatro filhos, a autônoma Alessandra Oliveira, 32, descansava após brincar com os filhos enquanto esperava o embarque para Fortaleza -até as 15h de quinta-feira, cinco horas atrasado. "A gente pega esses carrinhos, corre, brinca, grita. Tudo para distrair as crianças. Senão não tem jeito."

 

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