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14/07/2000 - 20h36

Goiano escapa da pena de morte nos EUA

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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR, enviado especial da Folha de S.Paulo a Modesto

O brasileiro Wedson Rosa de Morais foi condenado à prisão perpétua por um júri de 12 pessoas em Modesto (Califórnia, costa oeste dos EUA). A outra opção dos jurados seria a pena de morte, da qual Wedson escapou porque prevaleceu a tese de que tem graves problemas mentais.

Em janeiro de 1997, o goiano matou a facadas o casal de professores aposentados Gerrald e Amelia Hunt, avós da mulher dele, a americana Jean Cardoza. As vítimas tinham 79 anos. Foram cerca de 30 facadas em cada uma das vítimas.

À corte, Wedson disse que estava "possuído por um espírito'' ao cometer os crimes. "Senti um calor vindo das pernas, uma energia, e perdi a consciência". Ele também feriu a sogra, Lois Miranda, que sobreviveu.

Numa primeira fase do processo, em março passado, o brasileiro já tinha sido considerado culpado. Faltava definir a pena.

"Estou muito aliviado, mas não posso chamar isso de vitória'', disse, ao fim do julgamento, o advogado de defesa, Nicholas Palmisano. Ele foi indicado pelo Estado, atuou de graça e teve uma relação complicada com Wedson, que não confiava nele.

A decisão, unânime como manda a lei americana, foi anunciada às 14h (18h de Brasília). Wedson não disse nada ao defensor, que estava sentado a seu lado, nem olhou para ele.

Luzinete Rosa de Morais, tia do réu, chorava na platéia, e também se dizia aliviada. Ao levantar-se para sair, foi abraçada por Lois Miranda, sogra de Wedson e filha do casal assassinado. Elas estiveram presentes a todas as sessões dos cinco dias de julgamento, mas ainda não tinham se falado.

Estratégia

A estratégia a favor de Wedson começou a se desenhar há dois meses, quando Palmisano conseguiu afastar o psicólogo que cuidava do caso. O laudo que o especialista tinha elaborado era desfavorável ao réu.

A defesa alegou que o conteúdo tinha vazado para a promotoria, e conseguiu do juiz a indicação de um novo especialista.

Foi esse segundo psicólogo, Philip Trompetter, que convenceu os jurados da doença de Wedson. Segundo ele, o brasileiro tem problemas esquizo-afetivo (desvios de personalidade agravados por crises de depressão).

Trompetter diagnosticou também o chamado distúrbio dissociativo, um mecanismo psicológico pelo qual Wedson se distancia de atos ou sentimentos que não consegue aceitar. Por exemplo, jogando num espírito a culpa pelos crimes.

"O quadro descrito por Trompetter foi confirmado quando Wedson depôs'', disse o advogado Palmisano. Numa manobra incomum, a defesa chamou o réu ao banco das testemunhas e obteve um depoimento em que Wedson se mostrou articulado, mas emocionalmente distante. Tinha chorado uma única vez, no segundo dia de julgamento, quando sua sogra depôs.

A estratégia da promotoria, que acabou derrotada, era apresentar o brasileiro como uma personalidade "manipuladora'', de alguém que só começou a mostrar sintomas de loucura depois que foi preso. O promotor, John Goold, chegou a citar livros que Wedson estava lendo, para, segundo ele, aprender como os loucos se comportam.

Diante do veredicto, Goold resignou-se: "Acredito no sistema e aceito a decisão do júri''.

Outro depoimento importante foi de Luzinete, a tia de Wedson, que o descreveu como um trabalhador, bom pai, que teve uma infância marcada por episódios de abuso sexual e de extrema violência. A defesa a considerava testemunha chave.

Wedson veio para os EUA em 1982. Casou-se com a professora Jean Cardoza e teve com ela dois filhos: Naio, 7, e Tavio, 5.

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