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23/10/2001 - 04h22

Perueiro de SP migra para outros Estados

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ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

Perseguidos pela fiscalização, perueiros que atuavam na região metropolitana de São Paulo passaram a migrar pelo país em busca de redutos favoráveis à clandestinidade. Os primeiros alvos foram municípios mineiros, mas já há registros desse fenômeno até mesmo em Estados do Nordeste.

A BHTrans, que cuida do transporte coletivo em Belo Horizonte, estimou em 30% as placas de peruas "estrangeiras" abordadas durante as blitze, classificação dada aos paulistas que dominaram linhas nos últimos dois anos e só foram expulsos em julho passado.

Parte do contingente se refere a veículos roubados ou emplacados em São Paulo. Mas os fiscais identificaram grupos de até 80 peruas liderados por paulistas. "A maioria chegou em esquemas organizados, formando máfias", afirma Wagner Caetano, diretor de projetos especiais da BHTrans.

A Fettraemg (Federação dos Trabalhadores no Transporte Alternativo em Minas) diz que pelo menos 400 lotações eram comandadas por transportadores de São Paulo. Eles foram atraídos por liminares favoráveis da Justiça de Minas. "O processo de expedição das liminares era acelerado. O de cassação, lento. Criou a propaganda de que a vida aqui era fácil", afirma Caetano. No primeiro semestre deste ano, a capital mineira tinha 3.000 perueiros.

A prefeitura resolveu boa parte desse problema em julho, quando obteve um aval da Justiça para fazer as apreensões. Depois de uma série de conflitos com a Polícia Militar, os clandestinos elegeram novos alvos na Grande Belo Horizonte e no interior (Montes Claros, Betim, Contagem, Santa Luzia e Ribeirão das Neves).

"O pior é que os paulistas, que têm placas de fora de Minas, nem sequer recebem as multas", diz Anísio Maria da Glória, vice-prefeito de Ribeirão das Neves, que tem 260 mil habitantes e 700 lotações, 200 das quais "estrangeiras".

O coronel da reserva William Costa Bahia, assessor do sindicato das empresas de ônibus intermunicipais de Minas, afirma que, em eventos do setor, já ouviu falar na presença de 1.800 perueiros paulistas no Estado inteiro. "Mas são número difíceis de serem comprovados, não só porque é uma atividade clandestina como porque muitos já abandonaram seus veículos velhos e compraram novos, com placas de Minas."

Nordeste
A migração de perueiros de São Paulo em direção a Estados do Nordeste teve um caráter diferenciado, marcado pela participação individual dos operadores, e não de grupos organizados.

Segundo Cesar Cavalcanti, vice-presidente da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos), são pessoas que resolveram voltar para suas terras com um trabalho na bagagem. "Eles vêm de longe porque têm algum parente, algum colega que deu a dica", afirma Cavalcanti. Levantamento feito em Recife (PE) no ano passado identificou a presença de lotações de 135 municípios brasileiros, incluindo São Paulo.

O secretário de Transporte e Trânsito Urbano de Natal (RN), José Vanildo da Silva, diz que, ao lado dos mineiros, os perueiros com placas de São Paulo predominam em municípios da região metropolitana, como Parnamirim e São Gonçalo. "Na capital a gente já fez várias apreensões, mas eles se afastaram", afirma.

Na região metropolitana de Fortaleza (CE), a preocupação com as lotações "estrangeiras" se acentuou nos últimos dois meses. Entidades do setor dizem que os expulsos de Belo Horizonte já começaram a migrar para lá. "Para a gente, pirata é pirata, independentemente de onde tenha nascido. A migração só preocupa mais porque, quando começa, costuma atrair grupos em grandes quantidades", afirma Francisco de Araújo Pessoa Neto, assessor do sindicato que reúne as empresas de ônibus da região.

No período em que as migrações cresceram, a capital paulista chegou a aprender, em média, 28 lotações clandestinas por dia. Dos 15 mil perueiros estimados dois anos atrás, a Prefeitura de São Paulo diz que menos de 9.000 continuam atuando, sendo 6.000 autorizados provisoriamente.

Laurindo Junqueira, ex-secretário dos Transportes de Santos e Campinas e assessor técnico da ANTP, afirma que a migração dos clandestinos não é um fenômeno restrito aos paulistas. "São Paulo é a maior exportadora simplesmente porque é a maior cidade do país. Mas, em qualquer lugar do país, se alguma cidade dá mole, a notícia logo se espalha."

Segundo Junqueira, porém, a maior surpresa dos movimentos mais recentes é a distância percorrida pelo transporte alternativo. Para chegar ao Nordeste, os paulistas rodam mais de 2.000 quilômetros. Um dos primeiros municípios a enfrentar uma invasão "estrangeira" foi Santos (litoral sul de SP). No final de 1997, das 2.300 lotações em operação, 2.000 eram de outras cidades.
 

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