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23/07/2000 - 14h35

Petrobras levou 10 horas para pedir ajuda

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da Folha de S.Paulo

A Petrobras demorou mais de dez horas até pedir ajuda à Defesa Civil do Paraná para tentar contornar os estragos causados pelo vazamento de 3,939 milhões de litros de óleo cru da Refinaria Getúlio Vargas (Repar) para os rios Iguaçu e Barigui.

A demora no pedido, segundo especialistas em meio ambiente, agravou as consequências do desastre -o pior envolvendo uma empresa de petróleo no Brasil nos últimos 25 anos.

"Eles (a Petrobras) não tinham idéia das proporções do desastre e tentaram resolver sozinhos. Perdemos horas irrecuperáveis de trabalho", afirmou o coronel Luís Antônio Vieira, chefe da Defesa Civil do Paraná e coordenador-geral dos trabalhos de recuperação da área atingida pelo óleo.

O vazamento na Repar, em Araucária (a 20 km de Curitiba), ocorreu em torno das 13h15 do último domingo. Os funcionários da refinaria apenas perceberam o que havia ocorrido duas horas depois. Um dos motivos foi a série de tumultos no dia (leia texto nesta página).

Por volta das 19h30, um funcionário da Repar avisou a Defesa Civil que havia ocorrido um vazamento. "Mas está sob controle", disse o funcionário, em conversa gravada, como todas as realizadas na Defesa Civil do Paraná.

Apenas às 23h30 houve um novo telefonema. Um funcionário da Repar pediu ao coordenador de plantão da Defesa Civil o telefone da casa do governador do Paraná, Jaime Lerner. Diante da insistência para revelar o motivo, ele informou que o acidente era "muito grave".

O trabalho efetivo para conter a mancha de óleo nos rios começou na manhã seguinte.

Podia explodir

Apesar de ter tentando controlar as consequências do acidente sozinha, a Petrobras nega que tenha havido negligência.

"Num primeiro momento, não se podia pôr todo mundo trabalhando porque não se sabia se o negócio podia explodir. Você tem que fazer cálculos matemáticos e avaliar o quanto de óleo vazou realmente", disse Luiz Valente Moreira, um engenheiro químico de 42 anos, que começou a carreira na refinaria da Petrobras de São José dos Campos.

Ele disse que, por volta das 16h, já tendo noção da gravidade do acidente, comunicou o fato à prefeitura de Araucária, que lhe forneceu uma retroescavadeira para ajudar na contenção de parte do óleo vazado.
Ele disse que capitão Fábio, do Corpo de Bombeiros, acompanhou a movimentação em seu gabinete -caberia ao oficial avisar seus superiores.
"Na primeira hora do plano de contingência não se tem a mesma efetividade da 48ª hora em que 2.000 pessoas estavam trabalhando de botas e capas ordenadamente para conter o óleo", afirmou Valente Moreira.

O ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, disse que o combate ao acidente foi feito de forma correta. "Quando há tem um acidente, você quer tomar uma série de providências, que de alguma forma demoraram. No primeiro momento, você pode até ter tido uma forma não clara de como ia agir, mas a partir de determinado momento a coisa foi conduzida muito bem", afirmou.

Há denúncias de falhas também logo após o acidente. Relatório técnico da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) afirma que "não existe explicação ainda para que o vazamento não tenha sido detectado em menos tempo, pois a rotina atual exige verificação das condições de bombeio (do óleo) a cada meia hora".

Até ontem, mais da metade do óleo ainda não havia sido recuperado. Os trabalhos se concentravam no rio Iguaçu, que abastece as principais cidades da divisa com Santa Catarina.

O trabalho de recuperação do solo contaminado com óleo nem sequer começou. Segundo a Petrobras, ficaram depositados no entorno da Repar mais de 1 milhão de litros de óleo. "A recuperação de solo é muito complexa e a Petrobras não demonstrou capacidade suficiente para que se confie nela", criticou o coordenador da organização Greenpeace, Roberto Kishinami.

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