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20/01/2002 - 10h21

24% dos jovens favelados do Rio de Janeiro são "inativos"

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CHICO SANTOS e
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da folha de S. Paulo

Morro do Catumbi, na zona norte do Rio do Janeiro, 11h da manhã da última quinta-feira. Luciano Pinto Amaro, 21, cabelos descoloridos à moda funk, é um dos vários jovens que conversam no bar próximo ao seu barraco. Tem um bebê de um mês, mas não estuda nem trabalha.

Parou de estudar na quarta série para ajudar em casa. Foi mecânico, faxineiro e entregador de farmácia. Há um ano, não faz praticamente nada. Ajuda (pouco) a cuidar do filho, faz um biscate aqui, outro acolá...

Luciano está entre os 23,6% -quase a quarta parte- dos jovens entre 15 e 24 anos das favelas da cidade do Rio que não trabalham, não estudam nem procuram emprego.

Eles fazem parte do que os especialistas chamam de população inativa das favelas, aquela que está fora do mercado de trabalho, seja jovem, adulta ou idosa. Do total dos inativos, 48% são jovens entre 15 e 24 anos que não só estão fora do mercado como também não estudam.

Os dados são de uma pesquisa da Secretaria Municipal de Trabalho do Rio de Janeiro e da Sociedade Científica da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE que foi a campo entre os anos 1998 e 2000 em 51 comunidades beneficiadas com o programa favela-bairro da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Do total de jovens na faixa etária pesquisada, pelo menos 55,5% não estudavam. Falta aqui a estatística dos que estavam procurando emprego, mas haviam parado de estudar.

A mulher de Luciano, Simone, 23, parou de estudar na quinta série. "Resolvi que queria zoar, aí larguei a escola", diz. Engravidou pela primeira vez aos 19 anos. Há dois anos foi morar com Luciano e engravidou novamente.

Gravidez
A gravidez precoce é uma das hipóteses levantadas pelo economista André Urani, ex-secretário de Trabalho do município do Rio e um dos responsáveis pela pesquisa, para a formação de um contingente tão grande de jovens que não trabalham nem estudam.

Entre os adolescentes de 15 a 17 anos contados pela pesquisa nas 51 comunidades, 19,1% não estavam trabalhando, estudando ou procurando emprego.

Desses, 62,7% eram meninas, 79,6% das quais disseram fazer algum trabalho domésticos. A suspeita é que grande parte desse trabalho seja cuidar de seus próprios filhos.

É a avó de Luciano, faxineira diarista, que sustenta a casa. No barraco, de 2 m x 3 m, há apenas uma cozinha, um banheiro e uma sala que serve de quarto.

Sobre um estrado há um colchão de solteiro, onde dormem Simone e Luciano, e um de casal, onde a avó dele dorme com o bebê, que também se chama Luciano, e a filha de Simone, Maiara.

Nas favelas do Rio, 15,4% dos jovens entre 15 e 24 anos já são chefes de família (segundo dados do IBGE de 1999, em todo o Rio de Janeiro esse índice é de 6,7%), mas nem todos, como mostra o exemplo de Luciano, exercem de fato esse papel.

E se quiserem fazê-lo, o caminho é difícil. De acordo com dados da pesquisa da Prefeitura do Rio com o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego atinge 18,6% dos jovens favelados entre 15 e 24 anos.

Na totalidade dos residentes em favelas, essa taxa cai para cerca de 11,6%, segundo dados do IBGE. E entre jovens de 15 a 24 anos de toda a região metropolitana da cidade, a taxa é de 11%. Tecnicamente, desempregado é quem está procurando trabalho e não está conseguindo.

Opção perigosa
Para jovens desocupados e fora da escola do morro do Catumbi, como Luciano, a outra opção está à vista: o tráfico de drogas.

Na subida do morro, os traficantes autorizam a entrada da reportagem da Folha, acompanhada por um integrante da associação de moradores. Na descida, um grupo de cerca de dez jovens joga sacos plásticos com maconha e cocaína em cima de uma mesinha.

Outro rapaz, usando apenas calção, conta o dinheiro. Outros, armados com pistolas, guardam a entrada da favela.

A pesquisa do IBGE/Prefeitura do Rio de Janeiro não contou o número de jovens das favelas que trabalham no tráfico, mas constatou que um simples olheiro, a tarefa mais simples e menos perigosa na hierarquia do tráfico, ganha por mês R$ 600. Olheiro é aquele que fica vigiando para ver se a polícia está por perto.

Nas atividades legais, a média salarial constatada pela pesquisa foi de R$ 170 para jovens entre 15 e 17 anos e de R$ 310 para a faixa entre 20 e 24 anos.

Para Luciano, o tráfico não compensa, porque leva os rapazes à morte ou à prisão: "Prefiro trabalhar honestamente, ganhar pouco e viver mais".
 

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