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14/09/2002
-
23h38
da Folha Online
"Antigamente, o preso andava com a mão para trás, de cabeça baixa e dizia 'sim senhor'. Essa realidade mudou: hoje o preso aponta o dedo na cara e proíbe o funcionário de entrar em setores em que ele predomina."
A cena descrita acima representava o cotidiano dos agentes penitenciários que trabalhavam na Casa de Detenção do Carandiru, segundo Nilson de Oliveira, presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo.
De acordo com Oliveira, nos últimos três anos, os detentos passaram a controlar o presídio, que será desativado neste domingo. Para ele, a medida do governo, que ocorre a 21 dias das eleições, tem caráter político.
"Agora vamos ter um alívio maior com a desativação do presídio. A Casa de Detenção era um local onde os presos mandavam. O funcionários não estavam podendo entrar em certos locais porque o crime organizado não deixava. Se um funcionário entrava em alguma parte da unidade, o preso simplesmente dizia que estava 'comandando' o local", diz ele.
Oliveira afirmou que o controle do presídio por parte dos presos se agravou após a megarrebelião de 18 de fevereiro de 2001, liderada pelo PCC, que atingiu 29 unidades prisionais do Estado. "Tornou-se impossível trabalhar lá, exceto para alguns funcionários que tinham relações mais íntimas com os presos."
Segundo Oliveira, a tropa de choque entrava na Casa de Detenção para realizar a revista, e, no dia seguinte, "voltava a ser tudo do mesmo jeito". Para o presidente do sindicato, a conivência de parte da direção do presídio foi fundamental para a inversão de poder.
"Os presos, de forma direta ou indireta, acabavam tendo o aval dos diretores e os funcionários sentiam medo de denunciar". Oliveira, que está afastado do serviço para colaborar com a CPI do Sistema Prisional da Assembléia Legislativa, disse que ocorrem "acordos" para evitar rebeliões. "E esse acordo é feito com os cabeças."
O presidente do sindicato afirmou que a Detenção era o símbolo do sistema prisional, tanto pelo grande número de detentos _mais de 7.000_, como pelo episódio conhecido como massacre do Carandiru. "Tudo que acontecia ali parecia que era no sistema penitenciário como um todo. Mas isso é irreal. Existem cerca de cem outras unidades prisionais em São Paulo."
"O alívio dali não significa alívio no sistema, que só pode melhorar a longo prazo", afirmou. Para ele, é necessário que o Estado assuma o controle das unidades existentes e sejam construídos presídios pequenos.
Preferindo não entrar em detalhes, Oliveira afirmou que os funcionários do sistema prisional estão inseguros. "Temos medo do crime organizado nos presídios e tememos o pós-eleição."
Leia mais notícias sobre o Carandiru
Presos comandavam o Carandiru, diz sindicato dos funcionários
MILENA BUOSIda Folha Online
"Antigamente, o preso andava com a mão para trás, de cabeça baixa e dizia 'sim senhor'. Essa realidade mudou: hoje o preso aponta o dedo na cara e proíbe o funcionário de entrar em setores em que ele predomina."
A cena descrita acima representava o cotidiano dos agentes penitenciários que trabalhavam na Casa de Detenção do Carandiru, segundo Nilson de Oliveira, presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo.
De acordo com Oliveira, nos últimos três anos, os detentos passaram a controlar o presídio, que será desativado neste domingo. Para ele, a medida do governo, que ocorre a 21 dias das eleições, tem caráter político.
"Agora vamos ter um alívio maior com a desativação do presídio. A Casa de Detenção era um local onde os presos mandavam. O funcionários não estavam podendo entrar em certos locais porque o crime organizado não deixava. Se um funcionário entrava em alguma parte da unidade, o preso simplesmente dizia que estava 'comandando' o local", diz ele.
Oliveira afirmou que o controle do presídio por parte dos presos se agravou após a megarrebelião de 18 de fevereiro de 2001, liderada pelo PCC, que atingiu 29 unidades prisionais do Estado. "Tornou-se impossível trabalhar lá, exceto para alguns funcionários que tinham relações mais íntimas com os presos."
Segundo Oliveira, a tropa de choque entrava na Casa de Detenção para realizar a revista, e, no dia seguinte, "voltava a ser tudo do mesmo jeito". Para o presidente do sindicato, a conivência de parte da direção do presídio foi fundamental para a inversão de poder.
"Os presos, de forma direta ou indireta, acabavam tendo o aval dos diretores e os funcionários sentiam medo de denunciar". Oliveira, que está afastado do serviço para colaborar com a CPI do Sistema Prisional da Assembléia Legislativa, disse que ocorrem "acordos" para evitar rebeliões. "E esse acordo é feito com os cabeças."
O presidente do sindicato afirmou que a Detenção era o símbolo do sistema prisional, tanto pelo grande número de detentos _mais de 7.000_, como pelo episódio conhecido como massacre do Carandiru. "Tudo que acontecia ali parecia que era no sistema penitenciário como um todo. Mas isso é irreal. Existem cerca de cem outras unidades prisionais em São Paulo."
"O alívio dali não significa alívio no sistema, que só pode melhorar a longo prazo", afirmou. Para ele, é necessário que o Estado assuma o controle das unidades existentes e sejam construídos presídios pequenos.
Preferindo não entrar em detalhes, Oliveira afirmou que os funcionários do sistema prisional estão inseguros. "Temos medo do crime organizado nos presídios e tememos o pós-eleição."
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