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10/12/2001 - 08h00

Perueiro dá lucro a empresário de ônibus

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ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os maiores empresários de ônibus do Brasil estão entre os abastecedores do mercado de vans em São Paulo e no Rio de Janeiro. Eles reclamam da concorrência dos perueiros, cobram compensações das prefeituras por causa da perda de passageiros, mas financiam há pelo menos três anos a expansão do transporte alternativo.

As famílias de Constantino de Oliveira, José Ruas Vaz, Belarmino Marta e Jacob Barata, além de controlarem os principais grupos de ônibus do país, também são proprietárias de concessionárias Mercedes-Benz, que dominam a venda dos veículos Sprinter.

O modelo ainda é restrito na capital fluminense, mas conquistou os autônomos na capital paulista. Das 5.821 lotações cadastradas até setembro pela administração Marta Suplicy, 1.944 eram Sprinter. Ou seja, de cada três vans, uma havia saído das revendedoras Mercedes-Benz. O segundo modelo no ranking, Ducato, da Fiat, somava 947 veículos.

A Folha identificou seis concessionárias Mercedes-Benz controladas por esses empresários de ônibus. Cinco estão na Grande São Paulo, na Baixada Santista e em Campinas, representando quase metade das revendedoras justamente nas áreas que concentram a atuação do transporte alternativo. No Estado inteiro, há 31 autorizadas a vender Sprinter.

A outra é uma das sete da Mercedes-Benz que atuam no Rio -Guanabara Diesel, a maior da capital, de propriedade de Jacob Barata, que controla 30% da frota fluminense e é um dos três maiores "tubarões do asfalto" do país.

Perueiros citam outras concessionárias de São Paulo que, segundo eles, pertencem a donos de viações, mas a informação não é confirmada por funcionários.

"Os empresários querem ganhar de todos os lados. A gente compra deles e depois fica nos piores itinerários", afirma Guilherme Corrêa Filho, presidente da Transcooper, que reúne 800 autônomos regularizados.
Ele defende um boicote da categoria às revendedoras dos empresários de ônibus. "O problema é que eles facilitam os financiamentos e todo mundo compra."

O presidente da Associação dos Perueiros da Zona Sul, Laércio Ezequiel dos Santos, que representa os clandestinos, diz que a Sprinter se tornou um objeto de desejo no mercado.

"A categoria está pouco se lixando se quem vende é fulano ou sicrano", diz. "Se a prefeitura libera as vans, os empresários ganham nas concessionárias. Se proíbe, eles ganham nas viações. O lucro é garantido."

O presidente da Cooperpeople, Francisco de Mola Neto, que lidera uma cooperativa com 800 filiados, tem opinião diferente. "Eu tenho um bom relacionamento com os empresários, a gente negocia e eu não vejo problema."

A ligação entre perueiros e empresários de ônibus ficou mais estreita em São Vicente, no litoral paulista. A Divena de Santos, do grupo Ruas, gastou R$ 28 mil para construir um terminal de lotações no bairro da Pompeba. Em troca, a maioria dos perueiros adquiriu os veículos da concessionária.

"Ninguém foi obrigado. Mas, das 367 lotações cadastradas, mais de 90% são Sprinter e quase todas vieram de lá", afirma Raimundo Fagundes, diretor administrativo do terminal, onde as lotações exibem adesivos com propaganda da revendedora.

Os donos das viações são proprietários de concessionárias Mercedes-Benz antes mesmo da ascensão das lotações. Era uma estratégia para reduzir custos com a compra e reposição de peças dos ônibus urbanos.

O surgimento do modelo Sprinter, em 1998, porém, ajudou a elevar os lucros e reduzir a resistência ao transporte alternativo. Na Divena de Diadema, do ano passado ao primeiro semestre de 2001, a venda de Sprinter representava 30% do faturamento.

Não é à toa que, nesse período, as críticas aos perueiros também mudaram de foco. Hoje em dia, são poucos os empresários que defendem a extinção dos autônomos. A maioria prefere pregar a regularização, o controle e a restrição das áreas de atuação.

A relação dos empresários com as concessionárias é tratada com reservas no setor. A Folha tentou na última semana ouvir os quatro grupos, mas só foi atendida por um funcionário de Jacob Barata.

"No Rio, a procura ainda é pequena. Uma vez veio um perueiro dizendo que estava comprando a Sprinter para concorrer na mesma na linha do Jacob. Eu vendo mesmo, não tem problema. Senão ele compra em outra loja, e a gente perde dos dois lados", afirmou Paulo Trindade, diretor de vendas da Guanabara Diesel.

Um sócio do grupo Ruas recebeu a reportagem na concessionária Divena, mas preferiu não falar oficialmente. Constantino, maior empresário de ônibus do Brasil e dono da companhia aérea Gol, e Belarmino, quarto maior em São Paulo, não atenderam aos pedidos de entrevista.

As principais entidades ligadas às empresas também não se manifestaram. O Transurb (sindicato das viações paulistanas) informou que não falaria sobre esse tema. A NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) informou que não tinha conhecimento do fato.

 

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