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10/05/2002 - 06h10

Sobreviventes de acidente de ônibus pensam em largar faculdade

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da Folha Ribeirão

"Penso em parar de estudar. Acho que vou trancar a matrícula." Esse era o pensamento do estudante de educação física Fabrício Estival Ribeiro, que sobreviveu ao acidente de anteontem com um ônibus em Rifaina (464 km de São Paulo).

Ele disse que só sobreviveu porque foi jogado para fora do ônibus durante a queda do veículo. "Foi horrível. Só vi na hora que estava descendo [a serra]. Estava todo mundo desesperado, falando que tinha acabado o freio", afirmou.

Para o estudante, a empresa Sacratur não deveria ter deixado o ônibus viajar. Ribeiro, que quebrou uma perna e apresentava escoriações no rosto e na cabeça, afirmou que, na saída de Sacramento, o ônibus já havia apresentado o problema.

Familiares de Érica Gonçalves de Mattos informaram que ela também pensa em parar de estudar por causa do acidente. "Ela já disse que ou muda para Franca ou pára de estudar. De ônibus ela não viaja mais", disse um primo.

Já para o advogado Claudinei Rezende Silva, o trajeto, feito em aproximadamente uma hora e 20 minutos, sempre foi feito com segurança. Ele estudou em Franca durante quatro anos e era amigo de muitas vítimas do acidente em Rifaina. "Foi um choque total. Fiquei sabendo por volta da 1h de hoje [ontem" e vim para Franca. Quando cheguei ao local, chovia bastante", afirmou.

Na Santa Casa, o microempresário Gilberto Guará, 43, acompanhava a internação de sua mulher, Vera de Souza Guará, uma das passageiras do ônibus. "Sempre foi uma viagem segura. Foi mesmo uma fatalidade. O motorista era muito experiente", afirmou. Vera estuda pedagogia na Unifran. Na Santa Casa, na manhã de ontem, cerca de cem pessoas buscavam informações sobre amigos e parentes.

Entre os estudantes mortos, sete eram funcionários da Prefeitura de Sacramento. "Estamos abalados", afirmou Sérgio Marcelino, diretor do departamento de obras urbanas da prefeitura, que coordenou o velório coletivo.

Luto coletivo
O comércio de Sacramento fechou ontem devido ao acidente, que provocou a morte de 20 moradores da cidade. A prefeitura decretou feriado no município.

No ginásio municipal, onde estava sendo realizado o velório de 18 das 20 vítimas, o clima de comoção era geral. Pelo menos 10 mil pessoas passaram pelo local para se despedir dos mortos.

Familiares das vítimas se reuniam em torno dos caixões, colocados lado a lado na quadra. Alguns choravam incontidamente. Um ambulatório, que foi improvisado dentro do ginásio, atendeu pelo menos 20 pessoas até as 17h30 -a maioria com problemas de pressão. Elas eram medicadas com calmantes. "Não tem explicação. A cidade inteira sente o que aconteceu", afirmou Ilson Valdo dos Santos.

"É uma coisa muito ruim. Não sei o que explicar. Quando chegam o dia e a hora da pessoa, não tem jeito", disse o pedreiro Gilberto Borges da Silva, 28, que é de Sacramento e perdeu um irmão e uma prima no acidente.

Por volta das 17h, quando o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), deixou o ginásio, havia aproximadamente 6.000 pessoas aguardando o início de uma missa.

Os corpos foram chegando aos poucos. O enterro aconteceria a partir do final da missa, ainda na noite de ontem.

"Todo mundo está triste na cidade. Todos que estavam no ônibus foram procurar uma maneira de melhorar a vida e acontece uma tragédia dessas", afirmou Paulo Pacheco. Um filho seu perdeu uma cunhada.

O pensamento em Deus era um conforto para algumas famílias, como no caso de Luís Carlos dos Santos, 36. "Não queríamos esse acidente, mas temos que pensar que Deus quis", afirmou.
 

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