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08/09/2002 - 09h24

Morte de Toninho do PT ainda não tem motivação

MÁRIO TONOCCHI
da Folha Campinas

A dois dias de completar um ano do assassinato do prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, a Justiça ainda não sabe qual foi a motivação do crime e continua sem elementos importantes para esclarecer o caso, como a arma utilizada na morte, a confissão do único acusado vivo e a reconstituição técnica do fato.

Toninho foi morto com um tiro de pistola 9mm, às 22h15 da noite de 10 de setembro do ano passado, quando saía do shopping Iguatemi, na Vila Brandina. O crime chocou a cidade e resultou em uma investida do Estado contra a violência no município.

A Promotoria levou o caso à Justiça indicando a quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, como autora do assassinato.

No entanto, não há até hoje elementos conclusivos que apontem se o prefeito foi morto em uma circunstância banal ou foi vítima de um crime encomendado. O fato enfraquece a denúncia feita pelo Ministério Público, segundo criminalistas.

Andinho, único dos quatro acusados que não foi morto pela polícia, voltou, na semana passada, no primeiro depoimento prestado por ele à Justiça, a negar participação no assassinato.

Pela versão da Promotoria e da polícia, Toninho teria sido assassinado por quatro sequestradores da quadrilha de Andinho, incluindo o líder do bando, que fugiam de uma ação frustrada.

Para o ouvidor das polícias de São Paulo, Fermino Fecchio Filho, "a investigação não esclareceu todas as dúvidas". "Enquanto esse caso não ficar claro, a cidade não vai se conformar", disse.

Para o advogado contratado pela família de Toninho para acompanhar o caso, Márcio Thomaz Bastos, a acusação da polícia contra Andinho não deve ser considerada. "Já li todo o inquérito. Para afirmar que o crime foi cometido pelo bando de Andinho é preciso ter muita imaginação. Não se pode concluir um inquérito sem que se tenha a motivação", disse.

"A morte do prefeito de Campinas é apenas mais um número. Existem tantos outros crimes desse tipo que acabam da mesma forma, sem um bom termo de investigação", disse o presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Roberto Podval, 36.

"Da forma como está, o processo ainda está fraco e tem que ser melhor orientado na Justiça", acrescenta a criminalista Marina Pinhão Coelho.

Para o delegado do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) que comandou as investigações, Luiz Fernando Lopes Teixeira, "o importante é chegar aos autores do crime".

As conclusões da polícia, segundo Teixeira, estão baseadas em provas técnicas encontradas no decorrer das investigações.

No entanto, há diversos pontos não esclarecidos até hoje no caso. A pistola 9mm utilizada nunca foi encontrada. "Não é sempre que se encontram as armas utilizadas nos crimes", disse o delegado.

"Mesmo que não se tenha a motivação, o trabalho da polícia foi conclusivo, apontando o bando do sequestrador Andinho como autor do crime contra o prefeito. Infelizmente, é impossível entrar dentro de uma pessoa para sabermos o que aconteceu realmente naquele momento", afirmou o promotor de Justiça Fernando Viana Pereira Neto.

Segundo ele, caso apareça evidências sobre qual seria a real motivação do crime, o fato seria anexado ao inquérito mesmo que ele já tenha sido encerrado.

A família do prefeito morto não aceita até hoje as conclusões apresentadas à Justiça.

"O que mais se cobra é que o assassinato tenha sido um crime de mando, mas não existe nenhum fato no inquérito que leve a isso", disse o advogado Ralph Tórtima Stettinger, que acompanhou as investigações por oito meses, a serviço da família de Toninho.

Versões
Segundo a versão levada à Justiça pela Promotoria e pelo DHPP, Andinho, Anderson José Bastos, o Anso, Valmir Conti, o Valmirzinho, e Valdecir de Souza Moura, o Fiinho, teriam sido os autores do crime. Anso foi apontado como autor dos disparos.

No entanto, só Andinho está vivo. Os outros três foram mortos pela polícia _dois deles em uma ação suspeita de busca no litoral norte de São Paulo.

A participação da quadrilha foi apontada à polícia no depoimento do sequestrador Cristiano de Nascimento Faria. Andinho já negou por duas vezes o crime.

A versão, no entanto, não bate com a apresentada pela Polícia Civil de Campinas, que iniciou as investigações e depois foi afastada do caso.

Para a polícia de Campinas, Toninho foi assassinado por quatro rapazes, sem ligação com a quadrilha de Andinho, que tentavam um assalto. Eles confessaram o crime inicialmente, depois voltaram atrás e acabaram soltos pela Justiça por falta de provas.

O ex-delegado seccional de Campinas Osmar Porcelli, que conduziu as investigações pela polícia de Campinas, disse que não fala mais sobre o assunto.

Porcelli ainda sustenta que os quatro rapazes foram os autores do crime. "Perdi o contato com o inquérito depois que ele passou para o DHPP, mas até onde fomos, os autores do crime eram os quatro", afirmou.

Suspeita
Outro ponto do processo que ainda não foi esclarecido é a ação da polícia de Campinas em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, que resultou na morte de dois dos acusados pela morte do prefeito _Anso e Valmirzinho.

O caso é investigado pelo corregedor da Polícia Civil Francisco Gastão Luppi. Há suspeitas de queima de arquivo. "Ainda estamos esperando laudos. Não há prazo para conclusão dos trabalhos", disse o corregedor.
 

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