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11/04/2002 - 20h23

Bar de São Paulo proíbe beijo entre mulheres

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FÁBIO PORTELA
da Folha Online

Um casal de namoradas foi proibido de se beijar na noite de ontem (quarta-feira, 10) no bar Drosophila, no bairro da Consolação, centro de São Paulo. A dona do local disse às clientes que não queria que o bar se transformasse em um "point GLS", se referindo ao movimento de gays, lésbicas e simpatizantes.

A artista plástica Juliana Russo, 25, que estava com a namorada, diz que se sentiu vítima de preconceito.

"Foi super constrangedor. Na hora em que ela disse que nós não poderíamos nos beijar ficamos sem reação. Decidimos ir embora do lugar na mesma hora."

Juliana conta que estava no bar acompanhada de amigos esperando pela namorada, Gabriela. "Quando ela chegou, me cumprimentou com um beijo, como qualquer casal costuma fazer. Não estávamos nos agarrando ou fazendo escândalo no lugar."

A dona do local, Lilian Malta Varela, se aproximou da mesa onde as duas mulheres estavam e disse que elas não poderiam mais se beijar. Juliana e Gabriela foram embora, mas as outras pessoas que estavam na mesa foram conversar com a proprietária.

"Meus amigos foram perguntar por que ela havia feito aquilo e ela disse que não queria que o seu bar se transformasse em um 'point GLS'. Ela disse que não via problema no fato de gays ou lésbicas frequentarem o lugar, mas afirmou que não queria 'comportamentos anormais' ali", conta Juliana.

Segundo amigos das garotas, outros clientes ficaram sabendo do ocorrido e decidiram ir embora do bar na mesma hora. Cerca de 40 pessoas teriam deixado o estabelecimento.

Outro lado
Procurada pela reportagem, a gerente do Drosophila, Angela Uchôa, 47, disse que o casal de namoradas não foi advertido por causa de simples beijos, mas sim porque estava tendo um comportamento que foi considerado inadequado para o bar.

"As garotas estavam tendo um comportamento 'over', dando um beijo, como vou dizer... muito profundo e que parecia ser interminável. Além disso, elas estavam bem na entrada do bar. Se você está apaixonado, procure um lugar mais reservado para demonstrar essa paixão", afirmou Angela.

Ela diz que o bar sempre foi frequentado por gays e lésbicas, mas que a direção não quer que o local se transforme em um gueto.

"Temos o maior prazer em receber todas as tribos aqui no bar. Evitamos, inclusive, rotular ou fazer qualquer tipo de diferenciação, mas não vamos nos transformar em um bar só para gays."

Angela afirma que o pedido para o fim do beijo foi feito de forma educada, mas gerou reação violenta por parte dos amigos do casal de namoradas. "Parecia ameaça, começaram a bater no balcão e a nos ameaçar. Foi superchato, ficamos todos muito magoados."

O que diz a legislação
Apesar do protesto das namoradas, em tese a discriminação contra homossexuais ainda não é considerado crime no Brasil. Por enquanto, não há nenhuma lei que trate especificamente desse assunto, como acontece nos casos de discriminação por raça, credo ou religião.

"Se os heterossexuais têm direito de se beijar, os homossexuais também devem ter", diz Eduardo Pizza Gomes de Mello, advogado e assessor jurídico da Associação da Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) de São Paulo.

Segundo ele, a dona do estabelecimento feriu a Constituição, que proíbe qualquer tipo de discriminação. "Ela poderia ser processada até mesmo por ter causado danos morais, já que as duas moças foram até o bar como consumidoras", diz Gomes de Mello.

O advogado diz, no entanto, que a questão é complexa e tem suscitado polêmicas. "Há delegados de cidades do interior que proíbem até mesmo o beijo de heterossexuais em lugares públicos. A noção de atentado ao pudor é relativa e varia de caso a caso. Alguns podem achar que o fato de duas mulheres se beijarem é ofensivo. O pensamento é retrogrado, mas existe."

O casal de namoradas que foi proibido de se beijar no Drosophila não pretende tomar medidas judiciais contra o estabelecimento.
 

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