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07/10/2002 - 09h18

Baratas desencadeiam reação alérgica em alunos

CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

Estudo realizado em 15 escolas municipais de ensino fundamental da zona sul de São Paulo revela que substâncias liberadas do corpo e das fezes de baratas, misturadas à poeira, são os alérgenos mais frequentes nesses locais.

Esses agentes, que podem provocar reações alérgicas em crianças suscetíveis, foram encontrados em 83% das amostras de pó recolhidas do chão e em 85% das retiradas de cadeiras e mesas.

Também foram pesquisadas outras 15 escolas de ensino infantil e 15 creches municipais. Nas creches, onde crianças de zero a quatro anos chegam a permanecer durante 12 horas, os vilões são os ácaros e as endotoxinas (toxina liberada da parede externa de bactérias). As endotoxinas estavam presentes em todas as amostras analisadas.

Ao serem inalados, as substâncias liberadas das baratas, os ácaros e as endotoxinas podem sensibilizar ou até desencadear crises alérgicas (rinites, asma, dermatite atópica) em crianças já alérgicas.

Um estudo feito há três anos com 30 mil estudantes brasileiros mostrou que 20% deles eram alérgicos.

O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de países com maior prevalência de doenças alérgicas, perdendo para o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia e os Estados Unidos.

A pesquisa nas escolas e creches públicas, a primeira do gênero no Brasil, foi feita em 1998 como tese de doutorado da médica Vera Vagnozzi Rullo, 38, pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e deve ser publicada neste mês no "The Journal of Allergy and Clinical Immunology", uma das mais renomadas publicações internacionais sobre o assunto.

Ao todo foram analisadas 300 amostras de pó, recolhidas antes e depois das aulas. De acordo com Vera, não houve diferença significativa nos resultados dos dois tipos de amostra.

O trabalho não analisou o número de crianças alérgicas nos locais pesquisados. Os nomes das escolas e creches pesquisadas foram mantidos em sigilo.

Dedetização

Segundo Vera, uma alternativa para amenizar o problema das baratas nas escolas seria aumentar o número de dedetizações ou trocar o produto utilizado. A aplicação de inseticida nas escolas e creches ocorre apenas uma vez por ano, segundo a Secretaria Municipal da Educação.

A pesquisadora acredita que o problema não seja, necessariamente, de limpeza. "As baratas se escondem em buracos e só saem à noite. Ninguém consegue vê-las", afirma Vera.

As baratas referidas são da espécie Blatella germanica. São baratas domésticas de pequeno tamanho, cujos lugares preferidos são os azulejos quebrados, batentes de portas, armários, vãos, conduítes elétricos, encanamentos em banheiros e lavanderias.

Segundo a médica Maria Cândida Rizzo, professora do Departamento de Alergia e Imunologia da Unifesp, a pesquisa representa um "achado" por demonstrar, pela primeira vez no Brasil, que as baratas podem ser um importante alérgeno também fora dos domicílios. Para ela, o fato de isso ter sido constatado em uma escola pública é "mera coincidência". "Certamente nas escolas particulares a situação é bem parecida."

Na opinião da médica, o fechamento de ralos, a colocação de iscas para baratas e a dedetização semestral dos prédios seriam algumas das providências que o poder público poderia adotar para diminuir a incidência dos insetos.

Ácaros

Em relação à incidência de ácaros nas creches, Vera Rullo diz que não houve surpresas, já que é normal a presença desses alérgenos em vários locais, especialmente nos que concentram colchões e roupas de cama.

Os ácaros proliferam em ambientes úmidos e em altas temperaturas, sendo encontrados principalmente em colchões, travesseiros, estofados e cobertores.

Seu alimento principal é a descamação da pele humana e animal, e as suas fezes são alergênicas potentes. Segundo Vera, as recomendações são arejar os ambientes, fazer limpeza com pano úmido e revestir colchões e travesseiros com tecido impermeável.
 

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