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30/07/2000 - 10h28

Faria de Sá, o novo prefeito de São Paulo

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CHICO DE GOIS e JOÃO CARLOS DA SILVA
da Folha de S.Paulo

Desde 15 de junho, um dia após Celso Pitta retomar seu cargo, depois de 19 dias afastado do Palácio das Indústrias, o poder na prefeitura mudou de mãos. Em vez dos gestos comedidos, da fala pausada e do estilo pomposo de Pitta, entrou em cena um homem de cerca de 1m70, barriga proeminente, de gestos espalhafatosos e que faz questão de fazer barulho por onde passa.

Descendente de português (seu pai nasceu em Mogadouro) e dono de um galo de rinha como símbolo de campanha, o secretário do Governo, Arnaldo Faria de Sá, 55, passou a agir como prefeito e espalhou sua sombra por toda a administração municipal.

Em pouco tempo de conversa, o interlocutor percebe que as frases que ele usa sempre começam na primeira pessoa do singular: 'Eu vou retirar os ambulantes, eu vou limpar a cidade, eu falei que os secretários têm de atender os vereadores, eu já disse.''

Faria de Sá deixou o centro do poder em Brasília, onde ocupa há quatro legislaturas seguidas o cargo de deputado federal, para tentar 'dar governabilidade à cidade'', como definiu em uma de suas primeiras entrevistas. Em seu gabinete, ele senta na cadeira que pertenceu ao ex-prefeito Jânio Quadros.

Devido à relação próxima de Faria de Sá com o malufismo (concorreu pelo extinto PPR nas duas últimas campanhas a deputado e foi candidato a vice-prefeito de Paulo Maluf), há na Câmara de São Paulo a especulação de que a chegada dele à prefeitura teria duas razões.
Aliviar a situação de Pitta e, de quebra, impedir que a imagem negativa de sua administração atinja a campanha de Maluf (PPB) à prefeitura.

O ex-prefeito _que pediu para Faria de Sá não aceitar o cargo para não correr o risco de ter sua imagem ligada a atual administração_, Pitta e o próprio secretário de Governo negam.

Político '30 horas por dia'', como ele mesmo define, Faria de Sá manda e desmanda nas secretarias, autarquias e empresas municipais e apenas comunica ao prefeito as atitudes que tomou.

Para arquitetar tudo, ele chega diariamente à prefeitura por volta de 7h e só sai de lá às 22h. Pitta chega às 8h ou às 9h e encerra seu expediente às 20h.

Faria de Sá recebe uma romaria de pedintes em seu gabinete _de vereadores a líderes comunitários. Quando o pedido trata do asfaltamento de uma rua, de tapar um buraco ou de outro problema simples, na mesma hora dispara um telefonema para algum secretário ou subalterno e manda resolver.

Por conta disso, ganhou de seus colegas adjetivos como 'intrometido'' e 'abusado''. 'Sou um trator e, se precisar, passo por cima'', afirma.

Questionado se passou a exercer a função de prefeito, Faria de Sá desconversa. 'Eu vim para ser o gerente da cidade ou, então, um técnico do time do Pitta.''

Como técnico, ele se sente o chefe da delegação. A interlocutores mais próximos, ele deixa escapar que tem agido como se fosse o prefeito.

A cientista política da USP, Maria Victória Benevides, avalia que Faria de Sá preenche uma lacuna de homem forte deixada pelo prefeito. Pitta, no entanto, não se incomoda com a atuação de seu secretário. Diz que ele age de acordo com suas determinações. 'Só agora estou conseguindo trabalhar'', diz o prefeito.

Na semana passada, Pitta deu a entender que considera mesmo Faria de Sá uma boa aquisição. O prefeito retardou o início de uma entrevista só para ter o secretário de Governo ao seu lado.

A trajetória política de Faria de Sá mostra que não lhe falta vontade para ocupar de fato o cargo de prefeito. Ele já tentou em 1988, como candidato pelo falecido Partido da Juventude (que viria a se transformar no PRN, do ex-presidente Fernando Collor). Tentou também pelo PFL, mas a Justiça anulou a convenção do partido.

O que Faria de Sá tentou conseguir pelas urnas, ganhou por um convite. Ele faz questão de dizer que tem carta branca do prefeito e afirma que sua função na prefeitura tem sido cuidar da 'parte administrativa''. Na divisão de tarefas, Pitta ficou com os contatos políticos. A função de negociação com os vereadores sempre foi tarefa do secretário do Governo. A administração, até então, era exercida pelo prefeito.

A atuação de Faria de Sá tem deixado Pitta como coadjuvante. No dia 2 de julho, um domingo, ele convocou uma reunião com secretários e com o comandante da GCM (Guarda Civil Metropolitana), Silvio Villar.

Pitta apareceu como convidado de Faria de Sá, como ele mesmo faz questão de destacar. 'Chamei o prefeito porque achei que seria bom ele participar'', afirmou.

Logo que assumiu sua função, Faria de Sá se adiantou a Pitta e selou o destino do prefeito ao anunciar à imprensa que seu chefe não seria candidato à reeleição. A afirmação, feita à tarde, pegou todo mundo de surpresa, inclusive Pitta, que, àquele momento, ainda não havia anunciado se sairia candidato ou não.

Por conta do afobamento do secretário, Pitta, constrangido, foi obrigado a confirmar que desistira da candidatura.

Antes de aceitar o cargo, Faria de Sá tomou duas atitudes. Uma agradou Pitta. A outra o deixou irritado. Faria de Sá, na véspera de assumir a secretaria, reuniu-se com vereadores, disse que havia sido convidado para o cargo e pediu a opinião deles.

Obteve como resposta o apoio da Câmara. Os vereadores que apóiam Pitta, aliás, fazem questão de elogiá-lo. 'Ele é o cara que sabe o que um vereador precisa'', define Alan Lopes (PTB), amigo de Faria de Sá e relator do processo de impeachment que o prefeito enfrentou na Câmara.

A atitude que deixou Pitta enfurecido foi o fato de Faria de Sá ter ligado para a ex-primeira-dama Nicéa Pitta antes de assumir o cargo. Ele pediu uma trégua a Nicéa. "Liguei para avisar que estava assumindo e para dizer que estaria à disposição dela para qualquer solicitação."

O secretário de Governo de Pitta é malufista de carteirinha (também foi secretário de Esportes do ex-prefeito, mas jura que não está a serviço do candidato do PPB à prefeitura). Porém, alguns secretários afirmam, em conversas reservadas, que Faria de Sá faz pressão para colocar a máquina a serviço da candidatura Paulo Maluf, que nega qualquer relação com a gestão Pitta.

Com idéias tiradas da época do ex-prefeito Jânio Quadros e uma predisposição para criar factóides, Faria de Sá fala em dar sensação de segurança à população e retirar os ambulantes das ruas, num discurso que empolga a classe média.

Mas o mesmo homem que prega a limpeza da cidade atira bituca de cigarro pela janela do carro, além de bater as cinzas no carpete do veículo. Na semana que passou, em mais um de seus factóides, mandou retirar famílias que viviam sob os viadutos e que fabricavam casinhas de cachorro para sobreviver.

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