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14/10/2001 - 09h18

Com medo de voar, paulistanos desistem de viagens

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ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha

"Primeiro foram os atentados nos EUA. Em seguida, aquela senhora que morreu num vôo da TAM. Depois, Rússia e Milão. Para mim, não importa. Pode ser para os confins do Nordeste, vou de ônibus." A frase, da executiva Luciana Guimarães, 27, resume o pavor que tomou conta dos viajantes no último mês.

A decisão é compartilhada por 48% dos paulistanos, que disseram ao Datafolha, em pesquisa com 625 entrevistados no último dia 8, que cancelariam uma possível viagem se tivessem que ir de avião -se o destino fosse os EUA, o contingente aumentaria 75%.

Com a sucessão de tragédias, as viagens internacionais de lazer caíram 40% e as de negócios, 20%, segundo a Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens). Seminários e congressos foram cancelados por falta de participantes e as vendas de programas educacionais e cursos no exterior despencaram 40%, informa a entidade do setor, a Belta.

As pessoas que já tinham medo de voar -17% dos paulistanos, segundo a pesquisa- ganharam a companhia de outros 36% que acreditam que o avião possa ser sequestrado por terroristas ou abatido por um caça.

"Quem me garante que o avião que sai do Brasil, tido como pacifista e tranquilo, não pode estar levando um terrorista suicida a bordo?", questiona o empresário Renato de Magalhães, 48, que, pela primeira vez em 15 anos, desistiu de passar o réveillon nos EUA.

As mais afetadas pelo medo são as mulheres -62% não voariam agora, contra 32% dos homens.

A empresária Rebeca Tucunduva Conde, 40, que viaja cerca de seis vezes por ano ao exterior, desistiu de ir à Itália neste mês. "Qualquer país turístico é alvo de possíveis ataques", afirma.

A empresária acredita que a sorte esteja do lado do terror. "Tanto o dia dos atentados, 11, como o nome de Osama bin Laden indicam possibilidade de sucesso em suas empreitadas. Não vou arriscar a minha sorte", diz Rebeca.

Para a aposentada italiana Vicentina Ranieri de Paula, 61, a questão não é mística, e sim estratégica. "Os EUA mantêm bases militares na Espanha e na Itália. Achei melhor não me arriscar."

Vicentina e duas primas vinham programando havia cinco anos uma viagem para rever parentes nos dois países europeus.

A passagem foi comprada no dia do atentado. Vicentina disse que achou melhor desistir. "Agora não sei se viajo pelo Brasil ou se espero mais um pouco", afirma.

A dúvida de Vicentina é a grande esperança dos agentes de viagem. Com a proximidade das férias, a estratégia das agências é tentar direcionar as desistências para os pacotes domésticos.

A CVC, uma das maiores do país, espera um crescimento interno de 20%. A Soletur, que teve queda de 50% para os EUA, ressuscitou destinos rodoviários para atender as vítimas de aviofobia.

As viagens de navio pela costa brasileira também devem ser favorecidas. A Costa Cruzeiros, líder no mercado interno, registrou alta de 67% nas vendas do mês passado, em relação ao mesmo período de 2000, e acredita num recorde de 30 mil brasileiros na temporada de dezembro a março.

Para quem é da área, o medo é culpa de notícias demais. "O avião é comprovadamente o meio de transporte mais seguro do mundo. O problema é que acidentes de avião repercutem mais", diz o piloto e escritor Ivan Sant'Anna, 61, autor de "Caixa-Preta".

O livro, que narra três desastres da aviação brasileira nas décadas de 70 e 80, vendeu mais de 40 mil cópias. Além de farta literatura, há um mercado significativo sobre o tema, com fitas de vídeo e páginas na internet.

Criado há um ano, o Instituto Condor de Psicologia e Pesquisa para o Medo de Voar já atendeu 200 pacientes. Os cursos duram de 20 a 40 horas, ao preço de R$ 1.000 a R$ 1.600.

A artista plástica Elizabeth Falvo Pimentel, 47, fez o curso. "Na minha primeira viagem de avião, para Buenos Aires, entrei em pânico antes da decolagem. Fiz eles abrirem a porta e saí."

Elizabeth diz que resolveu se tratar após perder algumas oportunidades profissionais e de lazer. "Dois meses depois do curso, fui para Portugal. Depois disso, não paro mais de viajar."


 

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