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30/08/2001 - 07h23

Alvo dos sequestradores era qualquer familiar de Silvio Santos

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ALESSANDRO SILVA
da Folha de S. Paulo

A estudante Patrícia Abravanel, 23, virou refém por acaso. Até o momento em que invadiram a casa do empresário e apresentador Silvio Santos, em São Paulo, os sequestradores não sabiam ao certo quem levariam para o cativeiro.

A postos para agir, em frente à casa dos Abravanel, na região do Morumbi (zona oeste da capital), eles viram sair de carro duas das seis filhas de Silvio -Cintia, 37, e Rebeca, 19.

Naquela manhã do dia 21, "quem aparecesse seria levado", afirma o delegado Wagner Giudice, da Deas (Delegacia Anti-Sequestro), que ontem ouviu dois dos sequestradores já detidos.

Patrícia foi a escolhida. Desceu para a garagem quando o vigia da portaria já tinha sido rendido por Fernando Pinto, 22, que se vestiu de carteiro, e pelo irmão dele, Esdras Dutra Pinto, 19, os autores do crime, segundo a polícia.

Os detalhes da operação, considerada "inusitada" pela própria polícia, pela falta de experiência dos acusados, começam a surgir agora, com o depoimento os acusados e as declarações da refém.

Por que Silvio Santos? ""Pensavam que era a única pessoa que poderia pagar um resgate [como o que queriam" a eles", diz o delegado Giudice, que ontem de madrugada falou com os suspeitos.

Por três meses, de acordo com a Deas, o sequestro foi planejado meticulosamente por Fernando, que está foragido e seria o mentor da ação. Além dele e do irmão, que foi preso, uma garota e Marcelo Batista dos Santos, 27, também detido, teriam participado.

Em comum, são jovens, pertencem à classe média-baixa, nunca estiveram presos nem participaram de sequestros anteriores.

Livro
Uma idéia na cabeça, um livro embaixo do braço e dinheiro arrecadado com outros roubos para financiar os gastos. Assim se desenhou o sequestro de Patrícia.

Previamente, o grupo monitorou os horários do empresário, de sua mulher Íris Abravanel e das quatro filhas que moram com ele.

Depois, pesquisaram sobre o patrimônio do empresário no livro ""A Fantástica História de Silvio Santos", publicado há dez meses pelo jornalista e ex-assessor do empresário Arlindo Silva, 73.

Policiais encontraram um exemplar desse no cativeiro, com trechos grifados nas páginas em que o autor fala do sequestro da irmã de Silvio, Sara Benvinda Soares, ocorrido em 92.

Coincidência ou não, passos seguidos por eles batem com o conteúdo de duas páginas do livro, que contam que Sara, a exemplo de Patrícia, foi abordada de manhã, quando saia de casa, na Tijuca. Os sequestradores pediram então US$ 500 mil e enviaram dois bilhetes à família, escritos por ela, como prova que estava viva. A polícia do Rio, no entanto, prendeu quadrilha antes de o resgate ser pago pela família.

No caso de Patrícia, os primeiros pedidos de resgate vieram em dólares e também houve dois bilhetes como prova de vida.

A edição fornece ainda o nome das filhas e dados de 99 sobre o faturamento das empresas do Grupo Silvio Santos. ""São informações que a imprensa, na época, já havia divulgado", afirma o autor.
Apesar da vigilância à casa dos Abravanel e das informações sobre a vida das vítimas, faltava ainda dinheiro. O grupo teria se financiado com roubos, de acordo com o Deas. Assim, conseguiram pagar, por exemplo, o aluguel de três meses por um sobrado -o cativeiro-, por cerca de R$ 2.400, e comprar armas e rádios.

O passo seguinte foi por no papel as etapas do plano. Em uma folha apreendida pela polícia, Fernando teria anotado 16 itens que julgava ""essenciais". Não poderia, esquecer-se de revistar todos, perguntar quantas pessoas estavam na casa e onde ficava o botão de alarme, entre outras coisas. Tudo cronometrado para durar dois minutos, como ele havia anotado.

O detalhismo fez com que eles preparassem um local para a entrega do resgate, em Cotia (Grande SP). Uma listra de cal no chão indicaria o caminho para o carro-pagador dos Abravanel. A pista, contudo, levou a Guarda Civil da cidade ao encontro deles, na noite de última segunda-feira.

Foi por isso que, segundo a polícia, os sequestradores mudaram o local do resgate e receberam o dinheiro na rodovia Castelo Branco, perto dali, já no trevo de Jandira. No primeiro posto, descoberto em Cotia, tinham água em garrafas para, conforme depoimento à polícia, molhar o dinheiro do resgate e danificar eventuais aparelhos eletrônicos de rastreamento.



 

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