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23/08/2002 - 02h44

Ibama busca abrigo para leões sem teto

MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo

Depois de oito anos a serviço de um circo, Gaya foi abandonada por seus donos. O resultado da "vida de artista": ela não parava em pé por causa de uma forte inanição, tinha a gengiva gangrenada por tentar comer sem os dentes (que foram arrancados como medida de segurança), e uma de suas patas estava bastante infeccionada, em consequência da extirpação negligente das garras.

Recolhida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), ela engrossou, por um tempo, a lista dos 55 leões sem teto, cujo destino é incerto.

Assim como Gaya, os animais foram deixados para trás por circos, tomados de seus donos por causa de maus-tratos ou rejeitados por ex-criadores, mas não podem ir para os parques e reservas nacionais porque são considerados exóticos -não fazem parte da fauna brasileira.

Como não tem responsabilidade legal sobre os leões nem recursos para mantê-los, o Ibama tenta encontrar abrigos para eles.

"Cada leão come 5 kg de carne por dia. Por estarem com a saúde debilitada, precisam de vacinas e exames caros, como o que identifica a Aids felina. Alguns estão tão doentes, que têm de ser submetidos à eutanásia. E para isso, é preciso verba", diz Ana Maria Freire Antunes, chefe do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação de Predadores Naturais.

O problema pode ficar ainda mais sério. Tramitam atualmente no Congresso Nacional 17 projetos de lei que proíbem a exibição de animais em circos, o que pode significar, segundo cálculos de Ana Maria, pelo menos mais 120 leões e 70 tigres abandonados.

A saída adotada pelo Ibama até agora tem sido recorrer a ONGs _que quase nunca têm recursos para manter os bichos_, a zoológicos _que, quando já não estão superlotados, têm dificuldade em aceitar animais tão degradados fisicamente_ e às próprias unidades do órgão espalhadas pelo país.

Gaya teve sorte. Foi encaminhada para o Rancho dos Gnomos, uma área de 35 mil m2 na cidade de Cotia (Grande SP), que tem licença do Ibama e quer se tornar o primeiro santuário ecológico brasileiro. Lá a ex-leoa de circo se juntou aos outros quase 300 animais e a uma família de mais quatro leões e um tigre. Ela já anda normalmente, teve a gengiva suturada e a pata curada.

"Nós receberíamos todos os leões, mas manter o rancho está se tornando inviável. Temos, em planta, um projeto com toda a estrutura necessária para delimitar áreas para cada animal, mas não conseguimos tirar do papel. Poderíamos comprar uma área vizinha de 121 mil metros quadrados, mas precisamos de apoio oficial", afirma Silvia Pompeu, 40, dona do rancho que recebe bichos sem teto e maltratados pelo convívio com pessoas há 12 anos.

Além da comida fornecida pelo Carrefour e pelo grupo Pão de Açúcar, o local se mantém exclusivamente de doações e da tolerância dos credores. "Nossa conta em pet shop ultrapassa R$ 10 mil, e o total de dívidas está em cerca de R$ 60 mil", diz Silvia.

"O problema dos animais abandonados, que trazem riscos à saúde pública e à segurança das pessoas, é de todos nós, não dá para deixar tudo nas costas do Ibama, mas também não dá para o terceiro setor fazer tudo", resume a jornalista e enfermeira veterinária.

O Ibama tenta agora preparar uma minuta de projeto de lei que regulamente a figura dos santuários ecológicos, de forma que eles possam ser licenciados e ter como buscar financiamento. A idéia é apresentar o projeto à Câmara dos Deputados no início de 2003.

"Com recursos, receberíamos até tiranossauros rex!", diz Silvia.

Para conhecer melhor, ajudar o Rancho dos Gnomos ou agendar visitas, acesse o site www.ranchodosgnomos.org.br ou ligue 0/xx/11/4616-2703.
 

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