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03/02/2002 - 05h44

Sequestráveis convivem 24h por dia com seguranças

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PAULO SAMPAIO
ROBERTO DE OLIVEIRA

da Revista da Folha

Mil e trezentas pessoas foram convidadas para o vernissage da exposição coletiva que a empresária Joëlle Nasser, mulher do banqueiro Ezequiel Nasser, promoveu na última quarta em sua galeria no Jardim Paulistano. Discretamente diluídos na multidão, três seguranças se faziam de invisíveis para zelar por ela, no melhor estilo "Onde está Wally?".

No dia-a-dia, Joëlle é acompanhada por apenas um, mas, como se tratava de um evento grande, a empresária -que teve seu marido sequestrado há seis anos- convocou outros dois homens, que atendem seus filhos.

"Tenho seguranças há sete anos, já cheguei a ter cinco de uma só vez. Eles me acompanham o tempo todo", conta Joëlle.

Quem nunca usou um serviço de guarda-costas tenta imaginar como é viver assim, colado a um "protetor" quase desconhecido e armado com uma pistola semi-automática. Será que o "armário" acompanha o patrão em tudo que ele faz? No banheiro do restaurante? No almoço com a amante?

As empresas dizem que o próprio cliente estabelece os limites. "É claro que o segurança passa a ter informações pessoais. Mas o assunto só deve interessá-lo se e quando isso interferir na segurança do cliente", diz Elie Barrak, 46, diretor de operação da Oregon, que dobrou o número de seguranças nos últimos 12 meses.

O crescimento dos negócios é um reflexo da democratização do pânico. Como não é preciso ser rico para se tornar sequestrável, a lista de clientes da segurança privada cresceu com a adesão da classe média: publicitários, profissionais liberais, médicos e pequenos empresários são responsáveis por 30% do movimento.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, os crimes de sequestros aumentaram cerca de 1.500% de 1999 (19 casos) para 2001 (foram 307).

A reboque, a expansão da indústria da segurança não deixa dúvidas. Há dois anos, o guarda-costas pessoal não representava 2% do faturamento total. Hoje, gira em torno de 10% do faturamento de R$ 7,8 bilhões.

Atualmente, 2.791 empresas de segurança privada são cadastradas no país pela Polícia Federal, a quem cabe o controle dos cursos preparatórios e de reciclagem, além dos próprios seguranças. Há dois anos, eram 415.

O maior "boom" veio após o sequestro de Patrícia Abravanel, 23, filha de Silvio Santos, há cinco meses: desde então, aumentou 30% a procura pelos denominados agentes de proteção pessoal.

Não é somente o tipo de "segurado" que está mudando, o perfil dos guarda-costas também. Antes, reinava o figurino "Homens de Preto": fortes e de óculos escuros, partidários da chamada segurança ostensiva. Nos últimos anos, está fazendo escola um visual mais discreto. O guarda-costas tem que ser quase invisível, uma sombra.

"Meus seguranças jamais vão trabalhar de terno e gravata, ou óculos escuros", diz Montserrat Coelho, 53, que defende a longa convivência entre seguranças e segurados. "Uma vez escolhido, tem de ser para sempre."

A estratégia é reprovada por Wagner Giudice, 36, titular da Delegacia Anti-Sequestro de São Paulo.

"O segurança deve ser trocado de três a quatro meses. O tempo estreita a relação e acaba gerando intimidade. Isso é ruim, pois o cliente pode acabar ficando na "mão" do guarda-costas."

Além da companhia do segurança, os sequestráveis gostam de ter carros bem preparados: alto-falante, sirene e vidros blindados. Não param por aí. Para saber como agir em situações de risco, frequentam cursos anti-sequestro.

No Centro de Formação e de Aperfeiçoamento Profissional de Segurança Pires, por exemplo, três turmas de 30 pessoas (cada uma ao custo de R$ 6.000) aprendem regras básicas para tentar prevenir um sequestro.
 

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