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30/06/2001
-
02h27
RICARDO FELTRIN
Editor de Cotidiano da Folha Online
Após dez dias de julgamento, o coronel Ubiratan Guimarães deixou ontem o fórum da Barra Funda da mesma forma que entrou: livre, sem algemas e, talvez, sem culpa alguma pela morte de 102 presos em 2 de outubro de 1992.
No final dos trabalhos processuais, logo antes da preparação da sentença, o coronel de 58 anos, em um terno marrom impecável, aparentava tranquilidade na sala do júri. Nem uma gota de suor no rosto de quem afirma ter agido estritamente no próprio dever profissional.
Fisicamente, Guimarães era o oposto dos jurados, que demonstravam esgotamento _um deles, cujo nome não foi divulgado, ouvia a juíza encolhido na cadeira estofada, como se não suportasse mais estar ali.
Após ouvir a sentença e o anúncio de seu advogado, de que iria recorrer, Guimarães deixou o fórum e foi para sua casa, com a mulher, o filho e amigos que não o abandonaram nos últimos dez dias.
É provável que o "recurso" do advogado Vicente Cascione seja um simples pedido de anulação do julgamento. Desde o início ele dava a entender que via inconstitucionalidade no processo. Pode ter sorte na empreitada jurídica.
Mas, enquanto isso, em vez de responder todas as perguntas, o julgamento levantou novas:
1) Afinal, em que momento foi decidida a invasão do pavilhão 9 e por quem?
2) Quem deu a primeira ordem de atirar?
3) Por que a Rota foi chamada para entrar no pavilhão antes dos policiais treinados para isso? Afinal, a Rota é o ostensivo braço da PM (como o próprio nome diz), destinada ao patrulhamento das ruas;
4) Se o massacre não foi premeditado, como a defesa apontou, por que não surgiu nenhuma voz de comando determinando um cessar-fogo? Uma Polícia Militar sem obediência e sem líder?
5) Uma última: se os detentos realmente enfrentaram os PMs, que armas eles usaram? Paus e pedras? Pelo menos nenhum policial foi ferido à bala ou com gravidade.
Quase nove anos depois da chacina do Carandiru, a condenação de um coronel apenas não basta. Faltam respostas.
Leia mais sobre o massacre do Carandiru.
Nove anos depois, um condenado e muitas perguntas sem resposta
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Editor de Cotidiano da Folha Online
Após dez dias de julgamento, o coronel Ubiratan Guimarães deixou ontem o fórum da Barra Funda da mesma forma que entrou: livre, sem algemas e, talvez, sem culpa alguma pela morte de 102 presos em 2 de outubro de 1992.
No final dos trabalhos processuais, logo antes da preparação da sentença, o coronel de 58 anos, em um terno marrom impecável, aparentava tranquilidade na sala do júri. Nem uma gota de suor no rosto de quem afirma ter agido estritamente no próprio dever profissional.
Fisicamente, Guimarães era o oposto dos jurados, que demonstravam esgotamento _um deles, cujo nome não foi divulgado, ouvia a juíza encolhido na cadeira estofada, como se não suportasse mais estar ali.
Após ouvir a sentença e o anúncio de seu advogado, de que iria recorrer, Guimarães deixou o fórum e foi para sua casa, com a mulher, o filho e amigos que não o abandonaram nos últimos dez dias.
É provável que o "recurso" do advogado Vicente Cascione seja um simples pedido de anulação do julgamento. Desde o início ele dava a entender que via inconstitucionalidade no processo. Pode ter sorte na empreitada jurídica.
Mas, enquanto isso, em vez de responder todas as perguntas, o julgamento levantou novas:
1) Afinal, em que momento foi decidida a invasão do pavilhão 9 e por quem?
2) Quem deu a primeira ordem de atirar?
3) Por que a Rota foi chamada para entrar no pavilhão antes dos policiais treinados para isso? Afinal, a Rota é o ostensivo braço da PM (como o próprio nome diz), destinada ao patrulhamento das ruas;
4) Se o massacre não foi premeditado, como a defesa apontou, por que não surgiu nenhuma voz de comando determinando um cessar-fogo? Uma Polícia Militar sem obediência e sem líder?
5) Uma última: se os detentos realmente enfrentaram os PMs, que armas eles usaram? Paus e pedras? Pelo menos nenhum policial foi ferido à bala ou com gravidade.
Quase nove anos depois da chacina do Carandiru, a condenação de um coronel apenas não basta. Faltam respostas.
Leia mais sobre o massacre do Carandiru.
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