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02/09/2001 - 10h20

Técnica da PM limitou ação de sequestrador

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ALESSANDRO SILVA
da Folha de S.Paulo

O sequestrador Fernando Dutra Pinto, 22, reclamou da polícia ao deixar a casa do apresentador Silvio Santos. Não esperava ver escudos e armas e se espantou com a rapidez da ocupação de parte da residência.

A confidência, em tom de brincadeira, foi dita ao tenente Marcos Henrique da Silva, 32, no carro que o levava para a cadeia, na última quinta-feira, dando mostra do nível de "cumplicidade" que havia entre os dois naquele momento.

Por sete horas, ambos experimentaram a tensão de uma das técnicas de gerenciamento de crise que a Polícia Militar ensina: a negociação -artifício pelo qual se tenta ganhar a confiança do criminoso para soltar o refém, envolvendo-se ora como confidente, ora como autoridade.

"Eu me assustei com a visão de vocês. Nunca vi isso", foi um dos comentários de Fernando ouvidos pelo tenente. Silva, cujo nome de guerra é Henrique, comanda a força tática em parte da zona oeste de São Paulo, um grupo de policiamento de rua, com treinamento diferenciado.

Ele e Fernando se viram pela primeira vez por volta das 7h30 daquele dia, na sala de ginástica, onde o sequestrador mantinha Silvio havia 20 minutos.

Pistola na mão, rodeado por dois policiais, o tenente se escondia atrás de um escudo capaz de suportar tiros de metralhadora.

Silvio disse que estava bem, que o policial poderia ir embora. Não revelou quem era o rapaz louro, de moleton, que se escondia atrás dele. ""Vi duas armas na mão direita dele. Aí eu disse: "Fernando, sei que você está aí"", relatou o tenente.

Caso houvesse confronto, apenas uma porta de vidro e o corpo do empresário os separavam.
"Mãos na cabeça", ""é a polícia" e "se mexer leva tiro" são expressões do passado, segundo a corporação. ""A PM de hoje investe muito em treinamento", diz o tenente-coronel Luiz Carlos Martins, 46, comandante de um dos centros de treinamento da capital.

"Eu sou o tenente Henrique. Estou no comando da operação. Pode me chamar só de Henrique. Estou guardando a minha arma. Vamos conversar" -essas foram as primeiras palavras que o tenente lembra ter dito a Fernando, que havia assassinado dois policiais civis horas antes. Tentava ganhar confiança.

Em situações assim, o manual da polícia recomenda: contenção, isolamento e negociação. O policial precisa conhecer e seguir um roteiro, de acordo com Martins.

O tenente já havia separado seus homens -oito, no total- para vistoriar a casa. Enquanto falava com o sequestrador, de um lado da casa, a outra equipe liberava a mulher de Silvio, Íris Abravanel, suas quatro filhas e uma amiga delas, mais os funcionários.

Entrar na casa, naquele momento, segundo Henrique, era arriscado. ""Eu podia fechar as saídas da casa e evitar que ele se movimentasse", afirma. Foi o que aconteceu e, aos poucos, a casa estava tomada.

Isolado, Fernando passou a negociar. Primeiro, quis um helicóptero. ""É muito complicado", ouviu. Depois, pediu comida e quis fumar. Passou a falar com Silvio, com Henrique. Desistiu de fugir e falou em se entregar. ""Vou me matar e levar gente comigo", disse Fernando em um momento crítico. Por duas vezes, o sequestrador ameaçou o apresentador.

Em determinados momentos, sabendo que Fernando havia sido evangélico, o negociador evocou até o nome de Deus para convencê-lo a se entregar.

O sequestrador se refugiou com o refém na cozinha. Ficou sem falar ou ser visto pela polícia por 40 minutos. ""Estou aqui na porta, esperando para falar com você quando quiser", disse o tenente de fora do cativeiro. Não havia o que fazer, a não ser esperar.

Henrique atuou como ""bombeiro" até as 10h, quando chegaram os negociadores oficiais da PM. O capitão Diógenes Dalle Lucca, do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), continuou a operação até a libertação de Silvio.



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