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13/10/2001 - 03h50

Índios se espremem nas periferias de MS

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FABIANO MAISONNAVE
da Agência Folha, em Campo Grande

Esqueça a idéia de que os índios vivem isolados e dispersos em grandes áreas sob a proteção do governo. Em Mato Grosso do Sul, que concentra a segunda maior população indígena do país, com cerca de 45 mil pessoas, quase todos sobrevivem na periferia de cidades, sobretudo nas duas maiores, Campo Grande e Dourados.

Os índios urbanos são divididos em dois grupos: os que ainda vivem em
reservas indígenas, que, com o crescimento das cidades, hoje se situam no perímetro urbano, e os que saíram das aldeias superpovoadas para se amontoarem nas periferias das cidades.

Das 64 aldeias em Mato Grosso do Sul, 62 ficam na periferia das cidades ou a poucos quilômetros de um centro urbano. Demarcadas, em sua maioria, entre 1915 e 1928 e nunca ampliadas, essas áreas raramente ultrapassam 3.000 hectares.

"A demarcação das terras, já extremamente reduzida naquela época, previa a rápida integração indígena, mas isso não se verificou. O resultado são áreas superpovoadas e sem viabilidade econômica", afirma Antônio Brand, professor de história da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), onde
coordena um projeto de pesquisa sobre os índios guaranis e caiovás.

A situação mais grave é a da reserva de Dourados. Quando foi criada, em 1917, moravam na área de 3.500 hectares entre 400 e 500 índios. Hoje, disputam o mesmo espaço 9.623 índios -trata-se da reserva com a maior densidade demográfica do país. Os 3.050 índios do Parque Indígena do Xingu (MT), em contraste, dispõem de 2,8 milhões de hectares.

A cidade de Dourados, fundada quase duas décadas depois, em 1935, transformou-se hoje na segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, abrigando 165 mil habitantes. Com isso, a reserva, antes relativamente isolada, está a três quilômetros do perímetro urbano.

Segundo o chefe do núcleo da Funai em Dourados, Jonas Rosa, o esgotamento dos recursos naturais da reserva transformou-a numa cidade-dormitório de Dourados e da região, onde os índios são facilmente vistos executando serviços pesados, sobretudo no corte de cana, pedindo esmola na rodoviária ou, no caso de crianças, trabalhando como flanelinhas.

Não faltam problemas sociais na reserva. Além da prática do suicídio, a desnutrição infantil é preocupante. Apenas neste ano, 11 crianças morreram em razão de deficiência alimentar. Histórias de violência, alcoolismo e prostituição são frequentes.

Os terenas constituem a maioria dos aproximadamente 7.000 índios que vivem hoje em Campo Grande, segundo números preliminares do primeiro censo indígena urbano, que está sendo realizado pela UCDB. Em 96, a Funai contava 3.000 índios na cidade.

Existem hoje, na capital do Estado, dois projetos habitacionais voltados para os terenas, que em grande parte moram de forma precária na periferia.

O maior projeto é a Aldeia Urbana Marçal de Souza, implantado em 99 pela Prefeitura de Campo Grande numa área da Funai ocupada pelos indígenas.

Hoje, 187 famílias vivem em 135 casas de apenas 30 m2. É o caso da família da terena Vera dos Santos, 31. Mãe de cinco filhos, ela já trabalhou como doméstica e como servente de pedreiro. Hoje, sobrevive de artesanato e divide a casa com outras três famílias, num total de 15 pessoas, todas parentes.

Ali, poucos ainda falam a língua materna. "Fica meio chato falar. Muitos não entendem e acham que estamos falando mal deles", diz sua prima Fátima Ferreira, 39.
 

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