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10/07/2000
-
03h20
GABRIELA SCHEINBERG e JAIRO BOUER, da Folha de S.Paulo
Mesmo com uma das mais belas cerimônias de abertura de um congresso mundial de Aids, o evento realizado ontem à noite em Durban, na África do Sul, deixou muitos participantes frustrados, a ponto de saírem no meio do show. A razão foi o discurso feito pelo presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, que deu início ao 13º Congresso Mundial de Aids.
"Não podemos superestimar o que o congresso mundial pode fazer pela África do Sul", disse. "Vocês que vieram a Durban para participar da conferência não conhecerão a verdadeira África. Vocês não verão a pobreza das crianças e adultos que hoje sofrem com a Aids", afirmou.
Mbeki evitou falar sobre o assunto que todos esperavam: a origem da Aids. Ele, a exemplo de um grupo de cientistas dissidentes, questiona o HIV como sendo responsável pela Aids. Essa posição o colocou em evidência nos últimos meses. Entre as várias possibilidades apontadas por esse grupo estão a desnutrição, nitratos e até o AZT, medicamento usado para combater a doença.
O presidente Bill Clinton, dos EUA, e o primeiro-ministro Tony Blair, do Reino Unido, já haviam se manifestado contra Mbeki. Agora, foi a vez dos cientistas.
A posição de Mbeki foi repudiada pela maior parte da comunidade médica mundial em uma declaração, publicada dia 6 de julho na revista médica "Nature".
A Declaração de Durban, assinada por 5.000 cientistas, incluindo 12 vencedores de prêmios Nobel, afirma que o HIV é o único responsável pela Aids.
Mbeki ignorou a declaração durante o discurso de abertura. Ele nem sequer mencionou a origem da Aids. Sem entrar diretamente no assunto, apresentou várias possíveis causas para a situação atual da África do Sul, em que um quarto da população está infectada pelo HIV.
"O principal problema da África é a pobreza extrema. Ela é responsável pela falta de saneamento básico e de comida, pela alta taxa de mortalidade materna e pelas doenças." Nesse momento, muitos cientistas começaram a se levantar e a sair do Estádio de Cricket Kingsmead, onde a cerimônia foi realizada. Mas Mbeki continuou: "Devemos respeitar todos os pontos de vista", disse.
Mbeki também não falou sobre a questão do acesso universal aos medicamentos anti-HIV, um dos principais temas do congresso. Essa questão foi amplamente abordada durante uma manifestação, que reuniu 4.000 pessoas e foi realizada pela ONG Treatment Action Campaign (Campanha de Ação para o Tratamento).
"Mbeki não está fazendo um trabalho efetivo para fazer os laboratórios farmacêuticos reduzirem os preços dos remédios", afirmou Naghan Geffen, porta-voz da ONG.
A ex-mulher do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, Winnie Madikizela, também participou do evento. Durante seu discurso, ela acusou os laboratórios farmacêuticos de responsáveis pelo "holocausto da Aids" que ocorre na África.
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Presidente da África do Sul evita falar sobre origem da Aids
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Mesmo com uma das mais belas cerimônias de abertura de um congresso mundial de Aids, o evento realizado ontem à noite em Durban, na África do Sul, deixou muitos participantes frustrados, a ponto de saírem no meio do show. A razão foi o discurso feito pelo presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, que deu início ao 13º Congresso Mundial de Aids.
"Não podemos superestimar o que o congresso mundial pode fazer pela África do Sul", disse. "Vocês que vieram a Durban para participar da conferência não conhecerão a verdadeira África. Vocês não verão a pobreza das crianças e adultos que hoje sofrem com a Aids", afirmou.
Mbeki evitou falar sobre o assunto que todos esperavam: a origem da Aids. Ele, a exemplo de um grupo de cientistas dissidentes, questiona o HIV como sendo responsável pela Aids. Essa posição o colocou em evidência nos últimos meses. Entre as várias possibilidades apontadas por esse grupo estão a desnutrição, nitratos e até o AZT, medicamento usado para combater a doença.
O presidente Bill Clinton, dos EUA, e o primeiro-ministro Tony Blair, do Reino Unido, já haviam se manifestado contra Mbeki. Agora, foi a vez dos cientistas.
A posição de Mbeki foi repudiada pela maior parte da comunidade médica mundial em uma declaração, publicada dia 6 de julho na revista médica "Nature".
A Declaração de Durban, assinada por 5.000 cientistas, incluindo 12 vencedores de prêmios Nobel, afirma que o HIV é o único responsável pela Aids.
Mbeki ignorou a declaração durante o discurso de abertura. Ele nem sequer mencionou a origem da Aids. Sem entrar diretamente no assunto, apresentou várias possíveis causas para a situação atual da África do Sul, em que um quarto da população está infectada pelo HIV.
"O principal problema da África é a pobreza extrema. Ela é responsável pela falta de saneamento básico e de comida, pela alta taxa de mortalidade materna e pelas doenças." Nesse momento, muitos cientistas começaram a se levantar e a sair do Estádio de Cricket Kingsmead, onde a cerimônia foi realizada. Mas Mbeki continuou: "Devemos respeitar todos os pontos de vista", disse.
Mbeki também não falou sobre a questão do acesso universal aos medicamentos anti-HIV, um dos principais temas do congresso. Essa questão foi amplamente abordada durante uma manifestação, que reuniu 4.000 pessoas e foi realizada pela ONG Treatment Action Campaign (Campanha de Ação para o Tratamento).
"Mbeki não está fazendo um trabalho efetivo para fazer os laboratórios farmacêuticos reduzirem os preços dos remédios", afirmou Naghan Geffen, porta-voz da ONG.
A ex-mulher do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, Winnie Madikizela, também participou do evento. Durante seu discurso, ela acusou os laboratórios farmacêuticos de responsáveis pelo "holocausto da Aids" que ocorre na África.
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