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03/12/2002 - 03h27

Violência faz brasileiros viverem menos

CHICO SANTOS
da Folha de S.Paulo, no Rio

O crescimento do número de mortes violentas está funcionando como um inibidor do aumento da expectativa de vida do brasileiro, especialmente do sexo masculino. Um estudo feito pelo IBGE mostrou que de 1980 a 2001 ocorreram no país 1.913.186 mortes por causas violentas. Isso fez com que a expectativa de vida da população em geral fosse, teoricamente, 1,4 ano menor do que poderia ser. Entre os homens a influência negativa é de 2,4 anos.

São consideradas pelo IBGE como mortes violentas -tecnicamente, mortes por motivos externos- todas as ocorridas por razões não-naturais, que poderiam, em tese, ser evitadas, como homicídios, suicídios, afogamentos e mortes em acidentes de trânsito.

Segundo o SUS (Sistema Único de Saúde), 68,07% das mortes não-naturais no Brasil em 99 tiveram como causas agressões (36,71%), acidentes de transportes (25,77%) e suicídios (5,59%).

"A violência já está deixando no país uma cicatriz demográfica", disse Juarez de Castro Oliveira, gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE.

O total de mortes violentas em 21 anos constatado pelo IBGE representa praticamente duas vezes a população de Campinas (SP), a 14ª cidade do país segundo o Censo de 2000 (968.172 habitantes).

Representa ainda oito vezes e meia os cerca de 226 mil vietnamitas e americanos mortos na guerra do Vietnã (1959-1973).

Distribuídas por períodos menores, significam 91.104 mortes por ano; 7.591 por mês; 253 por dia; 11 por hora; e uma a cada cinco a seis minutos. Do total de mortes violentas, 1.575.766, ou 82,4%, foram de homens, 75.036 por ano, uma a cada sete minutos.

Para o sociólogo Inácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a carência de políticas públicas, especialmente para o combate a homicídios e acidentes de trânsito, é a principal razão para os dados do IBGE. Isso, segundo ele, está, em parte, anulando ganhos obtidos em outras áreas das políticas sociais, como na saúde e na educação.

"A sociedade clama por um plano de ação articulado e eficaz. Não podemos mais ficar naquela situação de retórica sobre a questão da violência", disse Oliveira.

Melhoria
Apesar do impacto negativo das mortes violentas, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer vem crescendo. Passou de 68,6 anos em 2000 para 68,9 em 2001. Entre 1980 e 2001 a expectativa de vida no país cresceu 6,2 anos.

Os números mostram também que segue aumentando o hiato de expectativa de vida entre mulheres e homens. Em 1980, as mulheres tinham uma expectativa de vida de 66 anos. Os homens, de 59,6 anos, uma diferença de 6,4 anos. No ano passado a expectativa de vida das mulheres era de 72,9 anos, enquanto os homens tinham uma esperança de viver 65,1 anos, um hiato de 7,8 anos.

Foi o aumento dessa diferença que levou o IBGE a fazer o trabalho inédito de separar os óbitos naturais dos causados por motivos externos ao longo de 21 anos. Os técnicos queriam saber o que estava gerando o aumento da diferença de expectativas de vida entre os dois sexos.

A constatação foi que as mortes por causas violentas estão na raiz do problema. O IBGE constatou que as curvas comparativas da mortalidade por todas as causas e apenas por razões naturais são muito próximas entre as mulheres, embora tenham começado a apresentar um certo distanciamento nos últimos anos na faixa etária entre 10 e 35 anos.

Já entre os homens, as curvas apresentam uma forte separação que se acentua no período entre 15 e 35 anos de idade. Segundo os dados do IBGE, das 1.258.528 mortes por causas violentas, ou externas, ocorridas no país de 1980 a 2001 entre pessoas de 10 a 39 anos, 85,6% ocorreram entre pessoas do sexo masculino.

Outro dado mostrado pelo instituto revela que, na faixa entre 20 e 24 anos a mortalidade masculina era, no ano 2000, três vezes e meia maior que a feminina. Os dados revelam que a diferença vem crescendo. Em 1991 a diferença era ligeiramente superior a três vezes. Também nas faixas etárias entre 15 e 19 anos e entre 25 e 29 anos a mortalidade masculina é superior três vezes à feminina.

Outro exercício feito pelos técnicos do IBGE constatou que o percentual de mortes masculinas em relação ao total de mortes por causas externas do país saltou de 8,54% para 15,90% entre os homens, de 1974 a 2000. Já entre as mulheres, a variação no período foi de 3,52% para 4,41%.

Se a comparação for apenas entre pessoas de 15 anos a 29 anos, os números são ainda mais dramáticos. Entre os homens, a participação das mortes por causas externas pula de 39,89% em 1974 para 65,78% em 2000. No sexo feminino, também há crescimento, mas bem menor: de 16,49% para 29,01% do total de mortes no mesmo período.

O cálculo da expectativa de vida serve para que o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) corrija os cálculos das aposentadorias. Quando a expectativa de vida sobe, o valor das aposentadorias futuras cai. Até ontem à noite o INSS não havia calculado o índice da revisão a ser feita.
 

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