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14/09/2002 - 23h49

Filho e neto de carcereiros, funcionário "nasceu" no Carandiru

FÁBIO PORTELA
da Folha Online

Muitos funcionários do Carandiru têm a vida ligada à história do presídio, mas um deles pode dizer que é "nascido e criado" dentro da Detenção. Trata-se de Paulo Sérgio de Almeida Braga, 43.

O pai e os dois avôs de Braga também foram agentes penitenciários no Carandiru. "Tudo começou com os meus dois avôs, que eram diretores do presídio. Eles vieram morar aqui, em uma vila de funcionários que existia antigamente".

Foi na tal vila que o pai e a mãe de Braga se conheceram. "Eles se conheceram e, como o meu pai também havia se tornado agente penitenciário, continuaram morando no mesmo lugar".

"Quando eu era pequeno, vivia brincando no presídio. Jogava bola com os detentos, cortava o cabelo, aprendia a soltar pipa, tudo isso dentro do Carandiru", diz o funcionário.

Ele conta que aos 19 anos, seguiu os passos da família e se tornou carcereiro também. "Eu queria ser radialista, mas acabei passando no concurso público e resolvi ficar por aqui, mesmo".

Ao longo dos anos, Braga manteve os laços com o Carandiru e decidiu morar com sua família a apenas dois quarteirões do presídio. "Eu posso estar em casa, de folga, mas basta ouvir um barulhinho diferente que eu venho para cá para saber o que está acontecendo".

Ele diz que, apesar da ligação biográfica com o presídio, não sentirá saudades da Detenção após a desativação. "Um presídio desse tamanho não traz nada de bom. É muito difícil cuidar disso aqui".

Braga explica que qualquer tipo de ação social encontra uma infinidade de interessados, se tornando impossível atender a todos. "A carência é muito grande, é impossível ajudar 7.000 pessoas de uma só vez".

Ele diz que o trabalho dos próprios funcionários é fundamental para tentar ressocializar os presos. "É o funcionário quem 'segura' a cadeia, não é o o governo. A gente tenta fazer o máximo possível para fazer com que pelo menos algumas pessoas abandonem o crime."

O agente conta com orgulho do casamento coletivo que ele promoveu em 2000. "Foi uma cerimônia que uniu 120 casais, o maior casamento já realizado dentro de um presídio em todo o mundo".

Ele explica que medidas como essa ajudar a reintegrar o preso à sociedade. "Quem não tem família, está mais propenso a viver do crime. Boa parte dos caras que casaram se acertaram depois de saírem daqui, porque tinham alguém para conseguir apoio".

Ele diz que medidas que ajudam o preso podem ser implantadas muito mais facilmente em unidades prisionais menores. "Apesar de ser nascido e criado no Carandiru, não vou sentir saudades da Detenção.

Com a desativação do presídio, ele tenta obter uma transferência para a Penitenciária do Estado, que a exemplo do Carandiru também fica na região de Santana, na zona Norte de São Paulo.

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