Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/07/2000 - 14h46

Ação pós-acidente no vazamento da Petrobras foi falha, diz especialista

Publicidade

da Folha de S.Paulo

A Petrobras não está preparada para lidar com vazamentos como o ocorrido domingo passado na Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), em Araucária (PR).

É o que concluiu o professor do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, Oswaldo Sevá Filho, estudioso da indústria petrolífera há dez anos e um dos autores do livro "Acidentes Industriais Ampliados", lançado este ano.

"Os rompimentos de dutos acontecem, são estatísticos. O problema é a falta de preparo da maior indústria petrolífera do país na contenção de materiais derramados", afirma Sevá Filho.

A Petrobras tem hoje 11 refinarias no país. Segundo ele, a demora na chegada do equipamento adequado para contenção da mancha de óleo no rio Iguaçu, no Paraná, é prova do despreparo da empresa e dos riscos coletivos que isso pode acarretar.

"Se um acidente nas mesmas proporções acontecesse na Replan (Refinaria do Planalto), em Paulínia, em meia hora a mancha de óleo chegaria a um primeiro reservatório de água, onde o município de Sumaré, com 200 mil habitantes, capta água", diz.

Inspeção dos dutos

Em Araucária (PR), a Petrobras colocou no rio Iguaçu o equipamento adequado para contenção do óleo somente na terça-feira, dois dias após o incidente.

Segundo Sevá Filho, vazamentos com dutos podem ocorrer, pois o material das tubulações são corroídos com o tempo e perdem espessura, diminuindo com isso a resistência à pressão.

O engenheiro critica a Petrobras por falta de transparência na política de inspeção de seus dutos.

Segundo ele, uma aparelho conhecido como "pig", que passa dentro dos tubos, registra dados sobre a geometria, deformação e espessura dos dutos.

"Não sabemos com qual frequência a Petrobras faz essa inspeção. Descobrimos casos em que, quando houve redução na espessura do duto, em vez de parar a produção por um dia todo para a troca dos tubos, a empresa diminuiu a pressão do bombeamento e deixou por isso", disse.

Riscos

Um dos maiores riscos verificados por Sevá Filho no caso do vazamento dos 4 milhões de litros de petróleo da refinaria de Araucária é a possibilidade iminente de combustão do material.

"O petróleo é como um chorume, uma composição de coisas mais leves e outras pesadas. O GLP, a gasolina, o querosene, o diesel, estão todos dentro do petróleo. Se pegarmos um barril do produto cru e jogarmos em cima de uma banheira com água, em três ou quatro dias, quase tudo já se evaporou. São todos materiais voláteis. O que não é solúvel vai para o fundo do rio como borra", afirma Sevá Filho.

No caso de Araucária, um dos grandes riscos, segundo o estudioso, é que enquanto a nata de óleo não for retirada totalmente do rio, o risco do incêndio é alto.

"Aquele produto está evaporando suas frações voláteis. Se pudéssemos ver a olho nu, observaríamos uma nuvem de hidrocarboneto volátil sobre o rio. Se alguém desinformado estiver muito próximo a um local com concentração desse produto sem dispersão e acender um cigarro, ou jogar uma bituca, ou mesmo provocar uma faisca elétrica, incendeia tudo", afirmou.

Leia mais notícias de cotidiano na Folha Online

Discuta esta notícia nos Grupos de Discussão da Folha Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página