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24/07/2000 - 20h25

Adulteração da cocaína apreendida em Campinas cresce 245,4%

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MÁRIO TONOCCHI
da Folha Online, em Campinas

Uma pesquisa realizada no Instituto Médico Legal de Campinas mostra que neste ano houve aumento de 245,4% na adulteração da cocaína apreendida na cidade, em comparação com as apreensões do ano passado.

Orientado pela perita do Departamento de Farmacologia do IML, Sílvia de Oliveira Cazenave, o trabalho constatou que a contaminação é feita principalmente por lidocaína (xilocaína).

De acordo com Sílvia, professora do curso de Ciências Farmacêuticas da PUC Campinas e pós-graduada em Toxicologia pela Unicamp, há também registros de misturas com benzocaína e o medicamento Artani.

"É surpreendente o crescimento da adulteração. O trabalho mostra que o usuário está introduzindo no corpo, sem saber, substâncias tão prejudiciais quanto a própria droga", observa a professora.

O trabalho foi feito em duas etapas, analisando-se apreensões feitas em Campinas neste ano e comparando-as com os cadastros de análises feitos no ano passado, pelo próprio IML.

"Percebemos que a adulteração é crescente no decorrer do tempo. Em janeiro do ano passado, por exemplo, encontramos três casos de adulteração. Já em junho deste ano, o número subiu para 50 lotes apreendidos com adulteração", afirma.

A apreensão da droga, em Campinas, está em crescimento desde o início da década de 90. Em 91 as polícias Civil e Militar registraram 340 apreensões, passando para 779, em 95; 1.033, em 98; e 1.299 casos em 1999. Até abril deste ano foram 398 apreensões.

De acordo com a professora, o aumento na adulteração refere-se à quantidade de amostras que apresentaram mistura. O trabalho não relaciona a porcentagem de adulteração.

"Quanto a porcentagem, muitas vezes, durante o nosso trabalho diário, constatamos que a quantidade de outros componentes supera a quantidade de cocaína na amostra", diz.

O Instituto Médico Legal de Campinas é vinculado a Polícia Civil da cidade. De acordo com a polícia, o aumento na adulteração reflete apenas o artifício dos traficantes para aumentar os lucros na venda da droga.

Segundo policiais que trabalham na Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes, o aumento nas apreensões não determina o aumento nas adulterações.

Sílvia Cazenave afirma que não existe hoje como saber se a adulteração da droga aumenta o número de mortes entre os usuários. "Na maioria dos casos essas vítimas não chegam aos hospitais e acabam sendo tratadas em casa, sem registro oficial de dependência", diz a professora.

Em 98, o Centro de Controle de Intoxicação da Unicamp recebeu 42 pedidos de avaliação positiva ou não para uso de drogas. "Somente 12 casos de intoxicação aguda foram confirmados. Esses números são muito pequenos para uma avaliação que relacione a adulteração com mortes por overdose."

Saúde
Para o presidente da Comissão de Políticas Sociais e Saúde da Câmara Municipal de Campinas, o médico Dario Saadi, a mistura da lidocaína à droga traz sérios riscos para a saúde do dependente. "Além do risco da overdose nos casos em que os usuários já estão acostumados com drogas adulteradas e utilizam drogas puras, existe o risco da pneumonia química por esse uso", explica.

Segundo o médico, a utilização da lidocaína pelos traficantes, para adulterar a cocaína, é providencial. "As duas substâncias são anestésicas. Como os dependentes, geralmente, passam um pouco do produto na gengiva para comprovar a pureza, com a anestisia do local, a mistura da lidocaína passa despercebida pelos usuários."

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