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19/08/2002 - 20h12

Pelo menos cem lojas fecham a mando de traficantes no Rio

MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Pelo menos cem lojas da praça Saens Peña, a principal da Tijuca (zona norte do Rio), e de cinco ruas adjacentes foram fechadas no início da tarde por ordem de traficantes do vizinho morro do Salgueiro.

O motivo da ordem foi a morte de Ricardo Dias Lopes, 25, o Máscara, ocorrida na manhã de ontem durante tiroteio com policiais do 6º Batalhão da Polícia Militar (BPM). Máscara era gerente do tráfico na favela, segundo a PM.

O fechamento das lojas simbolizou uma homenagem ao traficante. A praça é o principal centro comercial do bairro. Muitas das lojas não reabriram.

A confusão começou por volta do meio-dia. Um grupo de 20 pessoas, a maioria mulheres, desceu o morro com paus e pedras e ameaçou os comerciantes. Caso não fechassem as portas, as lojas seriam apedrejadas. Um homem e uma mulher que integravam o bando foram presos.

A PM reforçou o policiamento no local com cerca de 120 homens. A medida não diminuiu a sensação de insegurança dos comerciantes. A maioria deles manteve as portas fechadas, até mesmo as de um shopping. Uma agência bancária também interrompeu o serviço, assim como creches e uma clínica médica.

Prejuízo
"A polícia está aqui hoje. E amanhã? Vamos ter um prejuízo de R$ 1.000 com o fechamento", disse a vendedora Renata Belles, 25, que trabalha em uma loja na praça.

O comandante do 6º Batalhão, tenente-coronel Murilo Lyra, disse que "não havia motivos para que os comerciantes permanecessem com as lojas fechadas".

A pedido de clientes, Lyra chegou a entrar na agência do Banco Real para pedir a reabertura. Ele discutiu com a gerente, que manteve o banco fechado, alegando falta de segurança.

Um comerciante que, por medo, não disse o nome, criticou a polícia. "O comandante disse que o local está seguro. Seguro deve estar na casa dele", declarou.

O Shopping 45, um dos principais do bairro, ficou com as portas parcialmente fechadas durante quase três horas. Por medo, muitos clientes não saíam para a rua.

O comandante não conseguiu convencer a gerente do lanchonete Bob's, que não quis se identificar, a abrir totalmente a loja. Ela disse que só levantaria as portas se todos fizessem o mesmo, o que não aconteceu.

Lyra afirmou que "a polícia continuará no local por dois, três, quatro dias se for preciso". O Salgueiro foi ocupado por policiais do 6º BPM, segundo ele

A presença policial na Saens Peña não inibiu os traficantes. Alguns "olheiros" passavam pelo local e continuavam ameaçando os comerciantes. "Depois que a polícia chegou, apareceram dois aqui me perguntando porque a loja permanecia aberta", afirmou a gerente do Bob's.

As duas pessoas presas foram liberadas. Eles responderão por crime de atentado contra a liberdade de trabalho. Os nomes das acusados não tinham sido revelados pela polícia até as 19h.

Truculência
Máscara foi morto por volta das 5h40 de ontem. Com ele, a polícia informou ter apreendido uma pistola e 1.500 sacolés (pequenos embrulhos) de cocaína.

Cristina Vasconcelos, 19, que disse ser prima de Máscara, acusou os policiais de truculência. "Meu primo tinha acabado de voltar de um baile e a polícia chegou atirando. A pistola que pegaram foi forjada."

Em dez dias, foi a segunda vez que parte do comércio da Tijuca é fechado por ordem de criminosos. No dia 9, cerca de 30 lojas da rua Conde de Bonfim, nas proximidades do morro da Formiga, foram fechadas em sinal de luto pela morte de Ricardo Victor dos Santos, o Cuco.
 

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