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25/01/2002 - 05h21

"Luz era um lugar encantador", diz aposentada

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da Folha de S.Paulo

A imagem de uma São Paulo elegante e solidária é o que restou na lembrança de antigos moradores da cidade, que, em algum momento de suas vidas, viveram ou trabalharam na região da Luz.

"Quem tem mais idade já passou por lá", diz a funcionária pública aposentada Daria Castel Bueno de Camargo, 84. "Guardo até hoje uma foto da minha família, feita por um lambe-lambe, no Jardim da Luz, em 1924. Era um lugar encantador", recorda-se.

Daria ainda costuma, quando pode, visitar a Luz. "Vou ao grupo de oração de São Gregório Iluminador, um santo armênio", diz a católica nem um pouco ortodoxa.

As orações refletem a face multicultural do Bom Retiro, a parte mais residencial da região. Italianos, coreanos, armênios -não há nacionalidade que não tenha representação no bairro. "Como isso aqui, eu nunca vi", diz o grego Thrassyvoylos Georgios Petrakis, 80, conhecido como Jorge. Há quase 40 anos em São Paulo, ele é dono do restaurante grego Acrópoles, ponto tradicional na rua da Graça. "Sou um apaixonado por isso aqui", afirma ele.

As lembranças de quem trabalhou na Luz são a de uma região fervilhante. "Era o maior entroncamento de linhas de bonde da cidade, ali na frente da Igreja de São Cristóvão", conta o ex-condutor e motorneiro Abelias Rodrigues, 77. Rodrigues nunca teve outro emprego. Tornou-se condutor de bonde em 1935, quando a companhia canadense Light dominava os transportes públicos na capital, e deixou a empresa, em 1973, quando ela havia se tornado a Companhia Municipal de Transporte Coletivo (CMTC).

Os choques de bondes na rua Florêncio de Abreu são lembranças recorrentes de Rodrigues. As vezes em que as pessoas enganchavam as roupas nos veículos, ficando quase nuas, são outras.

"A São Paulo da garoa, para nós, era um terror. A Light manteve os bonde abertos até quase a sua retirada do negócio. Imagina a friagem que eu tomava", diz.

A maior diferença entre o transporte público do passado e o atual, para ele, não são os veículos, mas os passageiros. "O bonde era um ponto de encontro, onde a senhora de fino trato sentava-se ao lado dos operários, onde as pessoas conversavam."

A amizade entre os moradores do Bom Retiro da década de 60 também deixa saudosa a polonesa naturalizada brasileira Regina Fleider, 52. Há dois anos, ela se mudou para Moema (zona sul).

"Chegou um momento em que não dava mais. Eu caminhava no Jardim da Luz pela manhã e tinha de interromper o cooper para chamar os guardas do parque por causa dos traficantes", conta.

"Sinto falta da integração que havia no Bom Retiro. Mas as minhas melhores recordações são de uma época em que se podia dormir de janela aberta nesta cidade. Na verdade, sentimos falta de uma São Paulo que nunca mais vai existir", diz Regina.

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