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07/04/2002
-
09h33
JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo
M. tem 17 anos. Ela e duas outras amigas conversam, serenas, junto ao coreto do Parque do Agreste, que divide com São Lucas o ranking de bairro mais violento de Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo.
A 20 metros de distância, um grupo de sete policiais, civis e militares, revista supostos marginais, colocando-os contra uma parede e apalpando suas roupas. Buscam armas e drogas.
"Você já viu cadáver de alguém assassinado por aqui?"
A resposta de M. é corriqueira:
"Um monte. Morto de tiro e morto de facada."
A cena ocorreu por volta de 16h30 da última terça-feira. Os policiais não encontram o que procuravam. A blitz segue por outras ruas. M. e as amigas se dispersaram, cada uma para sua casa.
Vargem Grande, 32 mil habitantes, 45 km a sudoeste de São Paulo, é um dos municípios com índices elevados de criminalidade na região metropolitana. E um agravante que chama a atenção nas estatísticas da Secretaria da Segurança Pública: de 1999 para 2000, quintuplicou o número de homicídios. Passaram de três para 16 e não caíram significativamente no ano passado. Foram 14. E este ano já são dois.
A exemplo de Garulhos, Barueri, Ribeirão Preto e da própria capital, Vargem Grande é vista pelo governo do Estado como cidade em que a violência elevada está escapando ao controle.
"A coisa aqui está feia. Depois das 20h ninguém mais sai de casa. Está cheio de ladrão e toda as semanas há tiroteio", diz um homem de 43 anos que, por razões óbvias, não quis se identificar.
"Na minha casa é que eles não entram", diz outro de 44 anos, que tampouco fornece seu nome, "porque depois eles pegam a gente". Conta que reforçou seu gradeamento, comprou alarme e um cachorro bem bravo.
Do outro lado do município, a diretora de uma escola pública vacila ao tentar discorrer sobre a violência. Gagueja um pouco e desiste de dar entrevista.
Crescimento
Vargem Grande não está isolada entre pacatas montanhas. É atravessada pela rodovia Raposo Tavares. O que é uma vantagem -a população cresceu 8,3% ao ano na década passada, quando em todo o Estado o crescimento foi de só 1,8%. Mas é também uma desvantagem, porque gerou problemas a uma velocidade maior que a prefeitura e a sociedade conseguiriam resolver.
Segundo o IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade Social), indicador aplicado pela Fundação Seade para medir o bem-estar nos municípios, a renda e a longevidade em Vargem Grande são praticamente iguais à média paulista. Mas a escolaridade de sua população é bem menor.
Com isso, as 325 empresas que atuam no município e que geram 6.000 empregos formais (só um quinto da população) atuam em setores de baixa tecnologia, de valor agregado reduzido. O desemprego chega mais cedo e é maior.
A segurança pública entrou, em 1998, no debate eleitoral, quando Roque de Moraes (PL, emigrado depois para o PPS) derrotou por 639 votos o candidato do PSDB. Discutiu-se a criação de uma guarda municipal, que deve se instalar agora em junho, com 46 homens. Isso duplicaria o contingente, hoje integrado por 37 PMs e nove policiais civis.
O problema é saber se só com isso dá para baixar os 263 casos de furto, 94 de roubo e 112 de furto e roubo de veículos, registrados nos primeiros dez meses do ano passado. A prefeitura quer se contrapor ao desemprego (não há estatística) com a abertura de uma zona industrial. Mas ela só nasceria com índices nacionais de bom crescimento econômico.
Nair Maria de Lima, 57, acha que a má reputação da cidade e de alguns de seus bairros é exagerada. Mas conta com bom humor o caso de uma vizinha, costureira, que trabalhava com o transistor ligado sobre o peitoril da janela. "De repente, a música sumiu. Um ladrão tinha levado o rádio."
Solange Cavalcanti, 44, também diz não poder se queixar. Pagava aluguel em São Paulo e em Vargem Grande tem casa própria. Só pelos filhos é que é informada sobre marginais que lidam com drogas e desmanche de carros.
Os filhos dela e tantas outras crianças têm pouca opção de lazer. A cidade não tem cinema. Há três coretos e dois auditórios utilizados esporadicamente. Não há piscina pública. Esportes com bons equipamentos são praticados só nos quatro condomínios fechados que abrigam a franja da população de maior renda.
Mas as referências à violência urbana estão longe de ser uma unanimidade. Não fazem parte do consenso social. Roseli Sanches, diretora de uma escola municipal, diz que "essa fama não condiz com a verdade".
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da Folha de S.Paulo
M. tem 17 anos. Ela e duas outras amigas conversam, serenas, junto ao coreto do Parque do Agreste, que divide com São Lucas o ranking de bairro mais violento de Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo.
A 20 metros de distância, um grupo de sete policiais, civis e militares, revista supostos marginais, colocando-os contra uma parede e apalpando suas roupas. Buscam armas e drogas.
"Você já viu cadáver de alguém assassinado por aqui?"
A resposta de M. é corriqueira:
"Um monte. Morto de tiro e morto de facada."
A cena ocorreu por volta de 16h30 da última terça-feira. Os policiais não encontram o que procuravam. A blitz segue por outras ruas. M. e as amigas se dispersaram, cada uma para sua casa.
Vargem Grande, 32 mil habitantes, 45 km a sudoeste de São Paulo, é um dos municípios com índices elevados de criminalidade na região metropolitana. E um agravante que chama a atenção nas estatísticas da Secretaria da Segurança Pública: de 1999 para 2000, quintuplicou o número de homicídios. Passaram de três para 16 e não caíram significativamente no ano passado. Foram 14. E este ano já são dois.
A exemplo de Garulhos, Barueri, Ribeirão Preto e da própria capital, Vargem Grande é vista pelo governo do Estado como cidade em que a violência elevada está escapando ao controle.
"A coisa aqui está feia. Depois das 20h ninguém mais sai de casa. Está cheio de ladrão e toda as semanas há tiroteio", diz um homem de 43 anos que, por razões óbvias, não quis se identificar.
"Na minha casa é que eles não entram", diz outro de 44 anos, que tampouco fornece seu nome, "porque depois eles pegam a gente". Conta que reforçou seu gradeamento, comprou alarme e um cachorro bem bravo.
Do outro lado do município, a diretora de uma escola pública vacila ao tentar discorrer sobre a violência. Gagueja um pouco e desiste de dar entrevista.
Crescimento
Vargem Grande não está isolada entre pacatas montanhas. É atravessada pela rodovia Raposo Tavares. O que é uma vantagem -a população cresceu 8,3% ao ano na década passada, quando em todo o Estado o crescimento foi de só 1,8%. Mas é também uma desvantagem, porque gerou problemas a uma velocidade maior que a prefeitura e a sociedade conseguiriam resolver.
Segundo o IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade Social), indicador aplicado pela Fundação Seade para medir o bem-estar nos municípios, a renda e a longevidade em Vargem Grande são praticamente iguais à média paulista. Mas a escolaridade de sua população é bem menor.
Com isso, as 325 empresas que atuam no município e que geram 6.000 empregos formais (só um quinto da população) atuam em setores de baixa tecnologia, de valor agregado reduzido. O desemprego chega mais cedo e é maior.
A segurança pública entrou, em 1998, no debate eleitoral, quando Roque de Moraes (PL, emigrado depois para o PPS) derrotou por 639 votos o candidato do PSDB. Discutiu-se a criação de uma guarda municipal, que deve se instalar agora em junho, com 46 homens. Isso duplicaria o contingente, hoje integrado por 37 PMs e nove policiais civis.
O problema é saber se só com isso dá para baixar os 263 casos de furto, 94 de roubo e 112 de furto e roubo de veículos, registrados nos primeiros dez meses do ano passado. A prefeitura quer se contrapor ao desemprego (não há estatística) com a abertura de uma zona industrial. Mas ela só nasceria com índices nacionais de bom crescimento econômico.
Nair Maria de Lima, 57, acha que a má reputação da cidade e de alguns de seus bairros é exagerada. Mas conta com bom humor o caso de uma vizinha, costureira, que trabalhava com o transistor ligado sobre o peitoril da janela. "De repente, a música sumiu. Um ladrão tinha levado o rádio."
Solange Cavalcanti, 44, também diz não poder se queixar. Pagava aluguel em São Paulo e em Vargem Grande tem casa própria. Só pelos filhos é que é informada sobre marginais que lidam com drogas e desmanche de carros.
Os filhos dela e tantas outras crianças têm pouca opção de lazer. A cidade não tem cinema. Há três coretos e dois auditórios utilizados esporadicamente. Não há piscina pública. Esportes com bons equipamentos são praticados só nos quatro condomínios fechados que abrigam a franja da população de maior renda.
Mas as referências à violência urbana estão longe de ser uma unanimidade. Não fazem parte do consenso social. Roseli Sanches, diretora de uma escola municipal, diz que "essa fama não condiz com a verdade".
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