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18/02/2002 - 06h01

SP exporta poluição para refúgios "verdes"

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MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo

Fugir da poluição de São Paulo, buscando ar puro no interior ou em áreas da própria cidade consideradas oásis em meio à "feia fumaça que apaga as estrelas", pode não ter o efeito desejado.

Pesquisa multidisciplinar realizada por estudiosos da USP (Universidade de São Paulo) mostra que os refúgios ambientais podem ser tão ou até mais poluídos que o centro da capital.

Pela ação do movimento das massas de ar, poluentes como o ozônio (O3) deslocam-se para regiões mais altas -como a serra da Cantareira e o pico do Jaraguá, respectivamente nas zonas norte e oeste da capital- e municípios num raio de até 400 km de distância -como Barueri, Embu, Campinas, Sorocaba, Tatuí e Bauru.

Nas cidades do interior que ficam a cerca de 100 km de distância da capital, até 30% da carga poluidora na atmosfera é "importada". Na Cantareira, no Jaraguá, em Barueri e Embu, as concentrações de O3 podem chegar a ser 50% mais altas que as verificadas na praça da Sé ou no vale do Anhangabaú (centro da capital).

Isso porque em cerca de 70% dos dias do ano, os ventos que atingem a Grande São Paulo são de sudeste, ou seja, vêem do litoral em direção ao interior, o que facilita o deslocamento dos poluentes para aquelas regiões.

No caso específico do ozônio, por exemplo, o transporte ocorre enquanto o poluente se forma na troposfera (camada atmosférica que fica na superfície da Terra).

Produto de uma reação química ocorrida principalmente com os óxidos de nitrogênio emitidos pelas descargas dos carros sob a ação da luz do sol, o O3 pode levar algumas horas para se constituir. Nesse meio tempo, é levado pelos ventos, que percorrem até 30 quilômetros por hora.

Essas são as primeiras conclusões do estudo "Meteorologia e Poluição Atmosférica em São Paulo", desenvolvido em conjunto pelo IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas), institutos de Química e Física da USP e o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), vinculado à Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia.

"A imagem de ir para o interior, respirar ar puro certamente nem sempre corresponde à realidade", diz Pedro Leite da Silva Dias, professor doutor do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG e coordenador da pesquisa.

O projeto, que custou cerca de US$ 500 mil à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), começou em 98 e deve ser concluído no fim do ano.

O pioneirismo do trabalho reside no fato de ele analisar simultaneamente os aspectos meteorológicos, químicos e físicos da poluição, vista como uma questão dinâmica e numa escala ampla.

E os pesquisadores dizem esperar que os resultados obtidos sirvam de subsídios à elaboração de políticas públicas para combate à poluição do ar em todo o Estado.

Segundo Dias, as consequências da "poluição transfronteiriça" são mais evidentes no inverno -estação que se aproxima-, quando o ar é mais seco, e as condições de dispersão de poluentes são piores.

Controle de emissões
"Do ponto de vista operacional, uma deficiência que temos é que a rede de monitoramento [de qualidade do ar da Cetesb, agência ambiental do governo paulista] faz medições apenas na região urbana de São Paulo. Quando se fazem medições em locais mais afastados é que se constata que as concentrações [de poluentes] lá são, de fato, altas", diz o pesquisador.

A ampliação da medição daria, segundo ele, um quadro mais real do deslocamento da poluição e ajudaria a traçar estratégias mais eficazes para combatê-la -o que passa necessariamente pela redução de emissões de poluentes principalmente por parte dos veículos e pela aplicação de soluções integradas, que ultrapassem os limites da esfera municipal.

"Na Europa foi criado um sistema de compensações pela poluição emitida porque é claro que todos os países têm sua cota. Quem ultrapassa a cota tem de arcar com as despesas do controle ou do prejuízo causado", conta Dias.

E a única forma de controlar, diz ele, é poluindo menos, já que o transporte de poluição por longas distâncias é um fenômeno natural. "Você não pode proibir os ventos de se movimentarem."

No quesito solução, Dias sustenta que a inspeção ambiental dos veículos é fundamental para reduzir os níveis dos poluentes atmosféricos. A Cetesb estima que cerca de 70% dos 6,1 milhões de carros que circulam na Grande São Paulo ainda não são ambientalmente adequados.

Segundo o Relatório de Qualidade do Ar no Estado de São Paulo de 2001, elaborado pela agência ambiental, essa frota é responsável por 76,6% da poluição atmosférica na região e pela emissão de aproximadamente 96% dos óxidos de nitrogênio, principais formadores do O3.

Previsto para se iniciar até meados de 2002 e visto também pelas autoridades ambientais do Estado e da cidade de São Paulo como crucial para a redução da poluição atmosférica, o PIV (Programa Estadual de Inspeção Veicular Ambiental), só deve sair, porém, em 2003.

Enquanto isso, os poluentes lançados diariamente no ar causam males à saúde e ao ambiente. Dentre eles, o ozônio é hoje o que mais preocupa. No ano passado, a concentração de O3 ultrapassou o padrão determinado pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), ficando num nível superior ao considerado saudável, em um a cada cinco dias.

O ozônio "ganha" dos outros poluentes: em 2001, o nível de monóxido de carbono ultrapassou o limite em cinco dias, e o de partículas inaláveis, em 22 dias.
 

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