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28/12/2002 - 04h01

Brasil quase elimina sua porção Paquistão

EDNEY CIELICI
da Folha de S.Paulo

Se olharmos pelas lentes do IDH, indicador internacionalmente usado pela ONU para medir o desenvolvimento humano, o Brasil teve uma mudança significativa de perfil em nove anos.

Em 1991, 8,5% da população brasileira (12,5 milhões) vivia em municípios em que o índice é considerado baixo, ou seja, com um padrão igual ou inferior ao de um país como o Paquistão. Em 2000, as pessoas que viviam em municípios nessas condições somavam apenas 0,2% (250 mil).

Em contrapartida, a porção dos brasileiros que viviam em áreas de IDH alto mais que triplicou no período. Em 1991, 10,8% habitavam cidades de padrão alto. Em 2000, o número chegou a 37,2%.

Em 1991, nenhum Estado apresentava o indicador igual ou superior a 0,800 (marca de alto IDH). Em 2000, Distrito Federal, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro passaram a liderar o ranking nacional, dentro da faixa mais alta.

Os dados, referentes a um período que engloba os governos Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, fazem parte do Novo Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil _projeto do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), da Fundação João Pinheiro e do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), com apoio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O atlas utiliza uma forma adaptada do indicador do IDH da ONU, o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). O levantamento tem uma metodologia nova e não deve ser confundido com o divulgado em 98, em que o RS liderava o ranking.

No período, o Brasil como um todo apresentou evolução dentro da faixa média do IDH-M. Saiu de uma posição próxima à ocupada hoje por El Salvador e pela Guiana (0,709) para uma abaixo da Venezuela (0,764) _o que significa um avanço de 0,055.

O IDH varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total).

É claro que podem existir bolsões de pobreza dentro de um município em que o IDH é alto. Por exemplo, a cidade de São Paulo tem o IDH de 0,841. A capital paulista está abaixo da Argentina e acima da Hungria no ranking mundial. Mas um indicador de desenvolvimento expressa uma média _e é obvio que existem áreas de exclusão social na cidade.

Por que melhorou

O indicador de desenvolvimento humano engloba três aspectos: educação, renda e longevidade. Segundo a pesquisa, 61% do aumento do IDH-M no país deveu-se a melhoras na educação; 26%, à renda; e 13%, à longevidade.

No que se refere à educação, o grande avanço é explicado pelo aumento da taxa de alfabetização no período (de 81,9% para 86,4%, na população acima de 15 anos) e pela taxa de frequência escolar (de 63,6% para 79,9%).

Maria Luiza Marques, coordenadora do atlas, explica que o indicador não capta aspectos importantes, como a qualidade do ensino e a defasagem idade-série. O índice revela que, paralelamente à queda do analfabetismo, houve aumento do acesso à educação.

O aspecto renda, segundo a coordenadora, é o mais difícil de analisar, pois causa impactos diferenciados no municípios. No que toca à longevidade, destaca-se o aumento da expectativa de vida ao nascer (de 66,8 para 68,1 anos).

Distâncias

Os Estados que registram maiores avanços na escala de IDH-M foram o Ceará (de 0,597 para 0,699, + 0,102), Alagoas (de 0,535 para 0,633, + 0,098) e o Maranhão (de 0,551 para 0,647, + 0,096). São Estados com indicadores comparativamente mais baixos. Alagoas, apesar dos avanços, permaneceu na última posição no ranking.

Em contrapartida, alguns dos Estados que menos cresceram ocupam posições altas: São Paulo (0,773 para 0,814, + 0,041) e Distrito Federal (de 0,798 para 0,844, + 0,046). Isso reflete uma constatação destacada pelos pesquisadores: é mais difícil crescer a partir de um patamar mais alto do que de um mais baixo, em que medidas mais elementares no campo da educação e da saúde, por exemplo, podem ter um grande efeito no indicador.

O Estado brasileiro que subiu mais posições do ranking do IDH-M foi o Ceará (quatro), seguido de Mato Grosso (três). Os que mais perderam posições foram Roraima (cinco), Amazonas (três) e Acre (três).

A distância comparativa entre o melhor e pior Estado caiu de 33%, em 1991, para 25%, em 2000.

No levantamento de 2000, o melhor município foi São Caetano do Sul (SP), com 0,919. O pior, Manari (PE), teve 0,467. A distância entre os dois é de 49%.

Entre as capitais, Florianópolis foi a melhor, com 0,881. A pior, Campo Grande, teve 0,547. A distância entre as duas é de 38%.

O atlas permite também captar a diferença de IDH-M entre brancos e negros. Em 91, ela era de 18%. Em 2000, caiu para 14%.



 

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