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04/08/2000
-
18h33
FABIANE LEITE
da Folha Online
Três integrantes da comissão de sindicância da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) que investiga acidente com trens da companhia são funcionários que poderão ser responsabilizados pela tragédia.
No acidente, ocorrido na sexta-feira passada (28)dois trens se chocaram na estação de Perus da CPTM, na região noroeste de São Paulo, matando 9 pessoas e ferindo outras 105.
Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de São Paulo, quatro pessoas que fazem parte da comissão comandam áreas que podem ter parcela de responsabilidade no acidente. Eles são: José Luiz Lavorente, superintendente de manutenção, Nilton Roberto Herculin, superintendente de operações e Arnaldo Pinto Coelho, superintendente de engenharia.
Também faz parte da comissão o advogado Sain'Clair Mora Júnior.
O sindicato vem acompanhando, por meio de seus diretores, os trabalhos da comissão. Isso porque um acordo coletivo da categoria permite que funcionários envolvidos em sindicâncias tenham a companhia de membros do sindicato durante depoimentos, caso desejem.
O presidente do sindicato, o engenheiro José Mendes Botelho, 58, acusa a comissão de dirigir perguntas para "jogar a culpa" do acidente sobre funcionários de menor nível hierárquico. Ele diz que três dos quatro integrantes da comissão são "suspeitos" de contribuir para o acidente e que não deveriam fazer parte da investigação.
"Não diria que estas pessoas não têm competência, mas podem vir a ser responsabilizadas. São até suspeitas porque são os chefes dos serviços que podem ser responsáveis pela ocorrência do acidente. Eu particularmente, se fosse chefe, me julgaria suspeito", disse Botelho em entrevista nesta tarde na sede do sindicato, no centro de São Paulo.
O presidente, que dirige o sindicato há 18 anos, foi deputado federal por São Paulo por 12 anos e vereador da cidade por seis anos. Ele foi filiado ao PT e ao extinto MDB, mas não é candidato nestas eleições.
O sindicato, que tem um século de existência, segundo o presidente, tem 2.800 sócios, que corresponderiam a 80% dos funcionários sindicalizados da CPTM.
Segundo a assessoria de imprensa da CPTM, os membros da comissão foram designados por qualificação profissional e técnica . De acordo com a assessoria, foram buscadas pessoas que entendessem dos setores envolvidos no acidente. A assessoria informou que se a direção da companhia não ficar satisfeita com o resultado dos trabalhos da comissão, poderá pedir nova apuração.
A reportagem pediu para falar com os membros da comissão, mas a assessoria informou que eles estão muito ocupados com as investigações.
O presidente do sindicato diz ainda que os participantes da comissão conhecem pouco a linha "A" _ que liga o bairro Barra Funda, na zona oeste da cidade, ao município de Francisco Morato, na Grande São Paulo _, onde ocorreu o acidente.
Mais fraco
"Vai cair a culpa em cima do maquinista", disse o presidente. "Todo acidente, até hoje, cai no mais fraco. Teve culpa a direção, porque aplicou mal o dinheiro do Estado", afirmou.
O acidente também está sendo investigado pela polícia, cujos trabalhos são acompanhados por promotores criminais. Há ainda apurações de promotores de Justiça do Consumidor e da promotoria de Acidentes de Trabalho do Ministério Público do Estado de São Paulo
Segundo Botelho, o acidente ocorreu porque um dos trens, o de número 127, que acabou colidindo com outro que estava parado na estação de Perus, não foi removido rapidamente depois de problemas na rede elétrica que fizeram o veículo parar.
Para Botelho, isto ocorreu por uma falha de procedimento, e não do maquinista. O freio da composição, pneumático, perdeu a eficácia porque o bombeamento de ar foi paralisado pela falta de luz. O trem também não tinha calços, apesar de haver norma de segurança da CPTM determinando que haja calços manuais em todos seus veículos. Além disto, o trem estava em área de declive, considerado o maior de toda a rede ferroviária paulista, disse Botelho.
"Não há um freio suficiente para segurar um trem em declive e sem energia."
Segundo o presidente, qualquer engenheiro da companhia deveria saber que, nesta situação, o trem tinha de ser removido imediatamente antes que os freios perdessem a eficácia. "O acidente só ocorreu porque houve falha técnico-operacional por parte de quem comanda o tráfego na ferrovia."
Além disso, diz o presidente, a rede elétrica da linha em que ocorreu o acidente tem registro seguido de avarias, em número maior do que em outras linhas.
A assessoria de imprensa da CPTM informou que as causas do acidente não serão comentadas até o fim das investigações. Ontem, o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Cláudio de Senna Frederico, disse que acredita que a falta de calços manuais para o trem é provavelmente o principal motivo do acidente.
Clique aqui para ler mais notícias sobre o acidente em Perus na Folha Online.
Leia o artigo de Eleonora de Lucenasobre o assunto na Pensata
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Comissão que investiga acidente da CPTM é suspeita, diz sindicato
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Três integrantes da comissão de sindicância da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) que investiga acidente com trens da companhia são funcionários que poderão ser responsabilizados pela tragédia.
No acidente, ocorrido na sexta-feira passada (28)dois trens se chocaram na estação de Perus da CPTM, na região noroeste de São Paulo, matando 9 pessoas e ferindo outras 105.
Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de São Paulo, quatro pessoas que fazem parte da comissão comandam áreas que podem ter parcela de responsabilidade no acidente. Eles são: José Luiz Lavorente, superintendente de manutenção, Nilton Roberto Herculin, superintendente de operações e Arnaldo Pinto Coelho, superintendente de engenharia.
Também faz parte da comissão o advogado Sain'Clair Mora Júnior.
O sindicato vem acompanhando, por meio de seus diretores, os trabalhos da comissão. Isso porque um acordo coletivo da categoria permite que funcionários envolvidos em sindicâncias tenham a companhia de membros do sindicato durante depoimentos, caso desejem.
O presidente do sindicato, o engenheiro José Mendes Botelho, 58, acusa a comissão de dirigir perguntas para "jogar a culpa" do acidente sobre funcionários de menor nível hierárquico. Ele diz que três dos quatro integrantes da comissão são "suspeitos" de contribuir para o acidente e que não deveriam fazer parte da investigação.
"Não diria que estas pessoas não têm competência, mas podem vir a ser responsabilizadas. São até suspeitas porque são os chefes dos serviços que podem ser responsáveis pela ocorrência do acidente. Eu particularmente, se fosse chefe, me julgaria suspeito", disse Botelho em entrevista nesta tarde na sede do sindicato, no centro de São Paulo.
O presidente, que dirige o sindicato há 18 anos, foi deputado federal por São Paulo por 12 anos e vereador da cidade por seis anos. Ele foi filiado ao PT e ao extinto MDB, mas não é candidato nestas eleições.
O sindicato, que tem um século de existência, segundo o presidente, tem 2.800 sócios, que corresponderiam a 80% dos funcionários sindicalizados da CPTM.
Segundo a assessoria de imprensa da CPTM, os membros da comissão foram designados por qualificação profissional e técnica . De acordo com a assessoria, foram buscadas pessoas que entendessem dos setores envolvidos no acidente. A assessoria informou que se a direção da companhia não ficar satisfeita com o resultado dos trabalhos da comissão, poderá pedir nova apuração.
A reportagem pediu para falar com os membros da comissão, mas a assessoria informou que eles estão muito ocupados com as investigações.
O presidente do sindicato diz ainda que os participantes da comissão conhecem pouco a linha "A" _ que liga o bairro Barra Funda, na zona oeste da cidade, ao município de Francisco Morato, na Grande São Paulo _, onde ocorreu o acidente.
Mais fraco
"Vai cair a culpa em cima do maquinista", disse o presidente. "Todo acidente, até hoje, cai no mais fraco. Teve culpa a direção, porque aplicou mal o dinheiro do Estado", afirmou.
O acidente também está sendo investigado pela polícia, cujos trabalhos são acompanhados por promotores criminais. Há ainda apurações de promotores de Justiça do Consumidor e da promotoria de Acidentes de Trabalho do Ministério Público do Estado de São Paulo
Segundo Botelho, o acidente ocorreu porque um dos trens, o de número 127, que acabou colidindo com outro que estava parado na estação de Perus, não foi removido rapidamente depois de problemas na rede elétrica que fizeram o veículo parar.
Para Botelho, isto ocorreu por uma falha de procedimento, e não do maquinista. O freio da composição, pneumático, perdeu a eficácia porque o bombeamento de ar foi paralisado pela falta de luz. O trem também não tinha calços, apesar de haver norma de segurança da CPTM determinando que haja calços manuais em todos seus veículos. Além disto, o trem estava em área de declive, considerado o maior de toda a rede ferroviária paulista, disse Botelho.
"Não há um freio suficiente para segurar um trem em declive e sem energia."
Segundo o presidente, qualquer engenheiro da companhia deveria saber que, nesta situação, o trem tinha de ser removido imediatamente antes que os freios perdessem a eficácia. "O acidente só ocorreu porque houve falha técnico-operacional por parte de quem comanda o tráfego na ferrovia."
Além disso, diz o presidente, a rede elétrica da linha em que ocorreu o acidente tem registro seguido de avarias, em número maior do que em outras linhas.
A assessoria de imprensa da CPTM informou que as causas do acidente não serão comentadas até o fim das investigações. Ontem, o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Cláudio de Senna Frederico, disse que acredita que a falta de calços manuais para o trem é provavelmente o principal motivo do acidente.
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