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07/02/2002 - 05h43

Olivetto pediu bebida para disfarçar dor

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da Folha de S.Paulo

O publicitário Washington Olivetto, em seus últimos dias no cativeiro, tentou receber ""bebida forte" dos sequestradores porque acreditava que isso faria diminuir o formigamento e o mal-estar que sentia no peito.

Fez isso porque não conseguia calmantes e remédios que seu médico poderia receitar mesmo à distância, por meio dos contatos do grupo com sua família.

Em uma carta atribuída a ele, endereçada à sua mulher, Patrícia Viotti, explica o motivo do medo das dores: tinha tratado uma endocardite -inflamação das membranas do coração.

Todas as correspondências trocadas na rua Kansas, entre os vigias do cativeiro e o publicitário, serão submetidas à perícia para confirmar quem as escreveu.

O publicitário, nas cartas, disse aos sequestradores, mais de uma vez, que, se continuasse naquelas condições, teria um infarto. ""Pedi uma bebida forte ao guarda, é bom porque relaxa o formigamento no peito, mas ele não me deu", escreveu aos vigias do cativeiro, reclamando, no dia em que seria libertado pela polícia.

Olivetto passou 53 dias preso em um cubículo de 1 m por 2,5 m, sem ver a luz do sol, sem saber se era dia ou noite, ouvindo os mais variados tipos de música -de Falamansa até Madonna- e vigiado sempre por meio de um circuito interno de câmeras.

Pior do que isso, ainda teve de participar das negociações para sua libertação. Primeiro, os sequestradores pediram US$ 10 milhões. Depois, o valor foi caindo, mas o momento era de impasse quando parte da quadrilha foi presa em Serra Negra.

"Fiquei pasmo por eles não terem aceitado os US$ 3 milhões porque é grana que não acaba mais", diz o publicitário em uma carta escrita para Patrícia.

O problema é que as cartas e bilhetes não têm datas, o que dificulta a organização delas. Em uma das respostas, sempre escritas em computador, os sequestradores dizem: "Lamentavelmente, a cifra oferecida pelo senhor ainda é insuficiente para as nossas mínimas expectativas".

O próprio Olivetto oferece US$ 5 milhões. Justifica que mais do isso seria impossível conseguir.

Na carta que escreve a Patrícia, fala em "torrar a participação na agência W/Brasil", como que tentando interpretar um valor que os sequestradores passaram a ele como tendo sido oferecido por ela. "Coisa que o Javier [Gabriel Javier, sócio de Olivetto na agência] não faria", diz no texto.

Olivetto chora. Passa a maior parte do tempo escrevendo, encostado. Gasta quase todo um caderno, que deveria ter no mínimo cem páginas. Dorme em um colchão pequeno e fino, no chão.

Como que implorando a liberdade, ele escreveu aos sequestradores que a mulher, Patrícia, estaria fazendo tratamento para engravidar e que seria a última chance dela, já que vai completar 44 anos. "Não há tempo a perder", escreve.

No último dia de cativeiro, 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, Olivetto pede que a rainha dos mares abençoe a todos.
(AS)


Saiba tudo no especial sobre o sequestro de Washington Olivetto
 

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