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12/08/2001 - 09h53

"Internet é a porta para o mundo", afirma pintor

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da Folha de S.Paulo

É tarde de sol forte em Cidade Tiradentes, bairro da zona leste de São Paulo. O pintor de paredes Francisco Morais Nunes, 47, aguarda numa fila a sua vez.

Ele não pegará uma lata de leite em pó na escola municipal ou passará por consulta médica no posto de saúde. O motivo da espera tem outro nome: internet.

Nunes acompanha a filha de dez anos na visita ao telecentro da prefeitura. O pintor já se inscreveu no curso gratuito oferecido no local. Quer aprender a mexer no aparelho. "É a porta para o mundo", afirma.

Ele não desanima nas filas, do acesso e do curso, e faz até planos: quer anunciar seus serviços na rede. "Eu faço também parede decorada, com massa. As pessoas que procuram meu trabalho têm computador", diz ele.

A variedade de interesses é o que chama a atenção no telecentro, que se transformou na nova diversão da criançada do bairro. Daniel Ferreira de Jesus, 12, vai todos os dias ao local.

"Já entrei no site do "Raul Gil" e do Malhação", conta, referindo-se aos programas de TV. "A mania aqui é jogar pinball e gelada [jogo em que um pinguim caça moedas no gelo" pela internet", diz Bruno Souza, 10.

Briga

A procura das crianças já causou desavenças entre os frequentadores. O conselho gestor do telecentro, conta o coordenador, Thiago Guimarães, 22, proibiu sites pornográficos e bate-papo. O conselho é formado por pessoas da comunidade.

"É mais do que justo", considera a estudante de pedagogia Geani Marfisa, 19, bolsista de uma universidade particular. Ela usa os computadores do telecentro para mandar currículos, à procura de um estágio.

Procurar emprego é uma das maiores motivações dos adultos, em Cidade Tiradentes. "Se você manda o currículo por e-mail, dá mais "moral". A empresa já parte do princípio que você sabe mexer no computador", diz Cristiano Márcio da Silva, 23, auxiliar de produção desempregado.

Esse não era o caso de Silva. Depois de vencer a fila, ele não se demonstrou muito à vontade diante do computador. "Estou começando agora", justificou.

No telecentro é assim, as pessoas aprendem na marra a navegar na internet. A maioria é rápida. Michael César Ferreira Romão, 10, é um exemplo. Em pouco tempo no local, ele já ajuda a equipe da prefeitura a cadastrar os interessados no curso.

Nas horas vagas, Michael joga pinball. "Se pudesse, ficava o dia inteiro aqui", disse, logo após acabar o seu tempo. O permitido é 20 minutos de uso do computador. Quem quer mais, vai para o fim da fila. Cerca de 200 pessoas procuram por dia os terminais de acesso livre.

Michael cursa a quarta série na Escola Estadual Fernando Pessoa, em Cidade Tiradentes, que tem laboratório de informática. "Mas lá a gente só pode desenhar na aula de educação artística", diz.

Religião

Os adolescentes vislumbram a possibilidade de discutir a permissão do bate-papo. Evangélico, membro da Comunidade Cristo e Família, localizada no bairro, Cristiano Márcio acha que poderia falar de Deus aos frequentadores dos "chat room".

"Faço pesquisas em sites evangélicos e sei de várias pessoas que fazem isso", conta o auxiliar de produção desempregado.

A conversa é rápida. A fila andou. Sai Michael, entra Laila Grazieli Vidal, 14. É sua primeira vez no telecentro e tudo o que quer é enviar uma mensagem a Rodriguinho, vocalista do grupo de pagode Os Travessos.
"É só entrar no site deles. Todas as meninas fazem isso aqui.

É o site mais procurado. Tem foto, entrevistas, letras das músicas, é superlindo", conta Laila, enquanto digita no computador: "Rodriguinho, gostaria muito de conhecer você. Beijos."
 

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