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02/04/2002 - 06h19

Oficial da Aeronáutica é acusado de assédio

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TALITA FIGUEIREDO
free-lance para a Folha

O segundo-sargento da Aeronáutica Alexandre de Souza Pires, 30, está preso no quartel do Pame (Parque de Material de Eletrônica da Aeronáutica), no Caju (zona norte do Rio de Janeiro), desde o dia 18 de março. Seu crime: ter auxiliado a uma de suas subordinadas a denunciar suposta violência sexual cometida por um tenente-coronel.

Segundo o documento de justificativa da prisão de 20 dias por "transgressão grave", o segundo-sargento Pires foi detido por ter causado "desconforto no âmbito familiar" do acusado e por ter tentado "tomar parte em assunto não afeto à sua pessoa".

O caso teve início no dia 17 de janeiro. De acordo com queixa prestada ao Pame e depoimento à Delegacia de Atendimento à Mulher no centro do Rio, a ex-estagiária de secretariado Paula, 18, acusa o tenente-coronel Elídio Felix da Silva Neto de, naquele dia, ter tentado estuprá-la e de ter se masturbado na sua frente após trancá-la em uma sala de xerox localizada no Parque de Material de Eletrônica da Aeronáutica.

"Ele me tocou nos seios, nádegas e mãos. Ele estava com um facão e me ameaçava. Eu disse que iria começar a gritar. Ele, então, começou a se masturbar na minha frente e, depois, me mandou limpar, o que eu não fiz", contou Paula, que pediu para não ter publicado o seu sobrenome.

Paula disse não ter denunciado o caso de início por medo de ser dispensada do estágio. "Eu estava para ser contratada e precisava do emprego", afirmou. Segundo a ex-estagiária, ela foi transferida logo depois, no dia 22 de janeiro, para o Departamento Técnico de Meteorologia (TTME), onde trabalha o segundo-sargento Pires.

Pires estava em férias e soube do caso no dia 25 de fevereiro. "A Paula me contou a história toda e eu a aconselhei a prestar queixa formal, posto que ela afirmou ter falado com o comandante do Pame e nada havia sido feito", disse o segundo-sargento.

Paula seguiu o conselho e protocolou a acusação contra o tenente-coronel no dia 27 de fevereiro. Nesse mesmo dia, também registrou ocorrência na Delegacia de Atendimento à Mulher, com denúncia de atentado violento ao pudor (constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal).

"Fui chamada a prestar depoimento no Pame no dia 6 de março. Depois fui dispensada do estágio", disse ela. O segundo-sargento Pires tentou acompanhar Paula durante seu depoimento, mas não conseguiu. Na justificativa de sua prisão, está escrito que, na hora do depoimento, ele "deveria estar cumprindo expediente, tendo usado argumentos enganosos junto a sua chefia imediata para ausentar-se do local de trabalho".

"Fui acusado de ter me ausentado do serviço. Mas a Paula pediu que a acompanhasse e meu superior, tenente Esteves, estava a par da situação e permitiu minha saída", afirmou Pires.

O segundo-sargento teme agora por sua carreira. Ele está há dez anos na Aeronáutica, onde já atuou na Divisão de Operações da Secretaria de Inteligência. Está no Pame desde 1996.

"Não fiz nada contra um oficial superior. Simplesmente orientei minha subordinada. É meu dever de cidadão não ser omisso em relação a um crime e é meu dever, como militar, dar assistência aos meus subordinados."

Paula tem audiência marcada para hoje no Ministério Público Militar. "Eu sei que corro um certo risco, por serem militares, e que o tenente-coronel pode acabar saindo inocente. Mas vou até o fim. Agora não dá mais para voltar atrás. Tenho testemunhas e eles vão ter de dizer a verdade."

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