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02/10/2002 - 04h45

Ameaças põem presídios de SP em alerta

ALESSANDRO SILVA
da Folha de S.Paulo

Os diretores de presídios de São Paulo foram orientados a ficar atentos a qualquer movimentação suspeita entre os presos por causa de uma série de ameaças recebidas nos últimos dias, que teriam partido do PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção criminosa que, em fevereiro de 2001, liderou a maior rebelião da história do país, tomando 29 prisões no Estado.

As notícias recolhidas pela polícia, pelo Ministério Público e pela Secretaria da Administração Penitenciária ainda são confusas: ora falam de atentado fora das prisões, ora de uma nova megarrebelião às vésperas da eleição.

"Em outras épocas também houve ameaças, que não se concretizaram. O que reforça desta vez são os dez anos do massacre do Carandiru [hoje] e o período eleitoral", disse o corregedor administrativo dos presídios de São Paulo, Clayton Alfredo Nunes.

Há dez anos, 111 presos morreram dentro da Casa de Detenção de São Paulo, no complexo do Carandiru (zona norte), após invasão da Polícia Militar para acabar com uma rebelião. Os mortos são chamados até hoje de "guerrilheiros" pela facção, que cresceu ao longo dos anos 90 e hoje domina a maior parte da população encarcerada no Estado _cerca de 108 mil detentos.

Por causa das ameaças, anteontem a Polícia Militar ocupou 31 presídios no Estado, pela terceira vez no ano, atrás de celulares, drogas e armas. Essas operações começaram em maio, após uma investigação da Polícia Civil e do Ministério Público sobre crimes que envolviam lideranças presas, envolvidas em sequestros, homicídios e atentados a bomba.

O balanço de um dia de revista: 137 celulares apreendidos, 356 estiletes, drogas, uma grade serrada no presídio de Hortolândia (na região de Campinas), um túnel de seis metros em Araraquara e outro de três metros de extensão no Centro de Detenção Provisória do Belém, na capital.

Investigação
"Estamos fazendo tudo, no âmbito do Ministério Público, para verificar a veracidade das informações", disse o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que investiga o PCC.

Nesta semana, a polícia ouviu uma pessoa ligada a integrantes do PCC, que afirmou saber de um plano de ataque da facção programado para antes da eleição.

A ordem teria sido dada por um dos fundadores da organização, José Márcio Felício, o Geleião, isolado hoje no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, o único no país onde há equipamento para bloquear celulares.

Geleião teria determinado o ataque para pressionar a Secretaria da Administração Penitenciária a retirá-lo do isolamento, com outro fundador do PCC, César Augusto Roris da Silva, o Cesinha.

Os dois foram "internados" no regime diferenciado em maio, por um período de um ano.

Eles são tidos como membros da ala "radical" do PCC, que, no início do ano, planejou e executou ações para tentar desestabilizar o governo, com atentados a bomba e disparos contra prédios públicos _fóruns e secretarias-, que feriram 16 e mataram quatro.

A nova estratégia "terrorista" surgiu no início do ano, após uma sucessão de disputas internas no comando da organização, que contrapôs seus principais líderes e acabou, em janeiro, com a morte de Misael Aparecido da Silva, o Misa, um dos seus integrantes mais antigos e importantes.

Medidas
"Nós estamos trabalhando com segurança. Já fizemos revista em 31 penitenciárias. Essa vigilância é permanente. Preso que fizer confusão vai para regime disciplinar diferenciado", disse ontem o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que não acredita na veracidade das ameaças. "Se tiver, nós vamos enfrentar", afirmou.

Os supostos avisos do PCC, feitos após o isolamento de Geleião e Cesinha, estão sendo interpretadas pelo governo como uma tentativa desesperada de voltar ao poder, o que eles só conseguiriam fora do isolamento.

Se houver rebelião, o governo deve punir os envolvidos com um "Código de Represália", um conjunto de medidas definidas em uma de março do ano passado, depois da megarrebelião. Em caso de motim, as visitas ficam automaticamente suspensas por 15 dias e os colchões destruídos não são repostos. Se as cozinhas são destruídas, os presos recebem refeições frias até a conclusão do conserto.

Para o próximo final de semana, quando ocorre a eleição, o secretário Nagashi Furukawa (Administração Penitenciária) irá manter a visita de parentes do final de semana. A secretaria considera que a suspensão do benefício poderia detonar rebeliões.
 

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