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15/07/2001
-
05h27
ALESSANDRO SILVA
da Folha de S.Paulo
Os presos do complexo do Carandiru levaram 30 anos aperfeiçoando planos de resgates subterrâneos, por meio de túneis escavados de fora para dentro, até conseguirem acertar duas fugas recorde em apenas sete meses.
Em dezembro passado, fugiram 35 detentos. A fuga de 106 presos, há uma semana, foi a maior da história do sistema prisional paulista por baixo da terra.
E não seria diferente: o presídio está no meio da cidade de São Paulo, rodeado por unidades da polícia. Por isso, a dificuldade de fazer um simples túnel para ultrapassar as muralhas ou de organizar uma invasão armada.
Há registros de detentos recapturados, desde a década de 80, saindo das tampas de inspeção ao redor do complexo, mas nenhum como o de domingo passado, quando os fugitivos usaram quatro quilômetros da rede pluvial, embaixo de movimentadas avenidas, para se afastar dali e evitar a prisão pela polícia.
Até agora, dos 106 fugitivos, apenas 30 foram recapturados. A maioria dos fugitivos foi condenada por homicídio e roubo.
O primeiro grande ''tatu'' _o túnel da fuga, na gíria dos presos_ data de 1971. Foi descoberto por acaso, porque vizinhos da prisão estranharam a movimentação de novos moradores do bairro e avisaram a polícia.
''A entrada ficava ao lado do balcão de um bar. Você descia dois metros e meio, mais ou menos, por uma escada e dava até para ficar em pé no túnel'', lembra Luiz Camargo Wolfman, 70, que, na época, era diretor penal da Penitenciária do Estado _o presídio onde haveria a fuga.
Os assaltantes Walmir Vieira Azevedo e Omar Bandeira de Souza, então cumprindo pena no pavilhão 3, foram apontados pela polícia como os financiadores do plano de escavação.
Eles tinham contratado um estelionatário, ex-reeducando do Carandiru, para executar a operação. Essa pessoa, conhecida como Professor, alugou três imóveis na avenida Zaki Narchi, em frente à Penitenciária do Estado.
O túnel saía de um bar, uma das casas servia como depósito de terra e a outra era ponto de observação. Logo que a passagem estivesse pronta, os detentos sairiam por ela e seriam resgatados.
Requinte
Calcula-se que o grupo de resgatadores levou aproximadamente três meses para abrir o buraco. Dentro dele havia iluminação e sistema de ventilação.
"O 'tatu' passava por baixo de duas casas, atravessava a avenida [Zaki Narchi] e estava chegando à primeira muralha da penitenciária", disse Wolfman.
Nos anos seguintes, os detentos fizeram inúmeras tentativas de fuga por túnel, bem-sucedidas ou não, testando os pontos vulneráveis. Só neste ano houve 31 ocorrências desse tipo.
Em maio de 96, 51 detentos desapareceram por uma passagem subterrânea que dava para uma casa na rua Antonio dos Santos, na lateral do pavilhão 7 da Casa de Detenção _o maior presídio do complexo do Carandiru.
Na época, a polícia investigou a participação no plano de um engenheiro que cumpriu pena no mesmo pavilhão. A energia elétrica do presídio e até um macaco hidráulico foram usados.
Entre todas as tentativas, a lateral da avenida Ataliba Leonel pareceu ser o local mais vulnerável. É por ali que saíram 35 detentos em dezembro do ano passado e 106 no último domingo, aproveitando as rede de galerias pluviais.
O plano, nos dois casos, foi o mesmo: abrir um túnel sob a muralha, de fora para dentro, a partir da tubulação de concreto que passa embaixo da avenida.
Em três décadas, a operação se repetiu várias vezes. Em abril deste ano, a Polícia Militar encontrou uma escavação saindo de uma casa alugada, do lado da avenida Zaki Narchi, rumo ao pavilhão 8 da Casa de Detenção.
O "tatu" de 42 metros de comprimento estava sendo aberto com a ajuda de um aparelho de navegação por satélite, usado hoje em dia na aviação. Faltavam menos de 30 metros para que a muralha fosse ultrapassada.
Conheça a história dos túneis escavados no Carandiru
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da Folha de S.Paulo
Os presos do complexo do Carandiru levaram 30 anos aperfeiçoando planos de resgates subterrâneos, por meio de túneis escavados de fora para dentro, até conseguirem acertar duas fugas recorde em apenas sete meses.
Em dezembro passado, fugiram 35 detentos. A fuga de 106 presos, há uma semana, foi a maior da história do sistema prisional paulista por baixo da terra.
E não seria diferente: o presídio está no meio da cidade de São Paulo, rodeado por unidades da polícia. Por isso, a dificuldade de fazer um simples túnel para ultrapassar as muralhas ou de organizar uma invasão armada.
Há registros de detentos recapturados, desde a década de 80, saindo das tampas de inspeção ao redor do complexo, mas nenhum como o de domingo passado, quando os fugitivos usaram quatro quilômetros da rede pluvial, embaixo de movimentadas avenidas, para se afastar dali e evitar a prisão pela polícia.
Até agora, dos 106 fugitivos, apenas 30 foram recapturados. A maioria dos fugitivos foi condenada por homicídio e roubo.
O primeiro grande ''tatu'' _o túnel da fuga, na gíria dos presos_ data de 1971. Foi descoberto por acaso, porque vizinhos da prisão estranharam a movimentação de novos moradores do bairro e avisaram a polícia.
''A entrada ficava ao lado do balcão de um bar. Você descia dois metros e meio, mais ou menos, por uma escada e dava até para ficar em pé no túnel'', lembra Luiz Camargo Wolfman, 70, que, na época, era diretor penal da Penitenciária do Estado _o presídio onde haveria a fuga.
Os assaltantes Walmir Vieira Azevedo e Omar Bandeira de Souza, então cumprindo pena no pavilhão 3, foram apontados pela polícia como os financiadores do plano de escavação.
Eles tinham contratado um estelionatário, ex-reeducando do Carandiru, para executar a operação. Essa pessoa, conhecida como Professor, alugou três imóveis na avenida Zaki Narchi, em frente à Penitenciária do Estado.
O túnel saía de um bar, uma das casas servia como depósito de terra e a outra era ponto de observação. Logo que a passagem estivesse pronta, os detentos sairiam por ela e seriam resgatados.
Requinte
Calcula-se que o grupo de resgatadores levou aproximadamente três meses para abrir o buraco. Dentro dele havia iluminação e sistema de ventilação.
"O 'tatu' passava por baixo de duas casas, atravessava a avenida [Zaki Narchi] e estava chegando à primeira muralha da penitenciária", disse Wolfman.
Nos anos seguintes, os detentos fizeram inúmeras tentativas de fuga por túnel, bem-sucedidas ou não, testando os pontos vulneráveis. Só neste ano houve 31 ocorrências desse tipo.
Em maio de 96, 51 detentos desapareceram por uma passagem subterrânea que dava para uma casa na rua Antonio dos Santos, na lateral do pavilhão 7 da Casa de Detenção _o maior presídio do complexo do Carandiru.
Na época, a polícia investigou a participação no plano de um engenheiro que cumpriu pena no mesmo pavilhão. A energia elétrica do presídio e até um macaco hidráulico foram usados.
Entre todas as tentativas, a lateral da avenida Ataliba Leonel pareceu ser o local mais vulnerável. É por ali que saíram 35 detentos em dezembro do ano passado e 106 no último domingo, aproveitando as rede de galerias pluviais.
O plano, nos dois casos, foi o mesmo: abrir um túnel sob a muralha, de fora para dentro, a partir da tubulação de concreto que passa embaixo da avenida.
Em três décadas, a operação se repetiu várias vezes. Em abril deste ano, a Polícia Militar encontrou uma escavação saindo de uma casa alugada, do lado da avenida Zaki Narchi, rumo ao pavilhão 8 da Casa de Detenção.
O "tatu" de 42 metros de comprimento estava sendo aberto com a ajuda de um aparelho de navegação por satélite, usado hoje em dia na aviação. Faltavam menos de 30 metros para que a muralha fosse ultrapassada.
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