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21/07/2002 - 08h58

Maus-tratos a animais em rodeios voltam à discussão

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MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo

A regulamentação dos rodeios no Brasil foi bastante celebrada, afinal normatiza uma atividade que gera empregos, atrai, por ano, pelo menos 36 milhões de pessoas e movimenta, só na cidade de Barretos (sede da maior festa de peão do país), R$ 30 milhões. Mas a lei do deputado Jair Meneguelli (PT-SP), sancionada quarta-feira passada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, acabou também dando novo fôlego à polêmica dos maus-tratos aos animais que participam dos eventos.

Isso porque autoriza o uso do sedém (corda que é amarrada na virilha de bois e cavalos para fazê-los saltar), que, segundo associações de proteção aos animais e alguns veterinários, trazem danos à saúde dos bichos, mas, na opinião de organizadores, amantes dos rodeios e outros especialistas, são inofensivos se bem utilizados.

A mais nova munição dessa disputa é um estudo científico em que cinco pesquisadores das áreas de veterinária e zoologia da USP (Universidade de São Paulo), Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) e Universidade Estadual de Londrina (PR) procuram provar, por meio dos sinais fisiológicos e do comportamento dos animais em rodeios, que eles sentem, sim, dor e desconforto ao usar o sedém, mesmo quando tais sensações não vêm acompanhadas por ferimentos visíveis.

A principal evidência de dor citada é a constatação fotográfica da dilatação das pupilas dos olhos dos animais de rodeios, mesmo estando eles num ambiente bastante iluminado -o que deveria levar à constrição das pupilas.

Outro indício de que o sedém causaria dor é a forma de o animal de rodeio corcovear ao ter o instrumento amarrado ao seu corpo. O que torna o show mais interessante seria, na verdade, uma tentativa de o animal se livrar do instrumento que lhe causa a dor.

Capitaneados por Irvênia Luiza de Santis Prada, titular emérita de neuroanatomia animal e professora da pós-graduação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnica da USP, os pesquisadores apontam a existência, na virilha dos animais, de estruturas nervosas específicas para captação de estímulos que provocam a dor (os algirreceptores). Como a pele nessa área é mais fina, a percepção seria ainda mais intensa.

Além disso, assim como no ser humano, a virilha dos bichos é particularmente sensível por se relacionar à presença ou vizinhança dos órgãos genitais, fundamentais para a sobrevivência da espécie e a auto-preservação.

O trabalho "Bases Metodológicas e Neurofuncionais da Avaliação de Ocorrência de Dor em Animais" está no próximo número da revista "Educação Continuada", do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, a ser distribuída até o mês que vem.

Inofensivo
Ele é contrário a uma outra pesquisa, publicada em 2000, na mesma "Educação Continuada", que relata as experiências de cinco pesquisadores da Unesp de Jaboticabal, sob coordenação do professor de patologia veterinária Orivaldo Tenório Vasconcelos, e defende ser o sedém inofensivo.

Feito a pedido e às expensas do grupo "Os Independentes", que organiza a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, o estudo, que custou US$ 40 mil (hoje cerca de R$ 114,8 mil), chegou à conclusão de que o instrumento não afeta a produção de espermatozóides.

E, para sustentar que os animais não sentem dor, descreve que, mesmo amarrados pelo sedém, os bois comeram normalmente e tentaram copular, o que não deveria ocorrer. A intensidade da amarração, entretanto, pode ser variável. Um sedém preso com muita força pode até imobilizar um animal. Se estiver frouxo, por outro lado, não causa mal.

Vasconcelos tem uma visão bem diferente em relação às causas dos coices de cavalos e bois nas arenas: cócegas. "Na minha maneira de avaliar, a região da virilha desse animais corresponde à das costelas do homem, por isso o sedém causa cócegas."

Sócio honorário de "Os Independentes" há quase dez anos e frequentador assíduo de rodeios, o professor afirma, entretanto, que a lei sancionada por FHC ainda não é perfeita.

Ele questiona a legalização do uso de esporas, mesmo sem pontas, e das provas de laço, para as quais não tem, ainda, uma defesa.
 

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