Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/08/2001 - 07h10

Shell exclui exame de pesticida em Paulínia

Publicidade

ANA PAULA MARGARIDO
da Folha Campinas

A Shell Brasil excluiu da lista de exames que patrocinou a verificação da presença do pesticida Aldrin no sangue dos moradores do bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia (126 km de São Paulo). A substância tóxica foi formulada exclusivamente pela multinacional até 1990, para exportação.

A empresa justifica a não-realização do exame alegando que o produto se metaboliza rapidamente no organismo humano, mas especialistas ouvidos pela Folha afirmam que a substância pode ficar até 167 dias no corpo.
Para quatro especialistas, entre eles os médicos contratados pela prefeitura, a presença do produto deveria ter sido analisada, uma vez que, metabolizado rapidamente no organismo, apontaria uma contaminação recente.

O primeiro relatório de saúde dos moradores feito pela Prefeitura de Paulínia indica a presença de Aldrin em 20 (11%) das 181 pessoas analisadas. Os exames de sangue foram feitos no Ceatox (Centro de Análises Toxicológicas) da Unesp de Botucatu (SP).

A empresa fez exames em 159 pessoas, por meio do laboratório norte-americano ABC, de só três pesticidas organoclorados: Dieldrin, Endrin e Heptacloro. A prefeitura pagou a avaliação de 17 organoclorados. Do total de pessoas examinadas, só 30 foram avaliadas pela Shell e pela prefeitura.

Segundo a especialista em toxicologia do CIT-RS (Centro de Informação Toxicológica) Izabela Lucchese Gavioli, o Aldrin pode levar de 50 a 167 dias para ser metabolizado. Ela diz que a substância aponta a frequente exposição ao contaminante. "A primeira medida a ser adotada quando se detecta intoxicação crônica por Aldrin é remover a pessoa da fonte de contaminação."

Segundo o toxicologista contratado pela prefeitura Igor Vassilieff, a literatura médica mostra que o Aldrin leva, no mínimo, 30 dias para se metabolizar. Após esse tempo, é depositado na gordura na forma de Dieldrin.

Os efeitos na saúde dos dois produtos são os mesmos, segundo a médica sanitarista da prefeitura Cláudia Regina Guerreiro.

"A diferença é que o Aldrin, até se metabolizar, fica na corrente sanguínea e indica que a pessoa contaminada ainda está exposta a essa substância", disse Cláudia.

Segundo o Serviço de Toxicologia de Minas Gerais, o Aldrin é uma substância tóxica muito persistente, e "a melhor forma de evitar a contaminação é retirar as pessoas da exposição."

O laudo da Secretaria Municipal da Saúde de Paulínia é contestado pela Shell Brasil. Para o médico toxicologista contratado pela empresa Flávio Zambrone, o teste laboratorial para Aldrin não foi feito porque a substância se metaboliza rapidamente no organismo, transformando-se em Dieldrin.

Segundo ele, o processo de transformação começa em um intervalo de duas a quatro horas após contato com o produto. "É impossível achar Aldrin e não encontrar Dieldrin. Se o Aldrin demora esse tempo todo [167 dias] no organismo, duas horas depois existirão os dois compostos."
Mas ele confirma que o equipamento usado para fazer os testes "consegue ler o Aldrin".

No Brasil, o uso de pesticidas organoclorados foi limitado pela portaria 329, de 2 de setembro de 85, permitindo sua utilização apenas no controle a formigas (Aldrin) e em campanhas de saúde pública (DDT e BHC).
O promotor de Justiça Jorge Alberto Mamede afirmou que a presença de Aldrin demostra que houve contaminação dos moradores há pelo menos 120 dias.




 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página