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11/07/2000 - 18h23

Nicéa não acredita em afastamento de Pitta, mas acha que valeu a pena

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SÍLVIA FREIRE, repórter da Folha Online

Nicéa Camargo Pitta, ex-primeira-dama de São Paulo, sai pouco de casa. Depois de ter feito um série de denúncias de irregularidades na administração municipal que deram origem ao primeiro processo de impeachment contra o chefe do Executivo na história da cidade, ela diz que sua vida mudou para melhor, mas ainda teme pelas ameaças de morte que tem recebido.

Nicéa foi chamada de mentirosa e comparada pela defesa do prefeito Celso Pitta às figuras mitológicas de Medéia, personagem que mata os filhos para se vingar do marido, e de Jocasta, que casa com o filho depois dele ter matado o próprio pai. "Destas pessoas não poderia esperar outra coisa" diz ela.

Nicéa diz que sente falta de trabalhar, mas só vai procurar emprego depois que Pitta deixar a prefeitura. "Agora ainda é muito arriscado, vou me expor demais", diz ela.

Durante a votação de impeachment do prefeito, nesta quarta-feira (12), ela vai ficar em casa como tem feito nos últimos meses. Mesmo acreditando que Pitta vai continuar no cargo, ela acha que valeu a pena ter feito as denúncias. "Vai servir de alerta para as próximas eleições."

Valeu a pena falar?

Nicéa:
Valeu sim. Mesmo que não aconteça nada com o prefeito, vai servir de alerta para as próximas eleições. Eu percebo isso quando converso com as pessoas. Muitas vêm me agradecer (pelas denúncias) e elas falam que têm a relações dos vereadores que nunca mais vão votar.

Quais vereadores seriam estes?

Nicéa:
São estes todos da situação: Wadih Mutran, Brasil Vita, Faria Lima, José Izar, Myryam Athiê, Alan Lopes... Eles dizem que não adianta eles usarem a máquina da prefeitura e das administrações regionais. Até nos redutos deles, as pessoas falam que não adianta eles pedirem votos porque não vão levar nenhum.

A senhora comentou que já está tudo acertado para a votação de amanhã. De que forma as "coisas foram acertadas"?

Nicéa:
Já está tudo negociado. Os vereadores foram novamente comprados e muito bem pagos. Quando Arnaldo Faria de Sá, que é um malufista, foi para o governo foi para articular justamente a questão do impeachment.

A senhora foi muito criticada, está respondendo diversas ações, já foi condenada em primeira instância em algumas delas. Mesmo assim valeu a pena ter falado?

Nicéa:
Eu acho que sim, pelo menos para a minha tranquilidade, para a minha consciência e também a dos meus filhos.

Como está sua situação agora. A senhora está cuidando de sua defesa?

Nicéa:
Contratei um escritório de advocacia para cuidar dos recursos. Na ação do vereador Salim Curiati sabia que ia ter chance de recurso. Mas tenho certeza que a Justiça sabe muito bem o que faz.

A senhora já fez um balanço de sua vida depois das denúncias?

Nicéa:
Já fiz sim e está bem melhor agora porque eu sai ilesa desta situação toda. Se continuasse neste meio eu não teria como sair e ia acabar me corrompendo de alguma forma. Foi a minha integridade que mantive para servir de referência aos meus filhos, já que eles perderam a do pai.

E em que piorou?

Nicéa:
De pior só as ameaças de morte. Me sinto insegura. Você não sabe se amanhã eles não vão fazer alguma coisa. Toda vez que saio fico preocupada e isso é realmente ruim.

A senhora continua ficando a maior parte do tempo em casa?

Nicéa:
Eu continuo em casa, mas também porque sou caseira e gosto de ficar em casa. Eu sinto falta do trabalho e pretendo procurar um emprego depois que acabar essa administração. Agora acho arriscado porque vou me expor muito. Depois que o prefeito deixar a prefeitura cada um vai viver sua vida.

Que tipo de contatos a senhora ainda tem com a administração municipal?

Nicéa:
Quem fez contato comigo foi o Arnaldo Faria de Sá (secretário de Governo Municipal), na véspera dele entrar no governo. Ele disse que o Maluf tinha pedido para dar um apoio para o Celso e que ele tinha uma estratégia. Ele disse que sabia que meu desafeto seria o (Augusto) Meinberg e que ele iria ficar no lugar dele e que já tinha até se desligado do partido para manter as aparências, e que as portas do gabinete dele estariam sempre abertas para min.

E a senhora nunca pensou em procurar ele?

Nicéa:
De jeito nenhum

A senhora acha que foi o Maluf ou o Pitta que pediram para ele falar?

Nicéa:
Acho que foram os dois. Eles querem com isso que eu me cale, mas eu já falei tudo o que tinha para falar.

Como estão seus filhos?

Nicéa:
A Roberta continua nos Estados Unidos e o Victor tem planos de ir para lá também.

A senhora leu a defesa entregue pelo advogado do prefeito que entre outras coisas chamava a senhora de mentirosa?

Nicéa:
Eu li. Destas pessoas eu não poderia esperar outra coisa. Eles usaram uma história da mitologia grega em que o filho matou o pai (Édipo-Rei). Acho que quem morreu nesta história foi a cidade de São Paulo. Meu filho tem 25 anos, imagina se alguém dessa idade ia se deixa influenciar pela mãe. Se os filhos ficaram do lado da mãe é porque sabem o pai que tinham. Os meus filhos são íntegros. Eles poderiam viver com todo o conforto do pai, mas nunca utilizaram isso.

Então a senhora passou por cima de tudo?

Nicéa:
Ah! tranquilamente, mas mesmo assim a gente é atingido. Faria tudo de novo e só sinto pena de não tenha feito isso antes. Acho que poderia ter evitado muita coisa, mas era muito difícil para min.

O que a senhora acha que vai acontecer com a prefeitura a partir de amanhã?

Nicéa:
Acho que eles vão usar a máquina da prefeitura para eleger o Maluf.

A senhora já definiu seu voto na eleições municipais?

Nicéa:
Ainda não, mas estou entre o PSDB e o PT. Só peço para que a população fique alerta e não se deixar levar. Se fala tanto em violência, mas a violência maior é a corrupção.

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