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Bloco mais antigo do Carnaval de Salvador, Filhos de Gandhy participa hoje de circuito
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da Folha Online
O bloco Filhos de Gandhy participa neste domingo (22) e terça-feira (24) do Carnaval no circuito Campo Grande e na segunda-feira (23) no Barra-Ondina, em Salvador (BA). Um dos "filhos" mais ilustres do bloco é o cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil.
Na última quarta-feira, o bloco afro completou 60 anos. Ele nasceu em 18 de fevereiro de 1949, na Baixa do Sapateiro.
Inspirado na vida do líder indiano Mohandas Karamchand Gandhi, popularmente conhecido como Mahatma Gandhi, o nome do bloco adotou a letra y no lugar do i, na época, para evitar problemas por homenagear a figura do pacifista. Nesse ano, o tema do bloco, é "60 anos de paz".
Leia a cobertura completa do Carnaval 2009
Desde então, o bloco sofreu algumas transformações, cresceu --dos 40 integrantes no primeiro cortejo para 20 associados atualmente--, mas mantém uma tradição: somente homens saem no bloco.
"Eles acharam por bem que, inicialmente [época da fundação], as mulheres não deveriam participar da brincadeira com eles porque existiam "mil' divergências, que é muito comum em grupo. Depois, ao estudarem a vida de Gandhi, ficou patenteada [a ausência de mulheres] e isso ficou na entidade. Um dos seus mistérios, misticismo, dentro da associação, é exatamente isso", disse Valdemar José de Souza, 72, conhecido como Tio Souza, diretor-executivo da Associação Filhos de Gandhy e membro da entidade há 26 anos.
Mesmo sem participarem do desfile do bloco, as mulheres têm participação fundamental no bloco. Segundo Tio Souza, são elas as responsáveis pelos trajes e turbantes. Na década de 60, a diretoria da época criou o bloco das Filhas de Gandhy, que desde então tem programação própria e independente do cortejo masculino. Elas desfilam em trajes semelhantes, porém, o turbante é substituído por um arranjo branco na cabeça.
"Elas têm participação na vida da entidade. Recebem curso de formação para a confecção de turbante, entre outras atividades. Tudo é feito por elas. Todo um processo. Se os Filhos de Gandhy andam bem produzidos, se nossos lençóis são muito alvos, sem estarem encardidos, se nosso turbante é lavadinho, é graças a elas, que têm esse papel", afirmou Tio Souza.
Mudança na história
Outra mudança que mudou os rumos da existência do bloco foi a abertura, em 1996, da inscrição para associados que não necessariamente são trabalhadores braçais, autônomos ou informais, de origem simples.
O bloco Filhos de Gandhy foi criado por estivadores e desde a fundação era formado por trabalhadores do porto, camelôs, garis, operários e outros tipos de servidores liberais. Sua origem é do bloco Comendo Coentro, de 1948.
Naquele ano, os estivadores eram considerados uma classe trabalhadora privilegiada, pois as condições econômicas da época lhes favoreciam, além de não terem patrões. O Comendo Coentro saiu naquele ano em um caminhão, com vários instrumentos musicais. Os estivadores desfilaram trajados elegantemente com roupas de linho importado, chapéus do tipo Panamá e sapatos.
Um ano depois, com a política de arrocho salarial, na economia de pós-guerra, o governo interviu nos sindicatos, inclusive no dos estivadores, o que fez a renda desses trabalhadores cair consideravelmente. O Comendo Coentro não saiu às ruas devido à crise sobre os estivadores e porque eles também se recusaram a desfilar em condições inferiores. Com isso surgiu as do ano anterior. Com isso, surgiu a ideia de levar para as ruas um bloco, na época chamado de cordão.
Reunidos após assistir um filme sobre a vida de Gandhi, os estivadores decidiram homenagear o líder indiano. Enrolados em lençóis, os integrantes elaboraram trajes similares aos dos indianos, que é uma das características mais marcantes do bloco, até os dias de hoje.
"Hoje temos associados de todos os níveis e temos também um público diferenciado, que vem de outras entidades coirmãs, como os blocos de trio. No mais, o bloco continua com suas características, no azul e branco, que é chamado de "tapete branco da paz'", disse Tio Souza.
Atualmente, o bloco tem 20 mil associados, porém, somente entre 7.000 e 8.000 participam dos cortejos.
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